Cristiano Ronaldo foi a Manchester à procura de saída honrosa

Internacional português arrisca futuro próximo em nome da 20.ª presença consecutiva na Liga dos Campeões, tendo-se apresentado em Inglaterra na companhia do agente Jorge Mendes.

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Cristiano Ronaldo Reuters/PHIL NOBLE

Cristiano Ronaldo assomou, esta terça-feira - um mês depois de o treinador neerlandês Erik ten Hag ter dado início à pré-temporada dos “red devils” -, no centro de treinos do Manchester United. O internacional português fez-se acompanhar do seu agente, Jorge Mendes, prenúncio de negociações que a imprensa inglesa reputa de inconclusivas. Já o clube britânico apostou na presença de sir Alex Ferguson, o treinador que o próprio atleta considera ser o seu pai futebolístico, numa tentativa de falar ao coração do jogador.

O reencontro do internacional português com o Manchester United deu-se em Carrington, no dia em que o plantel dos “red devils” se reuniu pela primeira vez depois da digressão pelo extremo oriente e Oceânia (Tailândia e Austrália), de que Cristiano esteve ausente por questões pessoais.

Em Manchester, numa altura em que as manchetes dos tablóides um pouco por todo o mundo já colocaram o avançado madeirense e maior goleador de sempre na rota de emblemas como Bayern Munique, Chelsea, PSG, Real Madrid, Barcelona, Sporting e, mais recentemente, Atlético de Madrid, o sentimento de uma facção de adeptos é de insatisfação, podendo resumir-se na expressão “just leave!”, algo como “limita-te a sair”.

Opinião que o clube não parece partilhar. Com mais um ano de contrato, os proprietários do Manchester United não demonstram qualquer desejo de libertar Cristiano. Erik ten Hag poderia ajudar a desbloquear o impasse caso estivesse disposto a prescindir do camisola sete, que aos 37 anos continua a ser um dos elementos mais relevantes, tendo sido o melhor marcador da equipa, com 18 golos na Premier League e 6 na Champions.

Isto, apesar de o enquadramento do avançado num sistema de jogo de alta pressão se tornar um desafio para o técnico, atendendo, segundo dados recentemente publicados pelo The Guardian, ao facto de Ronaldo ter sido o jogador de campo (exceptuando os defesas centrais) com menos acções de pressão nas cinco principais Ligas europeias.

O sucessor do técnico alemão Ralf Rangnick afirmou a 11 de Julho, já na Tailândia, que conta com Cristiano Ronaldo e que estava ansioso por poder trabalhar com o português, que agora poderá explicar de viva voz ao treinador as reais expectativas.

De resto, a adequação à exigência de um modelo que privilegia o colectivo, pode ser a justificação para o aparente desinteresse dos grandes clubes europeus na contratação de uma estrela como Cristiano, que se encontra numa zona cinzenta, especialmente depois de ter rejeitado uma proposta das arábias, o que poderia indiciar a entrada na última fase da carreira.

Disposto a sair para poder disputar pela vigésima vez consecutiva a maior prova europeia de clubes, onde soma vários recordes nos mais de 180 jogos disputados, com destaque para os 140 golos marcados e os cinco troféus conquistados, Cristiano Ronaldo poderá encontrar um compromisso capaz de satisfazer jogador e clube, o que passará pela renovação até 2024 com empréstimo em 2022/23. A suposta falta de ambição do clube, sem reforços de peso, e a perspectiva de uma redução salarial, são factores que pesam igualmente na tomada de decisão. Ainda que Ronaldo não excluísse uma perda de rendimento para poder disputar a Liga dos Campeões.

O Atlético de Madrid poderia ser a solução possível, apesar da reacção intempestiva dos adeptos dos “colchoneros”, que encetaram um movimento para demover o presidente Enrique Cerezo. O líder do Atlético desde 2002, um produtor cinematográfico de 74 anos, disse laconicamente a este respeito que o clube já tem tudo, deixando a pergunta: “Que mais podemos pedir?”.

Agora, em entrevista concedida ao programa de rádio El Partidazo de COPE, Cerezo foi mais assertivo: “Não sei quem inventou esta história sobre Cristiano Ronaldo no Atlético de Madrid. Definitivamente, não é verdade. É praticamente impossível”.

Talvez porque a operação implicaria um esforço financeiro que obrigaria o rival do Real Madrid a desfazer-se de outros activos para poder respeitar as imposições da La Liga.

Habituado a superar os maiores obstáculos no campo pessoal, desde a morte do pai ao longo processo judicial arquivado há um mês e meio, Cristiano Ronaldo vive um momento delicado, depois de um ano de provação com a perda de um filho uma semana depois de ter estado sob escrutínio por causa de uma reacção intempestiva com um jovem adepto.

Com a carreira na berlinda, mais do que a saída de Manchester, Cristiano precisa de uma saída honrosa.

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