Agência Internacional de Energia insta europeus a reduzirem já o consumo de gás

Se as medidas sugeridas “não forem implementadas agora, a Europa estará numa posição extremamente vulnerável e poderá enfrentar cortes e reduções muito mais drásticas mais tarde”, diz o director executivo da AIE, Fatih Birol.

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Agência não exclui a possibilidade de Moscovo cortar completamente o fornecimento de gás à Europa EPA/ANATOLY MALTSEV

A Agência Internacional de Energia (AIE) instou esta segunda-feira os europeus a reduzirem já o consumo de gás para poderem passar o Inverno, porque as medidas tomadas até agora são insuficientes.

O director executivo da AIE, Fatih Birol, propõe cinco medidas de emergência destinadas à indústria, ao sector da electricidade e do gás e aos Governos da União Europeia (UE) para coordenar a acção, mas também aos consumidores para reduzir a temperatura do aquecimento e aumentar a temperatura do ar condicionado.

“Se tais medidas não forem implementadas agora, a Europa estará numa posição extremamente vulnerável e poderá enfrentar cortes e reduções muito mais drásticas mais tarde”, adverte Birol numa mensagem emitida numa semana em que a UE-27 deverá adoptar uma posição comum sobre o desafio dos cortes na oferta russa.

A Europa deve agora fazer “tudo o que puder” para reduzir o risco de cortes e racionamentos no inverno “quando os cidadãos mais vulneráveis menos se podem dar ao luxo de passar sem o mesmo” e sem abandonar o rumo da transição energética.

Para o efeito, Birol propõe cinco pontos de acção: estabelecer plataformas de leilões de gás para incentivar a redução da procura industrial; minimizar o consumo de gás para a produção de electricidade, por exemplo, utilizando temporariamente como alternativa centrais de carvão, petróleo e energia nuclear; maior coordenação entre os operadores energéticos em toda a Europa para reduzir os picos de consumo, uma vez que é durante os mesmos que as centrais eléctricas alimentadas a gás são mais utilizadas para produzir electricidade.

Propõe ainda a redução do consumo doméstico com normas e controlos para o ar condicionado, para o qual as administrações precisam de dar o exemplo, e apela igualmente à harmonização dos planos de emergência, tanto a nível nacional como europeu, incluindo cortes de energia e mecanismos de solidariedade.

Desde o início do mês, a Rússia suspendeu os fornecimentos de gás através do Nord Stream 1, o principal gasoduto que abastece a Europa, teoricamente devido ao trabalho de manutenção, que deverá ser retomado a partir do dia 21.

Se a Rússia restabelecer os abastecimentos nessa altura e os mantiver nos baixos volumes que impôs nos últimos meses e fechar completamente a torneira no início da estação de aquecimento em 1 de Outubro, a AIE considera que a UE teria de ter enchido as suas reservas de gás até pelo menos 90% até ao outono, e mesmo assim poderia ser curto até ao final do inverno.

Birol reconhece que foram feitos progressos na procura de gás de outros países produtores, mas considera que “não é suficiente” e que é necessário agir principalmente do lado da procura. De acordo com cálculos de Birol, este cenário exigiria uma poupança adicional de cerca de 12.000 milhões de metros cúbicos nos próximos três meses, o que equivale à carga de cerca de 130 navios transportando gás natural liquefeito (GNL).

A agência não exclui a possibilidade de Moscovo cortar completamente o fornecimento de gás à Europa, até porque, paradoxalmente, as receitas da venda de petróleo e gás da Rússia aumentaram desde o início da invasão da Ucrânia.

As sanções impostas pelo Ocidente não conseguiram até agora alcançar o que se propuseram: entre Março e Julho, a Rússia ganhou 95.000 milhões de dólares com a venda dos seus hidrocarbonetos, quase o dobro do que ganhou em anos anteriores.

É por isso que Birol salientou que, tendo em conta a almofada financeira que a Rússia tem e a tentação de a utilizar politicamente, os líderes europeus devem estar preparados para um encerramento completo das torneiras de gás.

Este inverno, concluiu, “poderia tornar-se um teste histórico da solidariedade europeia com implicações muito para além do sector energético”, adiantou.