Sófocles, versão telenovela
A derivação do Édipo Rei que passou pelo Festival de Almada tem a sua graça e os seus momentos cómicos, mas não passa de um entretenimento quase vazio e condescendente.
É uma história conhecida, a de Édipo, o filho do rei Laio e da rainha Jocasta a quem foi profetizado o heroísmo pelo célebre oráculo de Delfos, mas só depois de matar o pai e casar com a mãe. Com mito tão sumarento, Sigmund Freud criou o provavelmente ainda mais célebre complexo de Édipo, popularmente resumido como o desejo subconsciente de, pelo menos simbolicamente, matar o pai e enrolar-se com a mãe. Mas foi Sófocles, uns séculos antes, quem fez da história do príncipe de Tebas a peça que o tempo não cansa e que perdura em muitas interpretações, mais ou menos respeitadoras do original, mais ou menos estimulantes, mais ou menos mirabolantes, mais ou menos distantes. Enfim, o destino de um clássico. Destino que permitiu a Thomas Ostermeier uma abordagem contemporânea, sem deuses nem outras miudezas mitológicas à mistura, onde tudo gira em redor de um acidente ecológico e de uma família digna do enredo de uma telenovela mexicana.
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