A urgência colectiva para onde, com a ajuda de Homero, nos guia Christiane Jatahy

Segunda parte do díptico A Nossa Odisseia — O Agora Que Demora coloca-nos perante uma impressionante travessia entre a Palestina e o Brasil, a partir do exemplo de Ulisses narrado por Homero. No Teatro São Luiz, de 14 a 18 de Setembro, entre o cinema e o teatro, entre a realidade e a ficção, entre o passado e o presente, as odisseias de hoje fazem-se escutar.

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LM Miguel Manso - 27 abril 2018 - PORTUGAL, Lisboa - Christiane Jatahy, encenadora brasileira, no Teatro Nacional Dona Maria II Miguel Manso

Na altura em que a encenadora brasileira Christiane Jatahy começou a pensar no díptico A Nossa Odisseia, sabia que queria tomar o exemplo da viagem de Ulisses no seu demorado e atribulado regresso a Ítaca. Depois do fim da Guerra de Tróia, o caminho de volta a casa, e onde o esperava Penélope, levar-lhe-ia dez anos. À chegada, claro, Ítaca não era a mesma, Penélope não era a mesma, Ulisses não era o mesmo. Jatahy queria inspirar-se na Odisseia, o fundacional poema épico de Homero, mas para falar do presente. De como quase três mil anos entre os dois tempos históricos não deixaram a humanidade mais próxima de encontrar os seus caminhos de volta, não levaram a que as atribulações nas viagens por mar dos refugiados tivessem desfechos menos trágicos (Ulisses seria o único sobrevivente da expedição). Mas aquilo que Jatahy não sabia ainda, quando se propôs trabalhar esta viagem em duas peças, era que a travessia pelo mundo em direcção a casa – no seu caso, ao Brasil – também a levaria a encontrar um país diferente, onde talvez já não pudesse reconhecer-se. Um país onde Bolsonaro fora eleito, um país rasgado ao meio.

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