Técnicos de Emergência Médica questionam “mais-valia” de especialistas de urgência

A Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica diz que também é preciso formação para o pessoal que trabalha na rua, porque sem essa primeiro apoio competente e atempado, o socorro pode ser comprometido

Foto
Técnicos de emergência têm de ser capaz de prestar cuidados além do suporte básico de vida, diz associação Miguel Manso

Os técnicos de emergência médica questionaram este sábado “qual a mais-valia” de haver especialistas de urgência no hospital, quando quem “faz rua” dispõe “de um nível de formação básico”, pedindo atenção aos “reais problemas” do actual modelo de socorro.

Na sexta-feira, a Secção de Medicina de Urgência da União Europeia de Médicos Especialistas disse que escreveu ao Presidente da República, ao primeiro-ministro e ao presidente da Ordem dos Médicos a sensibilizar para a criação da especialidade de Medicina de Urgência e Emergência.

Em comunicado, a Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica (ANTEM) começa por manifestar “a total satisfação pela criação e desenvolvimento de todas as medidas que se apresentem como uma mais-valia para os pacientes, especialmente no que concerne à recepção e prestação de cuidados definitivos, e no seguimento dos cuidados prestados em ambiente pré-hospitalar pelas equipas dos Serviços Médicos de Emergência”.

Por outro lado, a ANTEM assume “alguma inquietação” ao verificar “a manutenção de um vazio, atendendo a que maioritariamente os casos classificados como emergências médicas são efectuados por bombeiros, Cruz Vermelha Portuguesa e Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (TEPH) do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM)”, isto é, “pessoal habilitado, apenas, para a prestação de manobras de suporte básico de vida”.

Esta associação reitera que, “para o sucesso de cuidados em situações de emergência médica, a chegada atempada de meios com capacidade para início precoce de manobras de suporte avançado de vida é crucial”.

“Ora, tal não é de todo viável com o sistema actual em que os meios distam mais do que os tempos preconizados para intervenções em meio urbano ou rural. Daí o facto de insistirmos na educação especializada e vocacionada para a Emergência Médica na rua, prática essa muito diferente da prática hospitalar, de resto como podemos verificar nos países mais evoluídos no que aos Serviços Médicos de Emergência diz respeito”, lê-se no comunicado.

A ANTEM diz que não pode permitir que sejam suscitadas dúvidas ou que haja desinformação.

“Existem cuidados de emergência médica pré-hospitalares e cuidados de emergência hospitalares, ambos com características, técnicas e procedimentos próprios, e não nos parece que em Portugal se consiga ter cuidados diferenciados, em tempo útil com o figurino actual, baseados em VMER [Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação], que distam 15 ou mais minutos do local”, adverte.

Os técnicos de emergência médica deixam ainda uma pergunta.

“Qual a mais-valia de haver especialistas de urgência no hospital, quando, quem “faz rua” dispõe de um nível de formação básico e que na maior parte das vezes não garante a melhor prática por falta de educação, inviabilizando a melhor intervenção pelos profissionais de saúde, aumentando a morbilidade e mortalidade?”, questiona a ANTEM.

Nesse sentido, diz, “urge a criação e implementação de Técnicos de Emergência Médica e Paramédicos, formados com base na Paramedicina, a medicina de rua, cuja prática é executada por não médicos”.

“Nesta senda, é contraproducente toda esta distracção para os reais problemas, nomeadamente quando Portugal detém, no que à intervenção se refere, dos níveis mais baixos, onde não se conseguem cumprir os tempos de actuação altamente recomendados de 7 e 14 minutos em ambiente urbano e rural”, defendem os técnicos de emergência médica.