Rússia desvia forças para defender Kherson da contra-ofensiva ucraniana
Aposta da Ucrânia em reconquistar a região no Sul do país obriga Moscovo a tomar uma posição defensiva e a redistribuir unidades.
Moscovo tem vindo a alterar a sua estratégia ao longo desta semana e encontra-se, neste momento, a redistribuir forças militares para defender Kherson, no Sul do país, segundo autoridades ucranianas citadas pela Reuters. Esta região, tomada pelos russos desde 3 de Março, tem sido alvo de uma contra-ofensiva da Ucrânia, que já anunciou que tem como reconquistá-la até ao final de Agosto.
Nos últimos dias, a Ucrânia utilizou os sistemas de mísseis de longo alcance fornecidos pelo Ocidente para bombardear três pontes sobre o rio Dnieper, tornando mais difícil para a Rússia reabastecer as suas forças localizadas na região. Os serviços de informações britânicos disseram, inclusivamente, que a estratégia estava a começar a isolar o exército russo na região de Kherson. "A perda deste território prejudicaria severamente as tentativas da Rússia de pintar a ocupação como um sucesso”, pôde ler-se num comunicado do Ministério da Defesa do Reino Unido.
"O 49.º Exército da Rússia, estacionado na margem Oeste do rio Dnieper, parece agora altamente vulnerável”, consideram os britânicos.
Um ataque ucraniano na quarta-feira à ponte Antonovskii, a única ligação para a cidade de Kherson, provocou o seu encerramento ao tráfego e forçou a Rússia a abrir um serviço de ferries, cuja rota, segundo anunciou, mudará constantemente por razões de segurança.
Ao mesmo tempo que prepara a defesa no Sul, a Rússia continua a sua estratégia de ataques aéreos contra outros alvos na Ucrânia. Esta quinta-feira, as forças russas dispararam um total de 25 mísseis em direcção a regiões no Norte do país a partir de território da Bielorrússia. O ataque, que aconteceu no dia em que a Ucrânia celebrava pela primeira vez o Dia do Estado, atingiu um bloco de apartamentos na localidade de Chernihiv, vários locais em Kiev e em redor da cidade de Zhitomir, revelaram funcionários ucranianos e bielorrussos.
This morning started for Ukrainians with 10s of missiles launched from territory of Belarus & by Russian forces.
— Euromaidan Press (@EuromaidanPress) July 28, 2022
They targeted infrastructure objects in Kyiv, Chernihiv, Kharkiv oblasts. A??school & yacht club were damaged in Mykolayiv, a house in Toretsk https://t.co/rJH1w4osQ5 pic.twitter.com/zAzIK7MLeD
Em Kiev, o governador regional, Oleksiy Kuleba, revelou que o distrito de Vyshgorod, a norte da capital, foi atingido com um míssil. “Esta manhã, o inimigo lançou um ataque com míssil contra uma das comunidades do distrito de Vyshgorod”, afirmou. Na mesma altura, as autoridades da cidade de Kiev fizeram soar as sirenes que alertaram para a possibilidade de um ataque aéreo e pediram aos habitantes da capital que procurassem abrigo.
A Rússia bombardeou também a região de Mikolaiv, no Sul do país, num ataque que provocou cinco mortos e 25 feridos, segundo revelou o governador regional. “Cinco pessoas morreram na sequência de um ataque com mísseis que ocorreu em Kropivnitskii às 12h22. Outras 25 pessoas ficaram feridas, das quais 12 são militares e são 13 civis”, afirmou Andrii Raikovich, citado pela agência ucraniana Ukrinform.
A acrescentar a estes avanços, as forças russas capturaram a segunda maior central eléctrica da Ucrânia, revelou um assessor do Presidente ucraniano. A conquista da central de Vuhlehirsk, no leste da Ucrânia, é a primeira vitória estratégica de Moscovo em mais de três semanas. “Eles conseguiram uma pequena vantagem táctica: capturaram Vuhlehirsk”, afirmou Oleksiy Arestovych numa entrevista publicada no YouTube, confirmando que a Rússia está a realizar uma enorme mobilização das suas tropas para três regiões do Sul da Ucrânia.
Ainda esta quinta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros dos Estados Unidos, Antony Blinken, revelou que irá ter, “nos próximos dias”, a primeira conversa com o homólogo russo, Serguei Lavrov, desde o início da invasão russa Ucrânia. A conversa irá decorrer por telefone e o secretário de Estado norte-americano especificou, durante uma conferência de imprensa, que “não será uma negociação sobre a Ucrânia”, mas deverá ser principalmente dedicada aos norte-americanos detidos na Rússia e à retoma das exportações de cereais ucranianos.