Taxas estão a subir. Como é que isso afecta o orçamento das famílias?
Depois de sete anos em valores negativos, foram precisos poucos meses para empurrar as taxas Euribor para terreno positivo, uma inversão feita a um ritmo acelerado e impulsionada pela expectativa de subida de taxas pelo BCE, agora confirmada.
As taxas Euribor, nos principais prazos utilizados nos empréstimos a famílias e empresas, ou ainda em alguns produtos de poupança – e que são de três, seis e 12 meses –, estão a subir de forma acelerada, antecipando valores que se esperavam apenas para o próximo ano.
A taxa Euribor a três meses atingiu esta quinta-feira 0,145%, um máximo desde Outubro de 2014. A seis meses, o prazo mais utilizado no crédito à habitação, fixou-se em 0,632%, um valor que não era registado há 10 anos. E a de 12 meses, muito utilizada nos empréstimos depois de 2015, está em 1,142%, também o valor mais alto dos últimos 10 anos.
Há poucos meses, esperava-se que o prazo de 12 meses ficasse acima de 1,2% apenas no final do ano, sendo a expectativa do mercado agora que essa taxa possa chegar aos 2% em 2023. Os restantes prazos da Euribor têm vindo a acompanhar esta tendência.
Porque sobem as taxas Euribor?
As taxas Euribor acompanham as tendências da política monetária do Banco Central Europeu (BCE), antecipando as suas decisões relativamente à subida ou descida das taxas directoras. E o banco central acaba de aumentar as taxas directoras em 0,5 pontos percentuais, acima do inicialmente previsto, que era de 0,25 pontos.
As Euribor são ainda “sensíveis” a outros riscos, nomeadamente económicos e políticos, o que explica parte da discrepância do valor das taxas de mercado – fixadas a partir dos empréstimos que um conjunto alargado de bancos está disponível para realizar entre si – e as taxas directoras do banco central.
A tendência é de continuação de subida?
Sim. Ao ritmo, sobretudo, da dimensão das subidas das taxas directoras do BCE, que continuará a procurar responder a situações como os elevados níveis de inflação na zona euro, entre outras.
Qual é o impacto no crédito das famílias?
É imediato para quem vai pedir empréstimos à habitação associados a estas taxas. Essa tem sido a opção seguida na maioria dos empréstimos para este fim. A outra possibilidade, a das taxas fixas, continua a ter um peso reduzido em Portugal, porque são mais altas, embora não sofram alterações durante o prazo fixado.
Os novos valores também vão chegar ao universo de contratos associados às Euribor, porque estes estão sujeitos a renovações periódicas, a três, a seis e 12 meses, conforme o prazo da taxa utilizada.
Quanto pode subir a prestação da casa?
Depende muito da dimensão do empréstimo, mas podemos estar a falar de algumas dezenas, ou mesmo em torno de uma centena de euros. Uma simulação recente do Banco BPI, para um empréstimo de 120 mil euros, a 33 anos, aponta para um agravamento em torno de 100 euros na prestação mensal, no final de 2022, em comparação com o que se pagava no final de 2021. Este cálculo tem subjacente uma Euribor a 12 meses em 1,2% em Dezembro, praticamente o valor diário que apresenta esta quinta-feira.
A subida da Euribor tem alguma vantagem?
Sim, para quem tem poupanças, especialmente para quem tem produtos com rentabilidade associada a estas taxas. É o caso dos certificados de aforro. Nos últimos anos, a Euribor negativa foi “roubando” valor ao prémio fixo, de 1%, o que agora chegou ao fim. A taxa de juro bruta para novas subscrições e capitalizações da Série E (a única aberta) no corrente mês de Julho foi fixada em 0,81% brutos (0,6% líquidos), depois de ter descido até 0,411% em Janeiro, e será mais alta em Agosto. O impacto também deverá chegar aos depósitos a prazo, mas de forma muito mais lenta, e muito dependente das condições de financiamento dos próprios bancos. Em Maio, a taxa média dos depósitos a 12 meses estava em 0,04%, mínimo histórico.
Que efeito tem a subida das taxas Euribor noutros empréstimos?
A tendência de subida das taxas directoras do BCE e das taxas do mercado monetário (Euribor) agravam o custo de financiamento dos particulares noutros empréstimos, como no crédito ao consumo, que ainda não é muito visível, mas também às empresas. Neste último caso, boa parte da taxa de juro desses créditos está associado às Euribor, ou ao risco, reflectido nos spreads (margem comercial fixada pelas instituições financeiras), que tendem a aumentar quando a conjuntura económica é negativa.
O que fazer para suportar o aumento da prestação?
O diagnóstico atempado de eventuais dificuldades é fundamental para evitar rupturas no pagamento de créditos, que têm consequências graves no futuro. Para isso, as famílias podem tentar simular o impacto de uma subida das taxas de juro em 1%, 2%, ou mais. O simulador do site Todos Contam é fácil de utilizar. Também podem pedir ajuda ao próprio banco ou recorrer a centros de apoio, como o da Deco.
Que soluções há para travar ou reduzir a prestação?
As famílias podem sempre tentar negociar com o banco algumas medidas, como a alteração do prazo dos contratos, o diferimento de parte do capital (a pagar na última prestação do empréstimo), a criação de períodos de carência de capital e juros ou outros.
Estas alterações têm impacto no custo total do empréstimo, pelo que devem ser bem ponderadas, e devem ser feitas preferencialmente junto do próprio banco.
O recurso a empresas especializadas, como os intermediários de crédito, deve ser feito com especial cuidado quanto à sua idoneidade, bem como tendo o conhecimento prévio de custos. A lista dos intermediários de crédito autorizados está publicada no Portal do Cliente Bancário, do Banco de Portugal.