Fibrose pulmonar: a importância do diagnóstico precoce

Os sintomas confundem-se facilmente com os de outras doenças respiratórias, mas as consequências de a fibrose pulmonar não ser diagnosticada precocemente medem-se em sofrimento para o doente e perda progressiva de qualidade de vida. A 7 de Setembro assinala-se o Dia Mundial de Sensibilização para a fibrose pulmonar. ‘Quando respirar é asfixiante’ é a assinatura de uma campanha de sensibilização para esta doença da Fundação Portuguesa do Pulmão, da Respira e da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), com o apoio da Boehringer Ingelheim.

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Falta de ar, cansaço e tosse persistentes. Estes são os sintomas que devem levar qualquer pessoa, sem hesitar, a procurar aconselhamento médico. E isto porque podem indiciar a presença de fibrose pulmonar (FP), uma doença crónica e progressivamente incapacitante dos pulmões. Mas porque os sintomas são, afinal, comuns a tantas outras patologias respiratórias, o que acontece é que o diagnóstico costuma ser tardio e, quando surge, é possível que alguns danos irreversíveis já tenham sido causados nos pulmões. Tendo em conta que os tratamentos actualmente existentes podem preservar a qualidade de vida do doente, atrasando a progressão do problema, torna-se fundamental estar atento aos sintomas e marcar uma consulta médica o mais rapidamente possível.

Existe fibrose pulmonar quando se verifica uma cicatrização anómala do tecido dos pulmões, com estes a tornarem-se espessos e rígidos, o que “vai levando à formação de uma barreira entre o alvéolo e os vasos sanguíneos, dificultando a passagem de oxigénio para o sangue, levando à falta de ar”, explica António Morais, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP). Assim, “quanto maior for a fibrose, mais afectada se encontra a função pulmonar do doente e menor capacidade para esforços este terá”, acrescenta, sublinhando o impacto que esta doença pode ter no dia-a-dia de quem dela sofre.

Quais são as causas e quem é mais afectado?

A fibrose pulmonar surge como consequência de diversas doenças pulmonares intersticiais, ou seja, patologias que afectam o interstício (a rede de suporte dos alvéolos pulmonares). Entre as inúmeras doenças pulmonares intersticiais existentes, encontra-se a fibrose pulmonar idiopática, que normalmente atinge adultos idosos, mais homens que mulheres, sendo muito rara em pessoas com menos de 50 anos.

A componente genética poderá ter um papel determinante no desenvolvimento da fibrose pulmonar idiopática, já que, nas palavras de António Morais, “para todas as doenças pulmonares intersticiais fibrosantes é necessária uma predisposição genética para a doença que, aliada a estímulos do meio ambiente, levam a que a mesma ocorra”. Estes factores são vários e, no caso da fibrose pulmonar idiopática, observa-se “uma resposta alterada à agressão do meio ambiente a nível do epitélio alveolar”, refere o também pneumologista do Centro Hospital Universitário de São João. Ou seja, como reforça José Alves, presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão (FPP), “a fibrose é uma maneira de o organismo reagir”, sendo que “o organismo reage sempre com inflamação e a causa dessa inflamação pode ser uma infecção, mas também pode ser a agressão contínua”, como quando alguém é continuamente exposto a determinado elemento que lhe causa agressão respiratória.

O desafio do diagnóstico

Segundo José Alves, “a fibrose não ocorre sozinha, mas por vezes ocorre e é a pior, porque não dá sintomas”. Outras vezes, existem sintomas, os quais resultam do facto de “a fibrose provocar alterações da estrutura anatómica do pulmão”, afirma o responsável, apontando a tosse, o cansaço e a falta de ar. O problema é que estas queixas não são específicas da FP, pois “é o que todos os doentes do pulmão apresentam”, o que acaba por dificultar muito o diagnóstico.

Aquilo que pode levar o médico a ponderar a hipótese de estar perante um caso de FP “é só a suspeição”, destaca o pneumologista. Perante tosse, cansaço e falta de ar, o médico consultado – que tanto pode ser o médico de família, como um especialista em Medicina Interna, um pneumologista ou um imunoalergologista, entre outros – deve fazer auscultação pulmonar e solicitar uma espirometria, que é um exame muito simples e não invasivo, que permite avaliar a quantidade e velocidade de ar que cada um é capaz de colocar e retirar dos seus pulmões. Se estes exames sugerirem a presença de algum problema, então, “deve ser solicitada uma TAC de alta resolução, que é o exame de diagnóstico da fibrose pulmonar”, revela José Alves, segundo o qual, estes passos são fundamentais, porque “quanto mais precocemente se fizer o diagnóstico, melhor é o prognóstico e a esperança de vida dos doentes”.

Para tal, torna-se importante aumentar a informação disponível sobre esta doença, como realça António Morais: “Dado a FP englobar um conjunto de doenças raras, torna-se necessário aumentar o conhecimento e a sensibilização para a existência destas doenças e da importância do diagnóstico precoce.” Por esta razão, assinala-se a 7 de Setembro o Dia Mundial de Sensibilização para a Fibrose Pulmonar.

Tratamentos que dão esperança

De acordo com Isabel Saraiva, presidente da Respira – Associação Portuguesa de Pessoas com DPOC e outras Doenças Respiratórias Crónicas, “a FP é uma doença crónica e irreversível, sem hipóteses de cura e que provoca grande sofrimento, falta de ar, desconforto e cansaço”. A boa notícia é que “os cuidados que existem neste momento dão algum bem-estar e conforto aos doentes”, salienta a responsável.

José Alves corrobora que “as novas terapêuticas disponíveis atrasam a progressão da doença”, sendo que “na ausência de tratamento, a FP pode progredir rapidamente causando perda da função respiratória, a qual poderá levar à necessidade de usar oxigénio sempre e, se continuar a progredir, pode conduzir a uma morte precoce”. Por esta razão, o diagnóstico atempado é crucial, como também reforça António Morais: “Dado que o processo de fibrose é irrecuperável, a perda de função pulmonar decorrente da progressão da fibrose é irreversível. Sendo assim, torna-se essencial iniciar uma terapêutica que condicione uma progressão mais lenta da fibrose o mais precocemente possível, de forma a que o doente possa beneficiar de todo o potencial da terapêutica antes de quedas funcionais significativas.” Quanto aos tratamentos actualmente disponíveis, o presidente da SPP frisa que “existem doenças com fisiopatologia inflamatória que poderão responder, pelo menos numa fase inicial, a medicação imunossupressora. Nas doenças com fisiopatologia fibrótica ou naquelas doenças inflamatórias que progridem apesar dos imunossupressores, o que traduz terem um componente fibrótico determinante, a prescrição da terapêutica antifibrótica é essencial para diminuir de forma significativa a progressão da doença”.