A pé, de bicicleta, no copo: à descoberta do território de Basto

Já são cinco as gerações que dão continuidade ao legado da Quinta da Raza. Mais do que vinhos, há todo um território para explorar e sentir. Juntamente com a Por’Trilhos, percebe-se o contexto e vive-se o todo de Basto.

passeios,iniciativas-publico,celorico-basto,mondim-basto,enoturismo,vinhos,
Fotogaleria
A parceria entre a Quinta da Raza e a Por'Trilhos inclui passeios de bicicleta entre as vinhas Rui Oliveira
passeios,iniciativas-publico,celorico-basto,mondim-basto,enoturismo,vinhos,
Fotogaleria
passeios,iniciativas-publico,celorico-basto,mondim-basto,enoturismo,vinhos,
Fotogaleria
passeios,iniciativas-publico,celorico-basto,mondim-basto,enoturismo,vinhos,
Fotogaleria

A vindima começou e são cerca de 50 os hectares de vinha que rodeiam a Quinta da Raza. Se a força dependesse da vista, não seria trabalho duro, com o Monte Farinha e a Senhora da Graça a completarem a paisagem. “Aqui, respira-se vinho”, Davide Vieira, anfitrião na Raza, disse-o mas não precisava de o verbalizar. Estamos em terras de Basto, “as pessoas são muito acolhedoras, gostam de receber, dão o seu melhor”, explicou Diogo Teixeira Coelho, herdeiro de cinco gerações de cultura da terra e do vinho. É uma característica importante, que se nota no orgulho que transmitem ao receber como se recebe em casa.

“Gosto imenso da palavra ‘território’ porque tudo isto [paisagem, vinhos] faz parte do nosso território.” Foi do avô que Diogo herdou, aos 18 anos, as rédeas da quinta. O amor pela vinha, pelo vinho, pela agricultura, por Basto, foi crescendo ao longo dos anos. Desde 2020, a Quinta da Raza começou a oferecer outras experiências para além dos vinhos e das provas, para mostrar a riqueza natural, tão presente e tão influente no vinho e na própria gastronomia.

Foto
“Gosto imenso da palavra ‘território’ porque tudo isto faz parte do nosso território”, resume Diogo Teixeira Coelho, que, aos 18 anos, herdou do avô as rédeas da Quinta da Raza. Rui Oliveira

Tempo de sentir a natureza

Carla Costa e Fernando Portilho nasceram e cresceram em Mondim de Basto. Apesar de nunca terem perdido a ligação à terra, durante anos viveram no corre-corre da cidade – sempre com vontade de voltar às origens e abrandar o ritmo. Acabou por acontecer em 2018, voltaram a Mondim, recuperaram a casa do bisavô de Carla, começaram a pensar no que fazer. A Por’Trilhos surgiu naturalmente, com a ideia de trilho duplamente presente: nos percursos pedestres, mas também “como algo metafórico”, admite Carla. A ideia de explorar diferentes possibilidades, de acordo com os interesses de cada um, acaba por ser o cerne das experiências que organizam.

Ainda antes da pandemia – que reavivou o gosto do público pelo contacto com a terra – lançaram o Trilho do Pastor e o Trilho da Maronesa, ambos pensados com o especial cuidado de dar a conhecer a cabra bravia e a vaca maronesa, raças autóctones e essenciais para a manutenção dos terrenos e do equilíbrio do ecossistema. Fazer um percurso acompanhado por um pastor, aprender sobre as espécies, ter este tipo de contacto com a natureza, são experiências que transmitem da melhor e mais pura forma a envolvente. A Por’Trilhos promete momentos únicos com guias locais” e não podia ter uma assinatura mais fiel ao que oferecem. Mas é mais do que isso: Tudo o que fazemos é em prol da valorização dos locais, das raças, gastronomia e vinhos”, explica Carla. “Mostrar estes sítios” e explicar a paisagem “é uma forma de valorizar a região”, acreditam. Senti-me de missão cumprida”, recorda, “quando os próprios nativos começaram a valorizar” um património que, até há pouco, não acreditavam que merecesse grande atenção de quem vem de fora.

Prova de vinhos na Quinta da Raza Rui Oliveira
Vinhas da Quinta da Raza Rui Oliveira
Prova de vinhos com petiscos, na Quinta da Raza Rui Oliveira
Fotogaleria
Prova de vinhos na Quinta da Raza Rui Oliveira

Conhecer os vinhos de Basto, conhecer a região

“Quem procura experiências de enoturismo também procura conhecer a envolvente.” Carla sabe-o e Diogo, da Quinta da Raza, também: “Os passos devem ser dados de mãos dadas, devagarinho.” Podem demorar mais tempo, mas o importante “é fazer bem”, acreditam. “Estamos numa ‘concha’, rodeada pelo Marão, pelo Alvão, pela Serra do Barroso, com o Tâmega a correr aos pés”, descreve Diogo. Tudo isso influencia os vinhos, tudo isso deve ser explicado e explorado. Pode chegar-se à Raza de bicicleta e voltar a Mondim entre vinhas e a ecopista do Tâmega. Na visita em si, a pausa contemplativa e degustativa com direito a vista de 360 graus no terraço complementam a materialização dos ideais de bem receber dos dois parceiros.

Voltando à Quinta da Raza, é importante destacar que o intuito das visitas é dar a conhecer os vinhos e que [os visitantes] passem um bom bocado”, introduz Davide. No portefólio de vinhos, mantém-se a tradição, com o tinto pisado em lagar de granito, nota-se um especial cuidado com a azal, “casta-rainha” da sub-região de Basto, e a vontade de recuperar castas antigas. Há quase 20 anos que a padeiro, casta tinta cuja polpa é clara, dá corpo ao rosé. O mesmo está agora a acontecer com a gouveio, que em 2000, por sugestão da Comissão dos Vinhos Verdes, voltaram a cultivar. É impossível não referenciar também os pét-nat, “vinhos de memória”, naturais, que ficam na garrafa para segunda fermentação. Até o próprio rótulo merece atenção, com ilustrações de insectos que ajudam a manter a saúde das vinhas. Acabam por expressar o posicionamento da Quinta da Raza ao não descurar as tradições, olhando para o futuro com ambição sustentada.


Este artigo foi publicado no n.º 6 da revista Singular.

Sugerir correcção
Comentar