Como o genoma do inhame pode contribuir para a segurança alimentar
Cientistas estão quase a terminar a sequenciação do genoma completo de cerca de 1000 amostras de inhame no Oeste africano.
Montes de inhames cabeludos estão alinhados num mercado em Ibadan, na Nigéria, onde os comerciantes regateiam a qualidade e o preço antes de os carregarem em carros para depois serem entregues a consumidores nigerianos. Perto, um homem conduz um carro-de-mão cheio com esses tubérculos.
Os inhames – misturados em massa, transformados em farinha, cozidos ou fritos – dão o sustento e são um meio de subsistência no Oeste africano. Contudo, as condições de cultivo na designada “cintura de inhame” desde a Guiné até aos Camarões estão a piorar.
O vendedor Adewale Elekun diz que os agricultores na Nigéria estão já mesmo a ter uma vida mais difícil do que no passado, quando o solo estava melhor e a terra mais fértil. “Hoje, a qualidade do solo desapareceu”, comenta o vendedor no meio da azáfama do mercado.
Noutro local em Ibadan, numa incubadora tecnológica 130 quilómetros a nordeste de Lagos, a geneticista molecular Ranjana Bhattacharjee afirma que ainda tem esperança de que as coisas possam melhorar com a ajuda da criação de plantas mais adaptadas às condições mais adversas. A cientista trabalha no Instituto Internacional de Agricultura Tropical, que está quase a terminar a sequenciação do genoma completo de cerca de 1000 amostras de inhame.
Para Ranjana Bhattacharjee, este trabalho preparará o caminho para assegurar que as culturas estejam mais adaptadas às alterações climáticas. “Se queremos melhorar as culturas, então temos de sequenciar o genoma para perceber os genes e as suas características, como a resistência a doenças”, nota a cientista.
A necessidade de estimular localmente o cultivo de plantas é muito importante, devido ao aumento da alimentação a nível global desde que alguns dos grandes países produtores decidiram exportar menos alimentos e a invasão da Rússia à Ucrânia bloqueou exportações daquele país.
O inhame, maior do que o seu homónimo e não familiar na América do Norte, simboliza prosperidade, saúde e até fertilidade no Oeste de África. A sequenciação do seu genoma poderá ajudar os agricultores no continente africano, que cultivam à volta de 90% de todo o inhame a nível global, a melhorar as suas colheitas e a mantê-las altas, disse Ranjana Bhattacharjee. “Isso permitirá, em última análise, levar à segurança alimentar, não apenas na Nigéria, mas também no Oeste de África onde o inhame tem sido cultivado”, assinalou.