Transplantes associados à hepatite C diminuíram nos últimos quatro anos

Programa Nacional para as Hepatites Virais associa este decréscimo ao “uso generalizado” dos tratamentos à hepatite C. Esta quinta-feira assinala-se o Dia Mundial das Hepatites.

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Desde 2015 até 5 de Janeiro deste ano, já foram autorizados cerca de 30 mil tratamentos à hepatite C Rui Gaudêncio

O número de transplantes hepáticos associados à hepatite C mostra uma tendência de diminuição, refere o relatório de 2022 do Programa Nacional para as Hepatites Virais, que associa este decréscimo ao “uso generalizado” dos tratamentos à hepatite C. Também os internamentos por cirrose associada a hepatite C registaram uma redução, revela o documento divulgado pela Direcção-Geral da Saúde.

Diz o relatório que nos últimos quatro anos – de 2018 a 2021 – “parece existir uma tendência decrescente da percentagem de hepatites virais, B e C nas indicações para transplante hepático”. Citando dados do Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST), salienta que “a percentagem de transplantados com hepatite B foi de 7%, 3%, 6% e 4% e de hepatite C de 17%, 16%, 11% e 11%, no período entre 2018 e 2021, respectivamente”. “Importa também avaliar o peso do carcinoma hepatocelular e a sua relação com as cirroses hepáticas B e C”, ressalva o programa.

Em termos absolutos, quer em 2018 como em 2019 realizaram-se 39 transplantes hepáticos em doentes com hepatite C, números que desceram para 21 em 2020 e para 24 em 2021. Lê-se no documento que “parece existir uma tendência para redução do número de casos de transplante hepático associado à hepatite C, decorrente do uso generalizado dos antivíricos de acção directa, de acordo com os dados do IPST”. Quanto a transplantes hepáticos em doentes com hepatite B, em 2018 foram 17 enquanto no ano passado foram oito. Também houve uma redução do número de casos de hepatite B e C entre os dadores de órgãos e de sangue.

O relatório também faz referência a um estudo publicado em Abril do ano passado que analisa a evolução dos internamentos por cirrose hepática de 2010 a 2017. “É interessante verificar a redução dos internamentos por cirrose associada a hepatite C em Portugal a partir de 2015 de 424 casos para 313 em 2016 e para 206 em 2017. A descida para quase metade coincide com o início da medicação antiviral em 2015”, lê-se no documento. Nesse ano ficaram disponíveis medicamentos que têm uma taxa de cura a rondar os 95%.

De acordo com os últimos dados disponíveis, desde 2015 até 5 de Janeiro deste ano, já foram autorizados cerca de 30 mil tratamentos à hepatite C, dos quais mais de 28 mil já foram iniciados. Há mais de 18 mil doentes dados como curados, o que representa uma taxa de cura de 96,7%. “Da avaliação da evolução do número de tratamentos por ano, destaca-se uma redução superior a 40% no número de tratamentos iniciados nos anos 2020 e 2021, podendo reflectir o impacto da pandemia covid-19”, aponta o relatório, que salienta o número de testes de diagnóstico realizado em 2021, que foi superior a 200 mil.

Um dos focos do programa tem sido as populações em situação de maior vulnerabilidade, onde se inclui a população reclusa. Desde 2018 que foram implementados modelos de diagnóstico e tratamento através de protocolos entre os estabelecimentos prisionais e os hospitais do SNS, que já mostram resultados. Em 2021, as prevalências de hepatite B e hepatite C eram de 1,9% e 7,3%, quando em 2016 eram 2,38% e 12,26%, respectivamente.

Dos 24 centros hospitalares em que foi possível recolher informação, foi possível perceber que foram realizadas 1986 consultas nos estabelecimentos prisionais e identificados 601 reclusos com anticorpo VHC positivo, dos quais 455 reclusos apresentavam RNA positivo. Foram iniciados 398 tratamentos e “documentou-se a resposta virológica sustentada em 331 doentes”. A ausência de resposta ao tratamento verificou-se em menos de 1% dos casos.

19 casos prováveis de hepatite de causas desconhecidas

O relatório também analisa dos casos de hepatite aguda de causa desconhecida em crianças. O primeiro caso suspeito em Portugal foi reportado a 28 de Abril deste ano e até ao dia 3 de Julho foram registados 19 casos prováveis. Segundo o documento, “não ocorreu nenhum óbito nem foi realizado nenhum transplante”.

A maioria destes casos registou-se na região de Lisboa e Vale do Tejo (9), seguindo-se o Norte (5), o Algarve (3), o Centro (1) e Região Autónoma da Madeira (1). “A maioria dos casos iniciou sintomas entre Abril e Maio”, lê-se no documento, que refere que “cerca de um terço (6) dos casos eram do sexo feminino e dois terços dos casos eram do sexo masculino”. A média de idades à data de início de sintomas era de 3,4 anos. Uma das crianças era residente em França.

Não foram descritas complicações, mas “dezasseis casos necessitaram de internamento hospitalar”. Destes, 12 tinham informação da data de alta, “sendo a duração média de internamento de 7,8 dias (mediana 5, mínimo 1, máximo 35)”. Quatro crianças apresentavam uma co-morbilidade.

Quanto aos sintomas mais comuns, foram náuseas e vómitos (68,4%), anorexia (52,6%), febre (50,0%), diarreia (42,1%) e dor abdominal (31,2%). Quatro dos 19 casos apresentaram icterícia (21,1%). Diz o relatório que “foi interessante verificar que a maioria dos casos apresentam sintomas gastrointestinais pouco expressivos e que foi a componente laboratorial da função hepática (valores altos de transaminases) que permitiu identificar casos prováveis”.

“Do total de casos com resultado laboratorial disponível, foi identificado adenovírus em 27,8% (5 em 18) e SARS-CoV-2 em 28,6% dos casos (4 em 14 testados)”, refere o documento, que acrescenta que se mantêm em investigação as possíveis causas da doença. Uma das principais hipóteses é a de estar relacionada com a infecção por adenovírus.

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