Socialite em Nápoles acusada de ser espia russa

Equipa de investigação diz que designer de jóias peruana era afinal agente russa – em Nápoles, onde está o comando conjunto das forças aliadas da NATO.

Foto
As bandeiras da Rússia e da NATO, vistas através de um vidro partido Reuters/DADO RUVIC

Uma equipa de investigadores da Bellingcat, em conjunto com vários meios de comunicação, incluindo o diário La Repubblica em Itália ou a revista Der Spiegel na Alemanha, descobriu que uma designer de jóias peruana era, na verdade, uma agente dos serviços secretos russos.

Maria Adela Kuhfeldt Rivera era o nome da agente, que dizia ser filha de pai alemão e mãe peruana, nascida em Callo, no Peru, e que, dizia, fora abandonada pela mãe em Moscovo durante os Jogos Olímpicos de 1980. “Rivera” viveu entre Roma, Malta e Paris e acabou por se mudar para Nápoles em 2013. Era uma agente de um grupo conhecido como “ilegais”, que agem como estrangeiros e por vezes mantém a identidade falsa durante décadas, o que torna mais difícil serem detectados, explica o diário britânico The Guardian.

Em Nápoles, abriu uma loja de joalharia chamada Serein, que teve clientes importantes como o então primeiro-ministro do Bahrein, e entrou no Lion’s Club, onde era secretária do ramo do organismo na cidade, o que contribuiu para uma vida social intensa que incluía muitos funcionários da NATO.

“Rivera” saiu de Itália abruptamente, comprando um bilhete de avião para Moscovo a 15 de Setembro de 2018, no dia a seguir à publicação pelo Bellingcat e o Insider, o parceiro de investigação na Rússia, de um artigo sobre os dois agentes suspeitos do ataque de Salisbury contra o antigo espião Sergei Skripal, em que eram notadas irregularidades nos seus passaportes, sugerindo que tinham ligações aos serviços secretos. Estes tinham usado números de série consecutivos para passaportes de espiões, o que tornava fácil procurá-los.

A sua saída poderá, especula o principal investigador do Bellingcat Christo Grozev, ter tido a ver com o medo dos seus superiores de que pudesse ter ficado exposta.

Grozev descobriu o nome de Rivera numa base de dados de passagens de fronteira obtida por um grupo de hackers bielorrussos da oposição. Procurou por números de série de passaportes que se sabe terem sido usados por agentes da secreta militar russa (GRU) noutras ocasiões. Encontrou vários, com nomes russos, e um nome que se destacava por não ser russo, o de Maria Adela Kuhfeldt Rivera.

Esta agente tinha ainda outra originalidade. Normalmente, estes agentes tentam não ter passaportes russos. Mas poderá ter havido uma tentativa de Rivera ter um passaporte peruano, que falhou, segundo um documento de 2006 que mostra a rejeição do seu pedido como fraudulento.

O Bellingcat diz que baseado em informação e imagens de várias bases de dados e de fontes públicas conseguiu encontrar a mulher real atrás do nome. Contactou-a para pedir um comentário, ela não respondeu.

Em Junho, os Países Baixos acusaram um homem com um passaporte brasileiro com o nome Viktor Muller Ferreira, acusando-o de ser Sergey Vladimirovich Cherkasov – um espião russo.

Ferreira passara anos e anos a preparar-se, estudando política internacional na Irlanda e nos Estados Unidos. Suspeita-se que o objectivo era no final fazer um estágio no Tribunal Penal Internacional em Haia.

Um dos professores de Ferreira, Eugene Finkel, professor de política internacional na Universidade Johns Hopkins, que ensina cadeiras como Violência na Rússia ou Genocídio, comentou na altura, no Twitter, que nunca detectara qualquer pronúncia russa no sotaque estranho do aluno. Até lhe escreveu uma carta de recomendação para o TPI, relembrou, declarando sentir-se ingénuo.

Haia tinha já sido o destino de quatro agentes apanhados em flagrante em 2018 a tentar entrar na rede wireless da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ). Na altura, o organismo tinha em mãos duas investigações envolvendo Moscovo, uma o do ataque com novichok contra Skripal, em Sainsbury, Reino Unido, e outra por um ataque com armas químicas do regime de Assad, em Douma, Síria.

Sugerir correcção
Ler 5 comentários