Trump quis saber porque é que os seus generais não podiam ser como os de Hitler, revela livro

Novo livro cita colaboradores militares do ex-Presidente. Trump ficava exasperado com a resistência dos generais às suas propostas. E quis um desfile militar sem veteranos feridos.

Foto
Donald Trump STEPHANIE LECOCQ/EPA

Donald Trump quis fazer um grande desfile militar em 2017, quando ainda estava na Casa Branca, mas sem “tipos feridos”, porque “não o faziam parecer bem”. Noutro momento, o então Presidente perguntou porque é que os seus generais não eram tão “fiéis” como os de Hitler.

São revelações do livro The Divider: Trump in the White House, segundo um excerto divulgado esta segunda-feira em exclusivo pela revista New Yorker. A obra foi escrita por dois jornalistas, Peter Baker e Susan Glasser, que recolheram conversas entre Trump e os seus colaboradores militares mais próximos, que derivavam com frequência em controvérsias sobre a visão do país e do governo.

Uma destas controvérsias ocorreu em 2017, quando Trump regressou de França depois de assistir ao desfile militar da festa nacional do país, o 14 de Julho, que então descreveu como “algo tremendo” e “realmente bonito de ver”. Sugeriu imediatamente fazer algo parecido nos EUA, mas disse aos seus generais: “Não quero tipos feridos no desfile”. Quando estes lhe replicaram que esses ex-combatentes feridos são os verdadeiros heróis da nação, Trump replicou: “Não os quero. Não me fazem parecer bem”, segundo o relato do general Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto dos EUA.

Outra divergência ocorreu em 2020, no contexto dos protestos anti-racistas que marcaram esse ano. Trump quis que o Exército participasse na repressão das manifestações, mas não conseguiu o envolvimento das forças armadas.

“Vocês são todos uns falhados”, disse Trump aos generais e, dirigindo-se a Milley, detalhou: “Não podem disparar, simplesmente? Disparar simplesmente para as pernas, ou assim”, segundo os autores do livro.

Trump ficava exasperado com a resistência dos generais às suas propostas e, uma vez, questionou um assistente da Casa Branca, John Kelly: “Porque é que não podem ser como os generais alemães?”.

Quando John Kelly lhe replicou que esses generais tinham conspirado secretamente para matar Hitler, Trump contestou: “Não. Não. Não. Foram-lhe absolutamente fiéis”.

Segundo Baker e Glasser, Milley formou uma espécie de célula de crise com o secretário de Estado, Mike Pompeo, e o chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, depois das eleições que Trump perdeu, com o objectivo de garantir uma transição ordenada de poder. Tinham conferências telefónicas diárias a três, sem o conhecimento de Trump, que designavam por “chamadas de aterragem do avião”.