“Esgotado”: ir ao Peru e não ver Machu Picchu? Turistas e comerciantes em fúria contra limites de entradas
Bilhete custa quase 40 euros. Para proteger o monumento, Governo impõe agora limite de 5000 visitantes. Entradas esgotam logo, turistas desprevenidos queixam-se de fazerem longas e caras viagens em vão: ficam à porta do céu. É a segunda manifestação às portas da cidadela em duas semanas.
Quando reabriu em Novembro de 2020, após muitos meses de encerramento — abriu uma vez para um turista japonês... —, o Governo peruano decidiu impor limites no número de visitantes, de modo a proteger o monumento, que nos últimos anos muito sofreu com o sobreturismo. As limitações mais recentes levam a que os bilhetes para Machu Picchu esgotem rapidamente e com muita antecedência. Esta sexta-feira, comerciantes e turistas protestaram pela segunda vez em duas semanas contra a medida.
As cenas dos protestos às portas da cidadela inca e na aldeia vizinha que vive deste turismo, Aguas Calientes, têm o seu quê de surreal, mas são bem reais. Com bilhetes esgotados online (alguns são pré-reservados por agências), muitos turistas chegam às vizinhanças à espera de adquirir bilhetes presencialmente, já que uma parte das entradas é reservada para venda directa deste modo. Mas em vão.
“É uma fraude”, diz um turista irritado, que participou nos protestos, citado pela AFP. O visitante contou que pagou 65 dólares pela viagem de comboio desde Ollantaytambo, a cerca de 150 km da área de Machu Picchu. A exemplo dele, muitos outros adquiriram viagens, até programas com guia para conseguirem admirar passo a passo o monumento a 2490 metros de altura, mas sem bilhetes à disposição ficam às portas do céu.
Em Julho, os bilhetes esgotaram rapidamente para entradas até meados de Agosto. O Governo deixou-se convencer pelos protestos e tem vindo a aumentar o limite de entradas: era 3044, aumentou mais mil em Julho e depois mais mil, passando aos actuais 5044 diariamente. Quando reabriu em Novembro de 2020, o número estabelecido pelo Governo era bastante inferior: 675 visitantes por dia.
Ao lado de muitos turistas furiosos estão os comerciantes da zona, que vêem cada vez menos turistas chegarem por causa do numerus clausus que tem por objectivo proteger o monumento Património da UNESCO com mais de meio milénio. Os protestos levaram ao bloqueio da via férrea e são já os segundos a ocorrer em duas semanas.
Em comunicado, o grupo de comerciantes exige a venda de mais bilhetes na loja do ministério da Cultura de Machu Picchu em Aguas Calientes: deve haver “50% dos bilhetes a serem vendidos presencialmente”. Objectivo: “reactivar as nossas economias”. O Governo tem permitido o aumento de vendas presenciais, mas “respeitando os limites diários estabelecidos”.
Online, é essencial reservar com antecedência, e não contar com bilhetes de última hora. Este sábado à noite, por exemplo, no site oficial, havia ainda alguns bilhetes para daqui a 15 dias, mas em horários pouco desejados: as datas e horários com maior procura esgotam rapidamente, inclusive para meses seguintes (a compra online está disponível até 31 de Dezembro apenas).
Há entradas limitadas por circuitos e faixa horária (a partir das 6h-7h até às 14h-15h), e o site mostra o número de bilhetes disponíveis em tempo real. Para 1 de Setembro, por exemplo, havia 30 bilhetes das 7-8h, e cerca de duas centenas por hora à tarde, mas já estava esgotado o período do nascer do sol (+-6h) e os restantes períodos da manhã.
A entrada geral custa 152 (nuevos) Soles, cerca de 38,2 euros.