Varíola-dos-macacos: mais de quatro mil casos confirmados esta semana, Portugal tem mais 73

Esta semana foram confirmados mais de quatro mil casos em todo o mundo. Comité de Emergência da Organização Mundial da Saúde volta a reunir para decidir se declara este surto uma emergência internacional de saúde pública.

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Vacinação em Portugal está em marcha desde a semana passada EDUARDO MUNOZ/REUTERS

Portugal tem agora 588 casos confirmados de varíola-dos-macacos. Desde a última quinta-feira, somaram-se 73 novas infecções, conforme indica o relatório semanal agora publicado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS). No primeiro dia de vacinação, ou seja, na última sexta-feira, foi administrada a vacina em três contactos de risco, de acordo com os dados disponibilizados.

Em todo o mundo, há mais de quatro mil casos confirmados esta semana: os infectados já superam os 15 mil. De acordo com os dados dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, apenas 243 casos foram registados desde Maio em países onde o vírus já está habitualmente presente. O surto global de varíola-dos-macacos (monkeypox ou VMPX) já afectou 65 países em todos os continentes – a maioria pela primeira vez na sua história.

Espanha continua a ser o país mais afectado, superando os três mil casos confirmados no seu território. Destaque ainda para Estados Unidos (2322), Reino Unido (2137), Alemanha (2110) e França (1453), os países com mais de um milhar de infectados diagnosticados até esta quinta-feira.

Em Portugal, os casos diagnosticados são maioritariamente na região de Lisboa e Vale do Tejo (805), sendo que apenas uma mulher está infectada. Todos os restantes casos confirmados são homens, a maioria abaixo dos 45 anos.

Esta quinta-feira foi ainda divulgado um artigo de investigadores neerlandeses sobre a detecção de VMPX numa criança nos Países Baixos. A criança terá menos de dez anos e, apesar da investigação aprofundada das autoridades de saúde locais, não existe qualquer contacto conhecido com outras pessoas infectadas, nem com quaisquer homens que têm sexo com outros homens (um factor que tem sido apontado recorrentemente pelas autoridades de saúde). A criança está estável, mas os investigadores alertam para a necessidade de maior diagnóstico e capacidade de identificação de casos. No artigo publicado na revista científica Eurosurveillance, os autores advogam ainda a vacinação preventiva de grupos de risco.

Antivirais e mais doses de vacinas

A vacinação em Portugal já avançou na última semana, depois da publicação da norma técnica de vacinação pela DGS. A orientação indica que apenas os contactos de risco são elegíveis para a vacinação após a exposição ao vírus através de um contacto suspeito ou confirmado. Portugal recebeu 2700 doses da vacina no final de Junho, como resultado da compra conjunta de vacinas pela Comissão Europeia

Na última sexta-feira, fonte oficial da Comissão Europeia confirmou ao PÚBLICO que avançará também a compra conjunta de antivirais para a varíola-dos-macacos. A compra será realizada a partir da agência europeia HERA (sigla em inglês para Autoridade Sanitária de Resposta e Emergência), que também contratualizou a compra das vacinas em Junho. A perspectiva de compra de medicamentos já existia desde final de Maio, mas só agora irá ser concretizada.

Apesar de não confirmarem o nome do medicamento em causa, o único antiviral aprovado na Agência Europeia do Medicamento para uso contra esta doença é o tecovirimat. Este fármaco é também recomendado pela Organização Mundial de Saúde, tendo-se mostrado promissor na diminuição do período de contágio e dos sintomas. Os dados sobre estes efeitos em pessoas infectadas com varíola-dos-macacos (monkeypox ou VMPX) são, no entanto, escassos.

Já esta semana, a comissária europeia, Stella Kyriakides, adiantou que foram encomendadas mais 54 mil doses de vacinas de terceira geração contra a varíola. É a segunda tranche encomendada pela entidade europeia à farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic, depois de uma primeira encomenda de 110 mil doses. Estas doses não se resumem à vacinação dentro da União Europeia, estando uma parte reservada para doações a outros países fora deste grupo – número que ainda não foi revelado.

Em resposta ao PÚBLICO, Stella Kyriakides dizia-se preocupada com o recente aumento de casos no espaço europeu: “Estou preocupada com o número crescente de casos notificados de VMPX na União Europeia (UE) e em todo o mundo. Temos agora cerca de 6000 casos confirmados na UE, isto é um aumento de mais de 50% desde a última semana”, afirmou a comissária europeia para a saúde numa resposta por e-mail.

OMS reúne comité de emergência

Também esta quinta-feira, voltou a reunir o Comité de Emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS) para reavaliar a decisão de não considerar este surto uma emergência internacional de saúde pública. A decisão deverá ser conhecida nos próximos dias.

Há um mês, o comité descartou avançar com esta declaração, mas volta agora a rever a decisão, a pedido do director-geral, Tedros Adhanom Grebreyesus. Se o surto actual de VMPX for considerado uma emergência internacional, as consequências serão sobretudo de carácter simbólico: reforço do alarme perante esta doença e alerta para a necessidade de vigilância dos estados-membros da OMS.

No discurso de abertura da reunião desta quinta-feira, o director-geral da OMS mostrou-se preocupado com a subida no número de casos, apontando para a necessidade de colaboração internacional e de não contribuir para a estigmatização de homens que têm sexo com homens – que têm sido mais diagnosticados com a doença entre os casos em que tal é perguntado.

Desde a primeira reunião, os casos confirmados em países onde o vírus não está habitualmente presente mais do que triplicaram. A declaração de emergência internacional de saúde pública é o nível mais alto de alerta que a OMS pode decretar. Este estado é definido pela OMS como um evento extraordinário, grave ou inesperado que tem implicações na saúde pública para além das fronteiras de um país e que pode exigir uma acção internacional imediata e concertada.

Até este ano só foram declaradas seis emergências internacionais, todas após 2009: covid-19 (2020), surto de ébola na República Democrática do Congo (2019), zika (2016), surto de ébola na África Ocidental (2014), e a pandemia da gripe com vírus H1N1 (2009). Como observado nos casos anteriores, a declaração não desbloqueia novas medidas ou financiamento, mas implica a posição da OMS de que este é um surto internacional, com necessidade de cooperação além-fronteiras.

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