Histórias do Tour: Quando o corpo finalmente diz que sim
Durante toda a Volta a França, o PÚBLICO traz histórias e curiosidades sobre equipas e ciclistas em prova.
Bob Jungels venceu a etapa 9 da Volta a França e no caso deste luxemburguês tratou-se de bem mais do que sucesso desportivo. Na estrada, a luta com Thibaut Pinot pelo triunfo não lhe era favorável, sobretudo no apoio do público – era com Pinot que estavam todos os gauleses espalhados pelas bermas.
Mas o ciclista da AG2R fintou tudo isso e, sobretudo, fintou definitivamente a impossibilidade de ser um corredor capaz nos últimos meses. Bob Jungels tem tido de lidar com problemas de saúde graves nos últimos dois anos e, exceptuando títulos nacionais do Luxemburgo – que não são dos mais difíceis de conseguir –, esta é a primeira vitória desde 2019.
Jungels foi diagnosticado com endofibrose arterial, doença rara que reduz o fluxo de sangue para as pernas – sobretudo em grandes esforços. “Pernas” e “esforços” são dois conceitos umbilicalmente ligados ao ciclismo, pelo que Jungels tem estado incapaz de cumprir com os predicados que mostrou antes da doença. “Não é algo doloroso, mas aparece quando passas o limite do esforço. E demorou a ser identificado. Fiz duas cirurgias e depois ainda precisei de um ano para recuperar e poder estar aqui”, apontou. E falou sobre a vitória: “Nunca acreditamos até acontecer. É um alívio depois de tantos meses e anos frustrantes”.
Como curiosidade adicional, este triunfo poderia não ter acontecido caso Jungels não tivesse tido alguma fortuna depois de muito azar. Horas antes da partida do Tour, o teste à covid-19 deu positivo. A sorte do ciclista luxemburguês é que a carga viral era muito baixa, até por estar assintomático, e a organização permitiu que participasse na corrida – recebeu o “título” de primeiro ciclista publicamente positivo a beneficiar desta regra da organização do Tour, algo que também já ajudou Rafal Majka na terça-feira.