Trabalhadores da TAP protestam, Governo pede “responsabilidade”
Pilotos, tripulantes de cabine e técnicos de manutenção de aeronaves manifestam-se em frente ao Ministério das Infra-estruturas. Gestão da TAP avisa que acordos já celebrados com os sindicatos são para cumprir. Governo apela ao sentido de compromisso.
Várias centenas de trabalhadores da TAP estão em protesto na manhã desta terça-feira, em Lisboa, em frente Ministério das Infra-estruturas para reclamar uma melhoria na qualidade do serviço da companhia aérea portuguesa e uma estratégia de sustentabilidade para a transportadora.
Pilotos, tripulantes de cabine e técnicos de manutenção de aeronaves, maioritariamente fardados ou vestidos de preto e branco, começaram a concentrar-se na praça do Campo Pequeno pelas 8h30, de onde seguiram em silêncio para a sede do ministério, que fica próximo do local, para protestarem e entregarem uma carta ao Governo.
Entre os cartazes levados pelos trabalhadores lêem-se frases como “se agora contratam a peso de ouro, porque é que despediram?”, ou “os despedimentos na TAP saem caros a todos”.
A contestação motivou uma reacção da liderança da TAP, com a comissão executiva da empresa a repudiar, em comunicado, o que considera ser uma “constante tentativa de ataques à sua credibilidade e competência, os julgamentos de intenções e a cada vez mais frequente apresentação de ‘factóides’ avulso, propositadamente descontextualizados, distorcidos e até, nalguns casos, completamente falsos, com que alguns sindicatos bombardeiam constantemente a comunicação social”.
O Governo lembra que o plano para a injecção de fundos na TAP foi aprovado há menos de um ano e pede aos trabalhadores “sentido de responsabilidade e de compromisso”, reconhecendo, ao mesmo tempo, o “momento difícil por que passam todos aqueles que, todos os dias, permitem à companhia operar”, onde se mantêm cortes salariais.
O protesto dos trabalhadores foi organizado pelas direcções do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) e do Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA). A manifestação tem o objectivo de apelar à “melhoria contínua da qualidade do serviço que presta aos seus clientes” e à “sustentabilidade da própria empresa”, para que a empresa mantenha “os elevados padrões de segurança da operação pelos quais” os trabalhadores afirmam que a companhia sempre foi reconhecida.
“Os trabalhadores e os passageiros estão juntos quando viajam e estão juntos nesta luta pelo alinhamento entre as opções de gestão e aquilo que o país necessita da TAP”, dizem os três sindicatos, afirmando ainda que “os aviões [da TAP] não voam sem pilotos, sem pessoal de cabine e, sem uma boa manutenção, nem chegam a sair do chão”.
Gestão quer “diálogo sério”
A gestão da TAP lembra que, até 2025, os acordos já celebrados com os sindicatos são para cumprir. A direcção da companhia diz manter “sempre as portas abertas para o diálogo sério e construtivo, de uma forma que contribua para uma melhoria efectiva das condições de trabalho de todos os trabalhadores”, e garante estar “bem consciente do esforço que é pedido a todos os trabalhadores da companhia, nomeadamente com o corte de 25% no valor dos salários acima dos 1410 euros”.
Sem esse “esforço”, diz, “não teria sido possível obter a autorização da Comissão Europeia para o plano de restruturação que permitiu a sobrevivência da TAP” e, por isso, essa “sobrevivência só foi conseguida também através do esforço de todos os contribuintes portugueses e do Estado português”.
Para a comissão executiva, os sindicatos da TAP, “bem conscientes deste facto, de forma responsável e cumprindo a sua função de defesa dos trabalhadores e dos seus postos de trabalho, acordaram” com a companhia aérea “os cortes salariais mencionados, assumindo assim um compromisso que produz os seus efeitos até 2025, ano a partir do qual, cumprindo-se o plano de restruturação, a TAP estará finalmente em condições de repor os salários na íntegra”. Por isso, reafirma, “até lá, não pode ser feita tábua rasa dos acordos firmados, nem a sobrevivência da companhia poderia resistir se isso acontecesse, como facilmente se poderá compreender”.
Também o Ministério das Infra-estruturas veio dizer, em comunicado, que “é preciso não esquecer que a companhia aérea atravessa ainda aquele que é o momento mais desafiante da sua história” e que “a TAP vive as consequências do ano dramático de 2020, quando o encerramento da empresa foi apenas travado pela injecção de fundos públicos, por parte do Estado português”, num valor que vai atingir os 3200 milhões de euros.
Essa injecção, lembra o Governo, “só foi autorizada pela Comissão Europeia por estar sujeita a um plano de reestruturação exigente” que só termina em 2025.
“Este plano — que foi aprovado há menos de oito meses — só foi autorizado porque contou com um substancial contributo por parte dos trabalhadores, traduzido na redução do número de efectivos na empresa (um processo já encerrado) e na redução dos salários dos trabalhadores que permaneceram na TAP. O processo de redução de custos laborais na empresa resultou de acordos assinados com 14 organizações representativas dos trabalhadores, que demonstraram enorme sentido de responsabilidade e de compromisso com a recuperação da empresa”, nota o ministério liderado por Pedro Nuno Santos.
O ministério diz contar “com o mesmo sentido de responsabilidade e de compromisso por parte dos trabalhadores para transformar a TAP numa empresa rentável e sustentável no futuro”.