Schröder encontrou-se com Putin: “Kremlin quer solução” para conflito, Kiev tem de fazer concessões
O antigo chanceler alemão, que mantém uma relação de proximidade com Putin, diz que Moscovo quer negociar um acordo com Kiev. Mas para isso é necessário que ambos os países façam concessões, defende.
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O antigo chanceler alemão Gerhard Schröder admitiu ter-se encontrado com o Presidente Vladimir Putin na Rússia, com quem mantém uma relação de amizade. Os dois terão discutido o conflito na Ucrânia.
“As boas notícias são que o Kremlin quer uma solução [para o conflito] negociada” com a Ucrânia, avançou Schröder numa entrevista à revista Stern, citada pelo jornal Politico. O alemão confirmou este encontro depois de, inicialmente, ter dito que estava na Rússia apenas “de férias”.
Schröder referiu ainda que o acordo assinado entre a Rússia, a Turquia, a ONU e a Ucrânia para reabrir a exportação de cereais pelo mar Negro pode ser a base para o lançamento de um acordo de cessar-fogo. Acrescentou, contudo, que para acabar o conflito é necessário que Kiev faça concessões.
De acordo com Schröder, citado pela emissora alemã Deutsche Welle (DW), uma das concessões de Kiev podia ser renunciar à soberania de uma parte do território ucraniano, incluindo a península da Crimeia (ocupada em 2014). Quanto à região do Donbass, Schröder sugere que a Ucrânia tente alcançar a paz através da criação de cantões, à semelhança da Suíça.
O antigo chanceler apelou ainda ao governo alemão que reconsidere a sua posição relativamente ao gasoduto Nord Stream 2, que foi suspenso no final de Fevereiro, após o início da invasão.
“Se não quiserem utilizar o Nord Stream 2, têm de aguentar as consequências. E serão enormes também para a Alemanha… Com ambos os gasodutos Nord Stream [em funcionamento] não haveria problemas de abastecimento para a indústria e para os lares alemães”, referiu.
A reunião entre o Presidente russo e o antigo chanceler alemão foi também confirmada esta quarta-feira pelo porta-voz do Kremlin. “Sim, Schröder esteve em Moscovo recentemente e teve efectivamente um encontro cara a cara com o Presidente Putin”, disse Dmitry Peskov, em conferência de imprensa. Segundo o porta-voz, citado pela CNN, Schröder está “muito preocupado com o actual estado das coisas” e a “crise energética” que se está a “acentuar na Europa”, incluindo na Alemanha.
Kiev reagiu às afirmações de Schröder, dizendo que qualquer acordo de paz negociado com Moscovo estaria dependente de um cessar-fogo e da retirada das tropas russas, surgindo o diálogo em segundo plano.
“Se Moscovo quer diálogo, a bola está no seu campo. Primeiro, cessar-fogo e retirar as tropas, depois um diálogo construtivo”, escreveu Mykhailo Podolyak, conselheiro presidencial ucraniano, no Twitter.
Moscow is raising the terror level with one hand, and inviting to surrender with the other. Shredder — a well-known herald of the Empire and a voice at the ru-tsar's court. If Moscow wants dialogue, it is up to them. First, a cease-fire and troops withdrawal, then – constructive. pic.twitter.com/uo8SphEJlv
— Михайло Подоляк (@Podolyak_M) August 3, 2022
Uma amizade polémica
A proximidade entre Schröder e Putin tem gerado forte polémica na Alemanha. Em Maio, o Parlamento retirou a Schröder alguns dos seus subsídios, assim como o direito a ter um gabinete e a sua própria equipa.
Schröder exerceu cargos de direcção em empresas estatais russas do sector energético depois de deixar o governo alemão. Esse trabalho, a recusa em condenar Putin e hesitar em cortar as suas ligações com empresas ligadas ao Kremlin valeram-lhe fortes críticas.
Ainda em Maio, o New York Times publicou uma entrevista a Schröder na qual referia que a questão da guerra “não tem apenas um lado”. Esta quarta-feira, segundo Peskov, o ex-chanceler alemão pediu a Putin que apresentasse a sua perspectiva e explicasse, do ponto de vista russo, o que se passa na Ucrânia.
Schröder, social-democrata, tem recebido também críticas por parte dos seus colegas de partido e, refere o Politico, na segunda-feira uma comissão irá discutir a sua possível expulsão do partido.