Crise climática tornou a onda de calor do Reino Unido 10 vezes mais provável
Para determinar como as alterações climáticas influenciaram as probabilidades da vaga de calor de Julho no Reino Unido, 21 cientistas climáticos realizaram uma análise do evento utilizando dados meteorológicos e simulações computadorizadas para comparar o clima de hoje com o do passado.
A vaga de calor que abafou o Reino Unido na semana passada tornou-se pelo menos 10 vezes mais provável devido às alterações climáticas, concluem os cientistas num estudo divulgado esta semana. A 19 de Julho, as temperaturas subiram acima dos 40 graus Celsius no aeroporto de Heathrow e foram quebrados recordes em 46 estações de monitorização locais em todo o país. As chamadas de emergência para ambulâncias aumentaram e vários fogos deflagraram nos arredores de Londres.
Sem as mudanças climáticas causada pelo homem, que já aqueceu o mundo 1,2 graus Celsius acima das temperaturas pré-industriais, este evento de calor extremo teria sido extremamente improvável, referem os cientistas. “Vivemos num mundo onde as temperaturas estão a subir muito rapidamente”, disse Friederike Otto, uma cientista climática do Imperial College de Londres. “Com 1,3 graus Celsius ou 1,4 graus Celsisus, este tipo de evento já será muito menos raro”.
As alterações climáticas estão a tornar as ondas de calor mais frequentes e mais graves, de acordo com a World Weather Attribution (WWA), uma colaboração internacional de investigação que desafia o papel das alterações climáticas em eventos extremos. Para determinar como as alterações climáticas influenciaram as probabilidades desta vaga de calor específica no Reino Unido, 21 cientistas climáticos da WWA, incluindo Friederike Otto, realizaram uma análise do evento utilizando dados meteorológicos e simulações computadorizadas para comparar o clima de hoje com o do passado.
Assim, descobriram que antes da revolução industrial e do aumento das emissões de aquecimento do planeta a onda de calor teria muito menos probabilidades de ocorrer e teria sido 4 graus Celsius mais fria. No entanto, os cientistas acrescentaram que as suas estimativas eram conservadoras, uma vez que as temperaturas extremas na Europa Ocidental aumentaram mais do que os seus modelos climáticos simulam.
“Os modelos climáticos têm um preconceito sistemático na medida em que subestimam a tendência das temperaturas extremas nos verões da Europa Ocidental devido às alterações climáticas”, explica Otto. Em Maio, a WWA determinou que a onda de calor do Sul da Ásia de Março e Abril deste ano se tinha tornado 30 vezes mais provável devido às alterações climáticas, e que a onda de calor do ano passado no Noroeste do Pacífico teria sido “virtualmente impossível”.
Os cientistas foram incapazes de fornecer uma declaração tão definitiva para a vaga de calor no Reino Unido. Ainda assim, estes investigadores consideram que há razões para alarme se olharmos para a rapidez com que os avisos do passado estão a tornar-se uma realidade
“Há dois anos, os cientistas do UK Met Office descobriram que a hipótese de ver 40 graus no Reino Unido era agora 1 em 100 num determinado ano, contra 1 em 1000 no clima natural”, disse Fraser Lott, um cientista climático do UK Met Office Hadley Centre, numa declaração. “Tem sido impactante ver este tipo de evento acontecer tão pouco tempo depois desse estudo.”