Insectos podem adquirir um sabor parecido com a carne, se forem cozinhados
Num estudo apresentado na Sociedade Americana de Química, o sabor das larvas-de farinha, se forem assadas ou fritas, pode adquirir parecenças com a carne e o marisco. Os cientistas esperam que esta descoberta impulsione a inclusão dos insectos na alimentação humana como uma fonte de proteínas mais sustentável.
Quando cozinhados, certos insectos podem adquirir sabores semelhantes ao da carne, segundo um novo estudo em que se cozinharam larvas-da-farinha (Tenebrium molitor) especificamente com a intenção de produzir sabores convidativos. Os autores esperam que as larvas possam vir assim a ser cada vez mais incorporadas na alimentação humana, surgindo como uma alternativa mais sustentável à proteína animal.
Como o principal motivo para a relutância em comer insectos que ainda é verificada no mundo ocidental é a aparência, a proposta dos autores do estudo, noticiado pelo jornal The Guardian, é disfarçar a presença das larvas incluindo-as em condimentos. Ao mesmo tempo que se enganaria o paladar, conferindo às comidas um sabor parecido com o da carne, também as necessidades proteicas ficariam satisfeitas. A ideia seria encorajar as cadeias de produção a incorporar, desta forma, insectos comestíveis nos seus produtos.
“Os insectos são uma fonte alimentar nutritiva e saudável com elevadas quantidades de ácidos gordos, vitaminas, minerais, fibras e proteínas de alta qualidade, tal como a carne”, sublinha In Hee Cho, da Universidade Wonkwang (na Coreia do Sul), uma das investigadoras responsáveis pelo estudo.
Citada no comunicado da Sociedade Americana de Química, onde a investigação foi apresentada esta quarta-feira, In Hee Cho realça que a descoberta vai ao encontro do crescente interesse que se tem vindo a desenvolver em torno do consumo de insectos “devido ao aumento do custo das proteínas animais, bem como às questões ambientais associadas”.
Numa primeira fase, a equipa de cientista comparou o aroma libertado pelas larvas-da-farinha no seu estado cru, observando que, enquanto algumas cheiravam a terra molhada, outras evocavam a fragrância do camarão ou do milho doce.
Posteriormente, cozinharam os insectos de diferentes formas - em vapor, assados ou fritos - e analisaram os sabores resultantes. Nos dois últimos casos, quando assados ou fritos, chegaram à conclusão de que os sabores se assemelhavam aos da carne e do marisco. E a semelhança até foi mais notória quando se juntou açúcar ao preparado, devido ao processo de caramelização.
À medida que iam ajustando as quantidades de açúcar e das larvas em pó, bem como alterando as condições de preparação, foram-se criando diferentes versões, que no final deram a provar a um grupo de voluntários.
“Em resultado deste estudo, foram optimizados dez sabores resultantes da reacção com base nas preferências dos consumidores,” conclui Hyeyoung Park, também investigadora, acrescentando que, no futuro, a equipa planeia optimizar ainda mais os resultados para eliminar todos os travos indesejados.
Se em várias comunidades africanas, asiáticas e sul-americanas o consumo de insectos é uma prática habitual, no mundo ocidental tal ainda é visto de lado. Ainda assim, desde há tempos para cá que os insectos têm vindo a deixar de ser usados apenas como isco de pesca ou biscoitos para cães, passando a ser encarados como uma fonte de proteína alternativa menos poluente e que envolve menos recursos. A indústria alimentar é responsável por cerca de um terço de todas as emissões dos gases de efeito de estufa emitidos para a atmosfera, sendo que a produção de proteínas animais ocupa uma grande fatia, destaca o Guardian.
Desde que a União Europeia aprovou, em Maio de 2021, a farinha de Tenebrium molitor como alimento humano à base de insectos, já começaram a surgir nas prateleiras dos supermercados produtos como farinhas ou aperitivos salgados. O mesmo já aconteceu em Portugal, através de empresas como a Portugal Bugs e a GotanBug.