Incêndio na serra da Estrela é o mais extenso desde Pedrógão Grande

A área consumida pelo fogo na Serra da Estrela, que foi dado por dominado na sexta-feira à noite, poderá superar os 14 mil hectares de floresta.

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O fogo foi dado como dominado às 23h36 de sexta-feira, segundo a Protecção Civil LUSA/Nuno André Ferreira

O incêndio da serra da Estrela é o mais extenso registado desde o de Pedrógão Grande, em 2017, segundos dados provisórios do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Depois de ter consumido uma área que poderá superar 14 mil hectares de floresta, o incêndio que lavra desde 6 de Agosto na serra da Estrela é agora dado como dominado e passível de ser extinto dentro dois dias.

Segundo o ICNF, 45.979 hectares arderam nos incêndios de Pedrógão Grande e Mação, em 2017, ano em que foram consumidos pelas chamas 539.921 hectares em todo o país. Só nos incêndios de Pedrógão Grande arderam mais de 24 mil hectares. O incêndio que deflagrou na madrugada do dia 6 em Garrocho, no concelho da Covilhã, no distrito de Castelo Branco, estendeu-se ao distrito da Guarda, nos municípios de Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira, foi dado como dominado às 23h36 de sexta-feira, segundo a Protecção Civil.

A Protecção Civil mantinha hoje no terreno um efectivo de 1465 bombeiros e cinco meios aéreos, em trabalho de rescaldo e de vigilância activa para evitar qualquer reacendimento.

O fogo ocorreu a mais de mil metros de altitude e estava a poucas horas de cumprir sete dias em fase activa, ao longo dos quais o combate às chamas chegou a mobilizar quase 1700 bombeiros apoiados por mais de 500 meios terrestres e 17 meios aéreos.

Segundo o sistema de vigilância europeu Copernicus, até à hora em que o incêndio foi considerado dominado, na sexta-feira à noite,​ as chamas consumiram 14.757 hectares de floresta, incluindo uma área do Estrela Geopark, classificado pela Unesco em 2020.

O segundo comandante da Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC), Miguel Cruz, disse hoje estar contabilizada “uma área ardida, neste momento, de 14.757 hectares, segundo o sistema de vigilância europeu Copernicus”, mesmo reconhecendo que “não é um balanço final”.

A Associação Ambientalista Quercus pediu na sexta-feira uma avaliação independente ao incêndio, questionando qual foi a intervenção da AGIF - Agência para a Gestão Integrada dos Fogos, face a críticas à descoordenação de meios de combate ao fogo que diz ter afectado habitats do parque natural e que terá “impactes severos sobre a flora, fauna, território e populações”.

Também na sexta-feira, o primeiro-ministro, António Costa, defendeu que este incêndio deve ser estudado “em pormenor”, para identificar o que poderia ter sido feito para evitar que o fogo ganhasse a escala que acabou por adquirir.

No mesmo dia, o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, considerou este fogo “uma tragédia do ponto de vista do ambiente, da biodiversidade e do património ambiental” e o secretário de Estado da Conservação da Natureza e das Florestas, João Paulo Catarino, aludiu ao “prejuízo [ambiental] enorme” que é preciso “reabilitar rapidamente”.

Investigadores como Joaquim Sande Silva (Escola Superior Agrária do Politécnico de Coimbra) e Miguel Almeida (Universidade de Coimbra) defenderam igualmente que o incêndio deve ser analisado por uma estrutura idêntica à criada após os fogos de há cinco anos, em Pedrógão Grande.

Na sequência de críticas de autarcas e populares à forma como foi organizado o combate às chamas, o presidente da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela (CIM-BSE), Luís Tadeu, defendeu, na quinta-feira, uma análise a todo o processo para se ter a certeza “se foi o mais eficaz, adequado”. Em declarações à Lusa, o presidente da CIM-BSE assinalou haver “coisas muito estranhas neste processo”, referindo-se ao facto de se ter visto “no terreno, muitas vezes, descoordenação completa, com os bombeiros parados à espera que dêem as ordens e o tempo a passar e o fogo andar”.

Na mesma data, o Partido Comunista Português (PCP) considerou que incêndios como o da Serra da Estrela “evidenciam a falta de resposta a questões estruturais e o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) defendeu que devem ser os bombeiros a tomar conta do combate inicial aos incêndios, com poder de decisão sobre o uso de todos os meios necessários, inclusive os aéreos.

No mesmo dia, o Ministério da Administração Interna (MAI) admitiu que no combate ao incêndio na Serra da Estrela foram identificadas situações que do ponto de vista operacional poderiam necessitar de ajustamentos, pois “a complexidade deste incêndio desencadeou uma mobilização de meios excepcionais”.

A Câmara da Covilhã criou uma comissão de apoio e acompanhamento à população e um banco alimentar para animais e a Câmara de Oliveira do Hospital apelou, esta semana, ao Governo para lançar medidas de apoios excepcionais para os pastores que produzem Queijo da Serra da Estrela.

O fogo provocou pelo menos cinco feridos e consumiu três casas de primeira habitação, algumas casas devolutas e palheiros.