Glaciar a derreter está a mudar de sítio a fronteira entre a Suíça e a Itália
Pousada que estava totalmente sobre solo italiano há cerca de 40 anos, quando foi construída, está agora entre os dois países.
Na cordilheira dos Alpes, o derretimento do glaciar de Theodul tem sido tão expressivo que a fronteira entre a Suíça e a Itália está a mudar de sítio. E isso tem provocado uma polémica. O Rifugio Guide del Cervino é uma pousada montanhosa que, teoricamente, fica no vale de Aosta, região italiana que faz fronteira com a França e a Suíça. Com o derretimento do glaciar, a pousada tem passado para território suíço.
Quando o Rifugio Guide del Cervino foi construído, em 1984, ele estava inteiramente sobre solo italiano. Quase 40 anos depois, o cenário é bastante diferente. Dois terços da pousada, incluindo a maioria das camas e o restaurante, encontram-se, tecnicamente, na zona Sul da Suíça.
Acolhendo turistas que desejam visitar os Alpes e também explorar aquela que é uma das maiores estâncias de esqui do mundo, o Rifugio Guide del Cervino é interessante do ponto de vista económico. Será por isso que tem havido uma disputa relativamente à sua localização legal. A agência France-Presse (AFP) explica que, em 2018, começaram a acontecer “negociações diplomáticas” entre França e Suíça. Dessas negociações terá resultado, no ano passado, um acordo, mas os detalhes do mesmo ainda não são conhecidos publicamente.
Lucio Trucco, homem italiano de 51 anos que a AFP identifica como um dos responsáveis pelo Rifugio Guide del Cervino, não se entusiasma com a (para já hipotética) ideia de, um dia, a pousada montanhosa vir a ser reconhecida legalmente como uma pousada suíça. “A pousada continua a ser italiana porque fomos sempre italianos. O cardápio é italiano, o vinho é italiano e os impostos são italianos”, diz.
O derretimento do glaciar tem feito a fronteira entre Itália e Suíça mudar de sítio porque tem alterado as coordenadas da bacia hidrográfica que separa os dois países.
De acordo com dados mostrados exclusivamente à agência Reuters, os glaciares dos Alpes têm derretido a uma velocidade preocupante. E, este ano, podem estar a perder as maiores quantidades de cobertura em pelo menos seis décadas — o que é especialmente relevante, tendo em conta que só há seis décadas é que o seu derretimento começou a ser monitorizado.
Se as emissões de gases com efeito de estufa (GEE) continuarem a aumentar, prevê-se que os glaciares dos Alpes percam mais de 80% da sua cobertura actual até 2100. Se conseguirmos reduzir essas emissões, os resultados serão sempre ligeiramente menos drásticos, mas há uma pegada de destruição que já não poderá ser apagada. Devido ao historial de emissões passadas, muitos glaciares desaparecerão mesmo que se tomem acções extraordinariamente ambiciosas relativamente às emissões de GEE.