Técnicos de Emergência Médica questionam “mais-valia” de especialistas de urgência
A Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica diz que também é preciso formação para o pessoal que trabalha na rua, porque sem essa primeiro apoio competente e atempado, o socorro pode ser comprometido
Os técnicos de emergência médica questionaram este sábado “qual a mais-valia” de haver especialistas de urgência no hospital, quando quem “faz rua” dispõe “de um nível de formação básico”, pedindo atenção aos “reais problemas” do actual modelo de socorro.
Na sexta-feira, a Secção de Medicina de Urgência da União Europeia de Médicos Especialistas disse que escreveu ao Presidente da República, ao primeiro-ministro e ao presidente da Ordem dos Médicos a sensibilizar para a criação da especialidade de Medicina de Urgência e Emergência.
Em comunicado, a Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM) começa por manifestar “a total satisfação pela criação e desenvolvimento de todas as medidas que se apresentem como uma mais-valia para os pacientes, especialmente no que concerne à recepção e prestação de cuidados definitivos, e no seguimento dos cuidados prestados em ambiente pré-hospitalar pelas equipas dos Serviços Médicos de Emergência”.
Por outro lado, a ANTEM assume “alguma inquietação” ao verificar “a manutenção de um vazio, atendendo a que maioritariamente os casos classificados como emergências médicas são efectuados por bombeiros, Cruz Vermelha Portuguesa e Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)”, isto é, “pessoal habilitado, apenas, para a prestação de manobras de suporte básico de vida”.
Esta associação reitera que, “para o sucesso de cuidados em situações de emergência médica, a chegada atempada de meios com capacidade para início precoce de manobras de suporte avançado de vida é crucial”.
“Ora, tal não é de todo viável com o sistema actual em que os meios distam mais do que os tempos preconizados para intervenções em meio urbano ou rural. Daí o facto de insistirmos na educação especializada e vocacionada para a Emergência Médica na rua, prática essa muito diferente da prática hospitalar, de resto como podemos verificar nos países mais evoluídos no que aos Serviços Médicos de Emergência diz respeito”, lê-se no comunicado.
A ANTEM diz que não pode permitir que sejam suscitadas dúvidas ou que haja desinformação.
“Existem cuidados de emergência médica pré-hospitalares e cuidados de emergência hospitalares, ambos com características, técnicas e procedimentos próprios, e não nos parece que em Portugal se consiga ter cuidados diferenciados, em tempo útil com o figurino actual, baseados em VMER [Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação], que distam 15 ou mais minutos do local”, adverte.
Os técnicos de emergência médica deixam ainda uma pergunta.
“Qual a mais-valia de haver especialistas de urgência no hospital, quando, quem “faz rua” dispõe de um nível de formação básico e que na maior parte das vezes não garante a melhor prática por falta de educação, inviabilizando a melhor intervenção pelos profissionais de saúde, aumentando a morbilidade e mortalidade?”, questiona a ANTEM.
Nesse sentido, diz, “urge a criação e implementação de Técnicos de Emergência Médica e Paramédicos, formados com base na Paramedicina, a medicina de rua, cuja prática é executada por não médicos”.
“Nesta senda, é contraproducente toda esta distracção para os reais problemas, nomeadamente quando Portugal detém, no que à intervenção se refere, dos níveis mais baixos, onde não se conseguem cumprir os tempos de actuação altamente recomendados de 7 e 14 minutos em ambiente urbano e rural”, defendem os técnicos de emergência médica.