O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, acusou a indústria do petróleo, do gás e os seus financiadores de uma “ganância grotesca” e apelou aos governos para “taxarem estes lucros excessivos” para apoiarem as pessoas mais vulneráveis.
“É imoral que as petrolíferas e as empresas de gás estejam a fazer lucros recordes a partir da crise energética e graças às pessoas e comunidades mais pobres, com um custo enorme para o clima”, disse nesta quarta-feira António Guterres, em Nova Iorque, referindo-se ao impacto dos gases com efeito de estufa nas alterações climáticas.
As duas maiores petrolíferas dos Estados Unidos, a Exxon Mobil e a Chevron, mais a Shell, sediada no Reino Unido, e ainda a francesa TotalEnergies ganharam perto de 50.220 milhões de euros no segundo trimestre de 2022, quase o dobro do que o grupo obteve durante o mesmo período em 2021.
“Apelo a todos os governos que taxem este lucro excessivo e usem os fundos para apoiar as pessoas mais vulneráveis nestes tempos difíceis”, disse o responsável aos jornalistas. “E exorto às pessoas em todo o mundo a enviarem uma mensagem clara à indústria dos combustíveis fósseis e a todos os seus financiadores: esta ganância grotesca está a castigar as pessoas mais pobres e vulneráveis, enquanto destrói a nossa única casa.”
Tantos os políticos como os grupos de defesa dos consumidores criticaram as empresas petrolíferas por lucrarem com a situação mundial, aproveitando-se da escassez da oferta de combustíveis para extorquirem mais dinheiro aos consumidores e aumentarem os lucros. O Presidente norte-americano Joe Biden disse em Junho que a Exxon e outras empresas estavam a fazer “mais dinheiro que Deus”, numa altura em que os consumidores sentiam os preços subirem a patamares recorde.
No mês passado, o Reino Unido aprovou um imposto inesperado de 25% para taxar os produtores de petróleo e gás vindos do mar do Norte. Os legisladores nos Estados Unidos discutiram uma ideia semelhante, apesar de enfrentarem dificuldades no Congresso.
António Guterres disse ainda que a guerra da Rússia na Ucrânia e o colapso climático estavam a alimentar uma crise global financeira, energética e alimentar. “Muitos países em desenvolvimento – afundados em dívidas, sem acesso a financiamento e com dificuldade em recuperar da pandemia da covid-19 – podem não aguentar”, acrescentou. “Já estamos a ver os sinais de aviso de uma onda de agitação económica, social e política que não deixaria nenhum país intocado.”