Casa das Ciências

Comunicar ciência? Conteúdos jornalísticos na sala de aula? Oficina do PÚBLICO na Escola ajuda a encontrar respostas

VII Encontro Internacional Casa das Ciências, no Porto, contou com oficina “Comunicar Ciência com o PÚBLICO na Escola”, dinamizada por Luísa Gonçalves, coordenadora do projeto, e Teresa Firmino, editora de Ciência do PÚBLICO.

PALESTRA SOBRE JORNALISMO DE CIENCIA DO PUBLICO NA ESCOLA NO INSTITUTO DE ENGENHARIA DO PORTO�
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Atualidade, fiabilidade e interação social - algumas das mais valias da utilização de conteúdos jornalísticos em contexto de sala de aula. ADRIANO MIRANDA/PUBLICO
PALESTRA SOBRE JORNALISMO DE CIENCIA DO PUBLICO NA ESCOLA NO INSTITUTO DE ENGENHARIA DO PORTO�
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Professores de Biologia, Geologia, Matemática e Físico-Química de diferentes anos de escolaridade à volta da mesma mesa. ADRIANO MIRANDA/PUBLICO
PALESTRA SOBRE JORNALISMO DE CIENCIA DO PUBLICO NA ESCOLA NO INSTITUTO DE ENGENHARIA DO PORTO�
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Os docentes tiveram oportunidade para dialogar e esclarecer dúvidas com as formadoras. ADRIANO MIRANDA/PUBLICO
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A relação entre o jornalismo e o ciência. Teresa Firmino, editora de Ciência do PÚBLICO, esclareceu e levantou questões. DR

O dia já tinha começado no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto quando, aos poucos, dezassete professores que se tinham inscrito na oficina “Comunicar Ciência com o PÚBLICO na Escola” iam entrando na sala que lhe havia sido destinada. Estão habituados a estar do lado de lá, de quem abre a porta da sala de aula, mas no VII Encontro Internacional Casa das Ciências voltaram às mesas em que se senta quem está a aprender. Ensinam Matemática, Físico-Química, Biologia e Geologia, Na manhã de quinta-feira, 21 de julho, entre as 9 e as 13h, juntaram-se para saber como é que se comunica ciência num jornal diário, e como se pode trabalhar o jornal como ferramenta pedagógica.

Foi por aí que começou a manhã de formação. Luísa Gonçalves, coordenadora do PÚBLICO na Escola, apresentou o projeto e explicou a mais-valia de levar o jornal para a sala de aula. A partir de notícias, entrevistas e reportagens, os alunos “ficam em contacto com a atualidade, conseguem gerir e digerir a informação”. Partilhou ainda os cerca de cinquenta desafios que criou a partir de conteúdos do PÚBLICO e que podem ser consultados no site do PÚBLICO na Escola. Para os professores na oficina, que mostraram interesse em levá-los para o contexto de aula no próximo ano letivo, foi uma introdução que se revelou útil.

Teresa Firmino, jornalista e editora de Ciência do PÚBLICO, juntou-se à manhã de formação para falar sobre o tema que dava nome à oficina: comunicar ciência. Entre os tópicos da formação pontuada por histórias pessoais, partilhou com os professores que ali estavam as principais diferenças entre a comunicação de ciência num jornal e no contexto de investigação. O que é um erro para o jornalista e para o cientista? O que é um embargo? O que é que muda na linguagem de um jornalista e de um cientista quando falam sobre o mesmo assunto?

Num dos momentos abertos a questões, um dos professores perguntou se os textos jornalísticos são lidos pelos cientistas antes de serem publicados. Não, responderam depois da editora de Ciência enumerar alguns pontos a ter em consideração no trabalho jornalístico. “Achei muito interessante esta pergunta, até porque a resposta acabou por ser antecipada por toda a gente na sala”, disse Teresa Firmino ao PÚBLICO na Escola.

Houve ainda outra questão que se levantou e que acabou por se revelar pertinente para todos: “Levo muitas notícias do PÚBLICO para as minhas aulas, mas não consigo que os meus alunos se interessem por notícias mais longas. Como é que posso mudar isso?”, perguntou João Cruz, que leciona Físico-Química ao 9.º ano. O professor da EB 2/3 da Areosa, no Porto, preocupa-se com a falta de espaço que existe no ensino atualmente para alimentar a curiosidade dos alunos, que se mostram interessados em saber mais, mas que nem sempre conseguem explorar os assuntos que chamam a sua atenção. “Não há tempo”, diz.

Comunicar ciência hoje

Vivemos tempos mediatizados em que a proximidade entre os mundos da educação e dos media é “crucial para termos alunos melhor informados, e mais capazes de tomarem decisões”. Quem o diz é Luísa Gonçalves, que além de ter trinta anos de experiência enquanto professora, se especializou na área da educação para os media. A coordenadora do PÚBLICO na Escola diz que a pandemia tornou visível esta urgência, já que se por um lado foi através dos media que nos mantivemos informados, foi também através deles que se divulgaram e expandiram notícias falsas. “Perante estes fenómenos ninguém está imune, mas com toda a certeza podemos estar mais preparados para os enfrentar se tivermos na nossa posse ferramentas para os perceber e lidar com eles.”

