Dedicatórias em mísseis financiam esforço de guerra ucraniano
Os donativos são convertidos em equipamento militar e recursos como medicamentos, comida ou rádios, e distribuídos aos soldados que se disponham a inscrever as mensagens nos mísseis antes de os lançar contra o inimigo.
Vale tudo. Desde uma mensagem de parabéns a um pedido de casamento, ou até mesmo a uns “cumprimentos” a Putin, como é sugerido no site oficial da iniciativa, Signmyrocket.com. Uma vez definido o texto, basta escolher o tipo de arma na qual a mensagem será inscrita, transferir o donativo e, em cerca de 2 semanas, será enviada uma fotografia ou um vídeo a comprovar que a mensagem foi mesmo catapultada pelos ares. O alvo: os soldados russos.
Foi esta a forma que Anton Sokolenko, um jovem ucraniano de 21 anos que estuda Tecnologias da Informação, arranjou para angariar fundos para a Ucrânia, que vão directamente para a organização não-governamental onde decidiu registar-se, em Março, como voluntário, a Center for Assistance to the Army, Veterans and Their Families (Centro de Assistência para o Exército, Veteranos e as suas Famílias).
A ideia, se bem que “provocadora”, como admitiu o fundador ao portal de notícias norte-americano Business Insider quando questionado quanto à sua ética, tornou-se em mais um gesto de solidariedade para com as tropas e civis ucranianos, entre os muitos que têm emergido no contexto da ofensiva russa.
“Não sou suficientemente corajoso para participar na guerra, por isso estou a tentar fazer o meu melhor para ajudar os soldados a manterem-se vivos e a matarem inimigos”, explica Sokolenko. “No início da guerra não estava a fazer nada e isso estava a incomodar-me”.
Inspirada nos próprios soldados ucranianos, que já vinham a inscrever nos mísseis desenhos e mensagens a vingar os mortos, a iniciativa começou por ser divulgada, há cerca de três meses, num canal do Telegram, que rapidamente viu o número de seguidores a subir a pique. Visando uma maior internacionalização, Sokolenko acabou por criar uma plataforma oficial para este projecto que designou de “correio via artilharia”.
Desde então, já foram angariados mais de 200 mil dólares, que foram convertidos em equipamento militar, como veículos, drones e miras de visão térmica, ou recursos como medicamentos, comida e rádios.
Ao New York Times, Sokolenko explica que a ONG tem estabelecido contactos directos com os militares ucranianos, fazendo-lhes chegar a assistência mediante a inscrição nas armas das mensagens pedidas.
Trata-se de um método que “não é muito oficial, nem muito permitido”, diz ainda ao jornal americano. No entanto, prossegue, “eles [os soldados] precisam de fazê-lo, porque nós podemos dar-lhes coisas que o nosso governo não lhes pode dar de momento”.
O limite mínimo dos donativos é 150 dólares, podendo chegar aos 5 mil se a arma escolhida for um canhão howitzer M777. A iniciativa está a correr pelo mundo fora, tanto que, dos quase 2 mil pedidos de mensagem que já receberam, 95% foram em inglês: “Feliz Dia do Pai”, “Este é um míssil gay”, “Com amor, de Silicon Valley” ou “Lutar contra o fascismo é um emprego a full-time” foram alguns deles.