Electricidade 10% mais cara impulsionou nova escalada da inflação em Julho
Preço da electricidade subiu 10,3% só em Julho, sendo um dos factores decisivos para o prolongamento da tendência de subida de inflação em Julho, que a coloca nos máximos desde 1992.
A subida de mais de 10% nos preços da electricidade durante o mês de Julho foi a principal explicação para o prolongamento da trajectória ascendente da taxa de inflação registada em Portugal durante o mês de Julho.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmou nesta quarta-feira os dados da estimativa rápida publicada no final de Julho que davam conta de que a taxa de inflação homóloga subiu de 8,7% em Junho para 9,1% em Julho, prolongando uma tendência que se faz sentir desde meados do ano passado e que já colocou este indicador no seu valor mais alto desde 1992. A variação mensal dos preços foi nula e a inflação média dos últimos 12 meses passou de 4,1% para 4,7%.
Agora, a autoridade estatística dá mais detalhes sobre a forma como se deu, em Julho, esta nova subida da inflação. E, num cenário em que as subidas de preços nos combustíveis e nos alimentos continuaram a ser muito significativas, nota-se, neste mês de Julho, um papel particularmente relevante dos preços da electricidade.
De acordo com os dados do INE, o preço da electricidade consumida pelos portugueses nas suas casas subiu, entre Junho e Julho, 10,3%. Foi aliás, entre todos os produtos analisados, aquele que mais contribuiu em alta para a taxa de inflação mensal em Julho.
A variação de 10,3% no preço da electricidade contribuiu, diz o INE, com 0,322 pontos percentuais para o valor da inflação mensal, superando neste ranking outros preços, como os dos voos internacionais (que subiram 21,4%, mas tiveram um contributo de 0,103 pontos percentuais), dos restaurantes, dos veículos automóveis ou dos hotéis.
Também quando a comparação é feita com o mesmo mês do ano passado, a variação dos preços da electricidade dá um salto significativo, passando de 23,6% em Junho para 35,6% em Julho. É uma subida decisiva para que a classe de produtos “Habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis” tivesse sido em Julho a que registou uma inflação homóloga mais alta (passando de 13,5% em Junho para 16,6%) e um aumento mais forte do contributo para a taxa de inflação homóloga, superando os alimentos e os transportes.
Esta subida de preços acentuada em Julho aconteceu, curiosamente, num mês em que foi decidido pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) uma diminuição dos preços da electricidade no mercado regulado. Isto significa que a inflação neste produto ocorreu no mercado liberalizado de energia, onde as empresas podem realizar actualizações de preços nos novos contratos, nas renovações de contratos ou, eventualmente, no decorrer de contratos, desde que se cumpras determinadas condições previamente acordadas entre as partes.
Como explicam os responsáveis do INE, em resposta às questões colocadas pelo PÚBLICO, “houve [em Julho] uma redução de preços no mercado regulado e foram registadas variações significativas de preços nos tarifários representados na amostra do Índice de Preços no Consumidor (IPC) do mercado liberalizado”. O INE assinala ainda que “o preço da electricidade, actualmente, resulta da conjugação de componentes fixas e variáveis, cujas variações poderão nem sempre ser no mesmo sentido”, esclarecendo que índice de preços “é apurado com base num perfil de consumo representativo da população residente em Portugal, onde as componentes fixa e variável têm uma ponderação específica”.
Em Abril, já se tinha verificado uma variação mensal dos preços da electricidade também muito significativa, de 11,8%. Nessa altura, a contribuir para o resultado esteve contudo, ao contrário do que aconteceu agora, também uma subida de preços no mercado regulado.
A variação homóloga dos preços dos combustíveis, que têm vindo a ser o factor principal por trás da escalada da inflação em Portugal (e no resto do mundo), passou de 34,7% em Junho para 26,4%. No caso dos produtos alimentares, este indicador subiu de 13,6% para 14,3%.