Da experiência de João Cruz, os alunos do ensino secundário “têm muita concepção científica” e “não vão facilmente pela teoria da conspiração”, mas “são muito susceptíveis à absorção de conteúdos rapidamente”. “Não têm tempo para pensar”. Se para Luísa Gonçalves estes são tempos mediatizados, para o professor de Físico-Química são tempos de imediatismo. Nota que os jovens são ávidos consumidores de redes sociais e sabe que é por lá que se informam, mas não acredita que a solução seja cortar o acesso a estas plataformas. “Acho que o que se deve fazer é entrar por ali e alimentar estes espaços de outra forma. Poder trabalhar o que é a notícia factual, o comentário e a opinião através das redes sociais”, sugere.

Com a partilha de notícias do PÚBLICO nas suas aulas, João Cruz procura estimular a curiosidade para o que não é “de fácil absorção”. Através dos conteúdos do jornal pode falar sobre o que há de novo, o que não está ainda nos manuais escolares mas é matéria de interesse para reflexão. Teresa Firmino, que escreve algumas dessas notícias que o professor partilha com os alunos, sublinha que “o mundo é muito complexo e o jornalismo dá-nos uma outra visão da realidade, com outra leitura sobre as coisas”. “Pode até permitir-nos não só compreender melhor o que se passa à nossa volta, como dar-nos um pensamento crítico sobre o mundo. E até ao nível de decisões pessoais como se nos vacinamos ou como nos temos de proteger de doenças.”

Apresentado este ano, o Azul, projeto de informação do PÚBLICO dedicado à biodiversidade, sustentabilidade e à crise climática, esteve em grande destaque ao longo da manhã. Alguns professores já conheciam e seguiam, inclusive, através das redes sociais. Com conteúdos focados na ciência e abertos a todos, o Azul tem dado espaço a grandes nomes da investigação e a jovens ativistas pelo clima, sempre com o propósito de informar e incluir o maior e mais plural número de vozes que pensam a ciência e o ambiente.

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A fechar a sessão, os professores escolheram diferentes trabalhos de ciência do PÚBLICO e exploraram o seu potencial pedagógico. DR

A pergunta de João Cruz tornou-se um prenúncio da parte prática desta oficina. Numa mesa, os professores podiam encontrar diversos trabalhos de ciência do PÚBLICO. Teriam de escolher um e pensar em possíveis atividades/estratégias para os abordar em contexto de sala de aula. As respostas estavam, afinal, do seu lado.

O jornalismo que inspira e faz sonhar

Enquanto na sala da oficina do PÚBLICO se pensava em soluções conjuntas para introduzir o jornal nas aulas, noutras salas decorriam outras oficinas dirigidas a professores de ciências. Neste VII Encontro Internacional da Casa das Ciências, projeto de apoio a professores da área que existe há quase 15 anos, o tema central era o “Clima e Sustentabilidade”. Se não fosse a pandemia, esta teria sido a IX edição. Manuel Silva Pinto, Presidente da Comissão Organizadora do evento da Casa das Ciências, partilha que depois de uma pausa de dois anos, a expectativa para esta edição era muito alta e acabou por ficar aquém. Na edição anterior, em Lisboa, foram cerca de 1100 as pessoas que se juntaram para pensar a ciência, desde vez rondaram as 450. Ainda assim, “a qualidade mantém-se”.

Como tem sido habitual, professores do 1.º ciclo até ao ensino superior puderam inscrever-se nas oficinas que queriam fazer, este ano com a possibilidade de também os docentes da área da geografia poderem participar. Da programação elementar à astronomia, passando pelos desafios do professor hoje, o programa que decorreu ao longo de três dias — 20, 21 e 22 de julho — era diverso e contava com profissionais das mais diversas áreas das ciências.

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Engenheiro Manuel Silva Pinto, Presidente da Comissão Organizadora do evento da casa das Ciência ADRIANO MIRANDA/PUBLICO

Da oficina do PÚBLICO na Escola, o engenheiro Manuel Silva Pinto destaca a pertinência de pensar e perceber a comunicação para a ciência nos dias que correm. Comunicar ciência hoje é tão desafiante como fundamental, garante. E se a comunicação para a ciência é importante para nos tornar cidadãos mais conscientes, Teresa Firmino destaca a capacidade do jornalismo de ciência para “nos inspirar e fazer sonhar”.

No encontro entre a escola e os media pode estar a plataforma para que esses sonhos cresçam. “Cada vez mais, o professor deve assumir o papel de orientador e mediador que ajuda a aceder a informação credível, a desconstruí-la e a torná-la acessível a todos os alunos. Levar os media para a escola é a melhor maneira de o fazer. Perceber as linguagens, códigos e significados dos diferentes media e participar nos seus processos de construção é o maior contributo para a literacia”, conclui Luísa Gonçalves.