João Miguel Fernandes Jorge: uma paixão nada inocente

João Miguel Fernandes Jorge trabalhou no seu livro de poesia “em proximidade e distância” com os filmes de Yasujiro Ozu.

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Poemas que observaram atentamente a arte alheia e criaram a sua própria Enric Vives-Rubio/Publico

Ervas é o terceiro livro de João Miguel Fernandes Jorge (JMFJ) construído a partir da obra de um cineasta. Depois de Carl Dreyer, em A Palavra (Cinemateca Portuguesa — Museu do Cinema, 2007), e de Robert Bresson, em Pickpocket (Cinemateca — Museu do Cinema, 2009), os poemas do mais recente livro do poeta “enviam em proximidade e distância para vinte filmes de Yasujiro Ozu [YO]” (p.139), conforme anota JMFJ. O sintagma “em proximidade e distância” é muito mais do que simples indicação circunstancial; configura antes um dado crucial para entender a poesia que o autor escreve a partir dos filmes de YO: na confluência desses objectos, ou mesmo afastado deles, se nos lembrarmos da informação fornecida por JMFJ. E será bom que o façamos, uma vez que anotações do poeta, sem serem raras, quando comparecem, revelam, em todos os casos com admirável concisão, um propósito definido, um declarado apego, um processo determinante da sua escrita. Já em relação aos livros dedicados a Dreyer e a Bresson, recordava Joaquim Manuel Magalhães (JMM), há não muito tempo: “Embora dando destaque, pelo título, à escrita a partir de Ordet, os poemas deste livro [A Palavra] não se referem somente a este filme. Vários outros do cineasta se encontram envolvidos com a sua escrita”; “O filme de Robert Bresson, Pickpocket, não é o único filme do realizador referido” (“Informações”, Antologia dos Poemas, Relógio D’Água, 2019). Os três livros detêm-se, portanto, de modo semelhante num conjunto amplo da cinematografia de cada realizador. Em Ervas, como no dizia a nota de JMFJ, são 20 os filmes de YO contemplados. Existe, ainda, a unir A Palavra, Pickpocket e Ervas, a colaboração de JMFJ com outros artistas. No livro dedicado a Dreyer, o poeta contou com desenhos de José Loureiro (fotografados por Henrique Calvet) e fotografia de Rita Azevedo Gomes, com quem JMFJ voltou a colaborar para Bresson (fotografia e desenho) e de novo agora, em Ervas: no desenho da edição, que inclui desenhos de Rui Vasconcelos.

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