Um dia, Virgílio Gomes, larga carreira dedicada à gastronomia, entre a escrita, investigação e formação, leu uma frase de Quentin Crewe, escritor britânico de viagens e gastronomias, escrita no início dos anos de 1980: “A verdade é que a cozinha portuguesa não vale muito. Gerações de miséria não contribuíram para melhorar a escassa qualidade da cozinha popular”. É uma frase que pode irritar todo um país, é verdade. A Virgílio Gomes, contava à Fugas, deu-lhe ainda mais “entusiasmo” para criar o livro que acaba de ser premiado pela Academia Internacional de Gastronomia, com sede em Paris: “À Portuguesa: Receitas em Livros Estrangeiros até 1900, distinguido com um Prémio de Literatura Gastronómica 2022.
A obra de Gomes lança um olhar sobre como os cozinheiros estrangeiros interpretavam a gastronomia portuguesa até aos inícios do séc. XX. “Há muito que o ‘à portuguesa’ o vinha intrigando. O que significava a expressão quando usada em livros de receitas de chefs estrangeiros? Seriam de facto receitas portuguesas? Se sim, como teriam chegado até eles?”. Foram estes questionamentos, resumia-se na Fugas, que levaram Gomes a investigar receitas pelo mundo fora com interpretação do “à portuguesa”.
O livro inclui as receitas descobertas em versão digitalizada do original e traduzidas, até com indicações para serem seguidas em casa. Espinafres à Portuguesa, Pudim de Arroz à Portuguesa, biscoitos de Portugal são alguns dos exemplos.
O investigador e professor irá receber o prémio da Academia Internacional de Gastronomia numa cerimónia em Setembro, que deverá realizar-se no Grémio Literário de Lisboa, adianta em comunicado a Marcador, editora do grupo da Editorial Presença.
A distinção com o prémio internacional seguiu-se à candidatura apresentada pela Academia Portuguesa de Gastronomia, colectivo que já em 2015 tinha distinguido Gomes com o Grande Prémio Literatura Gastronómica por uma outra obra, Dicionário Prático da Cozinha Portuguesa.