Lagarde à espera de “abrandamento substancial” da economia no final do ano

Apesar de reconhecer cenário económico sombrio, presidente do BCE quer que “os actores económicos percebam que o BCE está determinado a trazer a inflação de volta aos 2%”.

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Christine Lagarde, presidente do BCE, na conferência de imprensa Reuters/KAI PFAFFENBACH

Depois de anunciar a maior subida de taxas de juro alguma vez feita pelo BCE, Christine Lagarde traçou esta quinta-feira um cenário sombrio para a economia europeia durante os próximos meses, com a zona euro a ser afectada, para além do efeito da subida dos juros, pelas perturbações nos fornecimentos de gás e pelo efeito da inflação nos consumidores e nas empresas.

Na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio da decisão da subida das taxas de juro de referência do Banco Central Europeu (BCE) em 0,75 pontos percentuais, a presidente da autoridade monetária da zona euro fez questão de mostrar a sua determinação em combater a escalada da inflação e de antecipar a possibilidade de mais duas a quatro novas subidas de taxas de juro nos próximos meses. Mas reconheceu, ao ao mesmo tempo, que tal poderá ser um dos factores a contribuir para a fase de abrandamento forte da economia em que a zona euro já está a entrar.

“Estamos à espera que a economia abrande substancialmente durante o resto do ano”, afirmou esta quinta-feira Christine Lagarde, que assinalou ainda que tal irá conduzir “a alguma subida do desemprego”.

A presidente do BCE apontou quatro causas principais para o abrandamento esperado na economia. A primeira é a elevada inflação, “reforçada pelas disrupções no fornecimento de gás”, que “afecta o consumo e a produção em toda economia”. Depois, assinala Lagarde, “a forte recuperação da procura por serviços, que veio com a reabertura da economia, irá perder fulgor nos próximos meses”, um factor capaz de afectar particularmente economias como a portuguesa que têm um peso muito importante das exportações de serviços, como o turismo.

A terceira razão apontada para o abrandamento económico é o abrandamento da procura global dirigida à zona euro, numa altura em que os vários bancos centrais mundiais estão a fazer o mesmo que o BCE: a subir taxas de juro. E, por fim, Lagarde assinalou também que “a incerteza permanece alta e a confiança está a cair rapidamente”.

Nas suas novas previsões para a economia, também divulgadas esta quinta-feira, o BCE até reviu em alta a previsão de crescimento do PIB na zona euro para este ano, de 2,8% para 3,1%, mas passou a projectar um crescimento de apenas 0,9% em 2023, em vez dos 2,1% esperados em Junho.

E Christine Lagarde fez questão de lembrar que estas previsões são as do cenário base e que podem registar-se desenvolvimentos que afundem bastante mais a economia. “No cenário base, não prevemos uma taxa de crescimento negative em 2023, mas no cenário mais adverso sim. Esse cenário inclui em particular uma paragem total do fornecimento de gás russo”, disse a presidente do banco central.

É nesta conjuntura difícil e incerta para a economia que o BCE decidiu acelerar a subida das taxas de juro, algo que tem como consequência inevitável um ritmo de actividade económica mais baixo. A inflação alta, explicou Lagarde, é o motivo por trás da decisão, que foi unânime dentro do banco central.

“Temos números de inflação incrivelmente altos, não estamos em linha com os objectivos e temos de agir”, disse, deixando um aviso a quem ainda possa ter dúvidas quanto à determinação da autoridade: “Queremos que os actores económicos percebam que o BCE está determinado a trazer a inflação de volta aos 2%”.

A forma como planeia fazê-lo, para além das subidas de taxas já realizadas (de 0,5 pontos percentuais em Julho e de 0,75 pontos em Setembro), sinalizou Lagarde, é através da realização de novas subidas em “diversas futuras reuniões”. O que é que isto significa? A presidente do BCE ajudou, definindo um intervalo: “Bem, podem ser mais do que duas subidas, incluindo esta, mas provavelmente também serão menos do que cinco. Deixo para vocês a decisão sobre se serão duas, três ou quatro”, disse Lagarde, não dando mais pistas sobre, por exemplo, a dimensão dessas subidas.

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