Bancos da zona euro estão mais restritivos na concessão de crédito a particulares e empresas
Maior incerteza económica está a tornar mais difícil o acesso a novos empréstimos. Em Portugal, os bancos mantém-se mais optimistas.
Os bancos da zona euro adoptaram critérios “consideravelmente mais restritivos” na concessão de empréstimos a particulares e empresas no segundo trimestre, e admitem mantê-los, ou mesmo reforçá-los até Setembro, em virtude da maior incerteza quanto à subida das taxas de juro e à conjuntura económica em geral.
A conclusão é revelada esta terça-feira pelo Banco Central Europeu (BCE), a partir do inquérito a 153 bancos da zona euro, realizado entre os dias 10 e 28 de Junho. E mostra que 16% dos bancos inquiridos afirmaram ter tornado as condições da concessão de crédito mais restritivas para as empresas no segundo trimestre, quando, no primeiro trimestre apenas 6% tinham admitido esse reforço.
Os bancos portugueses que integram o painel estão entre os que reportaram a aplicação de critérios “ligeiramente mais restritivos em empréstimos de longo prazo a PME”, segundo a informação divulgada pelo Banco de Portugal (BdP) esta terça-feira.
Nos empréstimos aos particulares, concretamente para compra de habitação, o aperto de critérios no conjunto da zona euro, ou seja, a maior cautela quanto ao risco do crédito, verificou-se em 24% das instituições, o que contrasta com o maior optimismo evidenciado nos primeiros três meses, em que apenas 2% admitiram maior exigência na contratação de empréstimos. Também no crédito ao consumo se verificou um “aperto” das condições por parte de 9% dos inquiridos.
Já os bancos portugueses não reportaram alterações significativas nos critérios de crédito à habitação e foram, mesmo, ligeiramente menos restritivos no crédito ao consumo e outros fins. “No crédito a particulares, a situação e perspectivas económicas gerais contribuíram ligeiramente para tornar os critérios mais restritivos, enquanto as pressões exercidas pela concorrência e, no caso do crédito ao consumo, também o nível de tolerância de riscos, contribuíram ligeiramente para os tornar menos restritivos”, explica o BdP.
O contexto de maior incerteza, devido aos constrangimentos na cadeia de abastecimento, os elevados preços da energia e dos factores de produção e à alteração da política monetária do BCE, leva o conjunto das instituições bancárias da zona euro a assumir maior aversão ao risco no terceiro trimestre. Assim, as instituições bancárias da zona euro admitem um aperto nos critérios de magnitude semelhante à do segundo, no crédito a empresas (18%) e a particulares para compra de habitação (24%), e ainda um agravamento nos novos empréstimos ao consumo e outros fins (13%).
No mesmo sentido, os bancos portugueses apontam para “critérios ligeiramente mais restritivos na concessão de crédito, sobretudo de longo prazo, a PME e, no mesmo sentido, no crédito a particulares”.
A procura de empréstimos por parte das empresas aumentou no segundo trimestre, o que pode estar relacionado com o aumento de preços da energia e matérias-primas, ou ainda disrupções nas cadeias de abastecimento.
Já nos particulares, a procura líquida de crédito à habitação diminuiu na zona euro após ter aumentado no primeiro trimestre, o que pode ter sido provocado pelo maior receio em relação à subida das taxas de juro, enquanto a procura de crédito ao consumo e outros empréstimos às famílias continuou a aumentar em termos líquidos. No mercado nacional, a procura de crédito à habitação e empresas aumentou.
A quebra na procura líquida de crédito à habitação nos 153 bancos deveu-se principalmente à menor confiança dos consumidores e ao nível geral das taxas de juro, enquanto o aumento da procura de crédito ao consumo foi impulsionado predominantemente pelos gastos com bens duradouros.
Para o terceiro trimestre de 2022, o conjunto dos bancos esperam uma diminuição líquida na procura de empréstimos por parte das empresas, uma forte diminuição líquida na procura de empréstimos à habitação e uma procura praticamente inalterada de crédito ao consumo.
No mercado nacional, é esperado “um ligeiro aumento da procura de empréstimos de curto prazo por parte das empresas, sobretudo PME e uma ligeira diminuição da procura de empréstimos por particulares, sobretudo para habitação”.