Aeroporto no Montijo?

Temos que fazer pressão nacional e internacional, seja na UE seja na UNESCO, para denunciar este atentado que o Governo português se apronta para cometer. Temos de dizer não a um aeroporto no Montijo!

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O risco de colisão com aves é um dos argumento usados contra a construção do aeroporto no Montijo, na Reserva Natural do Estuário do Tejo Nuno Ferreira Santos

Já se estava à espera que a maioria absoluta de um só partido descambasse em democracia musculada a impor o que lhe apetecer e já estávamos também todos à espera que, logo que o vento fosse de feição, voltasse à carga (e ao negócio) o assunto de um aeroporto internacional no Montijo.

A Reserva Natural do Estuário do Tejo, criada em 1976 – quando era ainda um tempo que parecia ser de esperança e de liberdade - corresponde a uma zona húmida fundamental em termos de biodiversidade e de defesa das aves migratórias, por isso entrou para as Áreas Protegidas pela Convenção de Ramsar.

Hoje todos aqueles que se preocupam com a defesa intransigente do nosso património natural – cidadãos e ONG (que fazem o que podem) temos que fazer pressão nacional e internacional, seja na UE seja na UNESCO, para denunciar este atentado que o Governo português se apronta para cometer.

Temos de dizer não a um aeroporto no Montijo! Exige-se uma campanha activa, que se espera que as ONG liderem, e não só cá dentro, pois grande parte da opinião pública infelizmente ainda passa ao lado destes problemas. É preciso exercer pressão nas instâncias europeias e mundiais.

A polémica sobre os aeroportos tem sido sobretudo sobre as tricas interministeriais que enchem páginas de jornais, abrem noticiários e servem para, entretanto, o negócio ir andando. Ainda não se viu – ou sou eu que vejo poucas TV as ONG ou cidadãos irritados com a desvergonha virem protestar. Tudo vai correndo entre o custos de vida que aflige e preocupa as pessoas e as querelas no Parlamento sobre questões partidárias de lana caprina.

Num canal de televisão apareceu o eng. Luís Coimbra, técnico conhecedor e experimentado de assuntos de aeronáutica, a denunciar o que se esconde sobre a construção do aeroporto internacional no Montijo. Que venha outro igualmente qualificado negar! Já em tempo um engenheiro, de renome no ramo, veio também denunciar as obras de extensão ou reforço das pistas que ocorrerão sobre lodos de grande profundidade, tornando as operações difíceis e muito dispendiosas – que venha outro engenheiro igualmente competente negar! Em tempo também surgiram comandantes de aviação que vieram avisar contra o perigo de aves chocarem ou serem absorvidas pelas turbinas e não se trata de pardais ou pintassilgos, mas sim de aves de grande porte. Pois que apareçam outros pilotos a dizer que não é assim. E se ocorrer uma tragédia, não vão faltar lágrimas de crocodilo dos responsáveis todos. Até já se falou em surdina em dispositivos de tiro repetitivo que é possível instalar nos sapais para afugentar as aves – isto raia a desvergonha absoluta.

Um país europeu como Portugal cria um aeroporto internacional em cima dum estuário que é uma reserva natural, de interesse mundial – então a União Europeia ou a UNESVO vão consentir?

Tudo pelo negócio com a Vinci e que ainda vai exigir novos acessos onerosos que são todos incluídos no bolo do aeroporto e ficamos assim? Alguém acredita que, depois de obras dispendiosas no Montijo, este é abandonado a favor de Alcochete? E Alcochete porquê, quem é que o definiu e onde está o estudo? Qualquer Estudo de Impacte Ambiental (EIA) ou de Analise Ambiental Estratégica (AAE) (que o Governo já podia ter encomendado… pelo menos há sete anos) é uma burla – alguém paga milhares de euros por um estudo para este lhe ser desfavorável? Já há antecedentes… Ou a AAE é encomendada internacionalmente (e porque não pela Assembleia da Republica, se a maioria absoluta deixar?) ou a sua credibilidade está morta à partida.

Se desta vez não houver um sobressalto e uma reacção nacionais contra este crime ambiental, realmente o melhor é deixar andar até que, como dizia o chefe da aldeia dos gauleses, “o céu nos caia em cima da cabeça” e esperar que hoje ainda “não seja a véspera desse dia.”

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