Erdogan foi a Sochi encontrar-se com Putin e dizer que não se pode ignorar a Rússia

Presidente russo agradeceu a contribuição do seu homólogo turco no acordo sobre a exportação de cereais da Ucrânia. Disparos de artilharia cortam fios de alta tensão na central nuclear de Zaporijjia.

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Recep Tayyip Erdogan com Vladimir Putin, em Sochi Reuters/SPUTNIK

Quatro horas de reunião depois, os dois Presidentes emergiram com um plano para aumentar a cooperação nos domínios dos transportes, finanças e construção e com um agradecimento de Vladimir Putin a Recep Tayyip Erdogan pelo papel da Turquia no acordo que permitiu à Rússia levantar o bloqueio às exportações de cereais da Ucrânia.

No dia em que foi anunciado que mais três navios carregados de milho zarparam de portos ucranianos, a Turquia foi mais uma vez estender uma mão diplomática a Putin e garantir que não se ganha a guerra na Ucrânia sem negociar com Moscovo.

“A comunidade internacional não pode acabar com a guerra na Ucrânia ignorando a Rússia”, disse o porta-voz de Erdogan, Fahrettin Altun, citado pela Reuters.

No comunicado conjunto, depois da reunião de Sochi, junto ao mar Negro, os dois presidentes sublinharam a necessidade de “implementar na totalidade o acordo de Istambul, incluindo retirar os entraves às exportações russas de cereais, fertilizantes e matérias-primas para a sua produção”.

“As entregas já começaram e quero agradecer-lhe por isso e pelo facto de, ao mesmo tempo, ter apoiado a decisão que foi feita de não interromper o fornecimento de alimentos e fertilizantes russos nos mercados internacionais”, agradeceu Putin.

Segundo o Ministério da Defesa turco, dois navios carregados de cereais partiram esta sexta-feira do porto de Chornomorsk e outro zarpou de Odessa, com um total de 58 mil toneladas de milho, num sinal de que o acordo russo-ucraniano, mediado pela Turquia e as Nações Unidas está a ser implementado.

“Esperamos que as garantias de segurança dos nossos parceiros da ONU e da Turquia continuem a funcionar e as exportações de alimentos dos nossos portos se torne estável e previsível para todos os participantes do mercado”, disse o ministro das Infra-estruturas ucraniano, Oleksandr Kubrakov.

De acordo com a informação avançada pela Autoridade Portuária da Ucrânia na segunda-feira, estavam 68 navios atracados nos portos ucranianos com 1,2 milhões de toneladas a bordo, dois terços delas de alimentos.

No encontro Putin-Erdogan também se decidiu, segundo o vice-primeiro-ministro da Rússia, Alexander Novak, em que parte dos pagamentos turcos do gás russo serão feitos em rublos, de acordo com a Reuters.

Além da Ucrânia, grande parte da conversa entre os dois chefes de Estado teve a Síria como assunto, sendo que Turquia e Rússia apoiaram lados diferentes do conflito sírio. Mas como as circunstâncias geopolíticas mudaram, os dois países “reafirmam a sua determinação para agir em coordenação e solidariedade na luta contra as organizações terroristas” na Síria, o que na versão de Ancara define os combatentes curdos.

Central nuclear como alvo

Entretanto, na Ucrânia, um disparo de artilharia atingiu os fios de alta tensão na central nuclear de Zaporijjia, levando os operadores a desligarem um dos reactores por razões de segurança, mesmo não se tendo detectado nenhuma fuga.

A empresa pública de energia nuclear ucraniana Energoatom acusou a Rússia pelos estragos naquela que é a maior central nuclear da Europa. A administração russa da cidade de Enerhodar, ao lado da central, apontou, por sua vez, o dedo às forças ucranianas pela destruição dos fios de electricidade.

Em comunicado, a administração da central nuclear fez saber que o incidente provocou um incêndio e que foi preciso desligar a energia para salvaguardar o bom funcionamento dos reactores. Os operadores da central continuam a ser os mesmos ucranianos que a operavam antes dos soldados russos a ocuparem em Março.

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