António Costa considera que referendo da regionalização não pode ser travado por medo de ouvir os portugueses

Na abertura da reunião da Comissão Nacional socialista, o secretário-geral do PS defendeu que o partido deve continuar a ignorar a “bolha político-mediática”, aludindo à polémica sobre o novo aeroporto.

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António Costa interveio a abrir a reunião da comissão nacional do PS MANUEL FERNANDO ARAúJO/LUSA

O secretário-geral do PS, António Costa, considerou, este sábado, que não se pode deixar de fazer o referendo sobre a regionalização por haver medo de ouvir os portugueses, reagindo à oposição do novo líder do PSD a esta consulta.

“Não se pode deixar de fazer [o referendo] porque se tem medo de ouvir os portugueses. Eu até compreendo a posição do PSD, porque de facto, nos últimos anos, cada vez que os portugueses foram ouvidos só disseram coisas que o PSD não gostou que os portugueses tivessem dito”, declarou António Costa na intervenção que proferiu na abertura da reunião da Comissão Nacional do PS, que decorre em Ílhavo, Aveiro.

António Costa falou no início da reunião, convocada para aprovar o relatório de contas do partido em relação a 2021 e aprovar o calendário de eleição dos órgãos federativos e dos respectivos congressos.

De acordo com o líder socialista e primeiro-ministro, “por uma questão de oportunidade temporal” não deve deixar de se “fazer aquilo que deve ser feito”.

António Costa salientou que, em 2024, os partidos têm o dever de “avaliar se é ou não oportuno” ouvir os portugueses sobre o processo de regionalização.

A “bolha político-mediática”

O secretário-geral do PS defendeu também que o partido deve continuar a ignorar a “bolha político-mediática” e concentrar-se nos problemas concretos que interessam aos portugueses, aludindo à polémica sobre o novo aeroporto de Lisboa.

“O PS não pode deixar de fazer aquilo que tem sabido fazer tão bem que é ignorar a bolha político-mediática e concentrar-se naquilo que interessa aos portugueses”, como o aumento do custo de vida, a melhoria do Serviço Nacional de Saúde, o arranque do ano lectivo e o combate aos incêndios, disse António Costa.

Na parte final de um discurso de quase 40 minutos, o líder dos socialistas lembrou que a “chave do sucesso” do PS, nos últimos anos, tem sido saber resistir a não reger a sua agenda pela “agenda da bolha político-mediática”.

“É uma bolha que se entusiasma imenso com casos e casinhos, consome horas infindáveis de tempo de televisão por cabo, quase tanto tempo como aqueles infinitos debates em que durante toda a semana comentadores comentam o jogo de futebol da semana anterior”, disse Costa.

De acordo com o líder socialista e primeiro-ministro, a função de um político é ter “uma visão para o país e resolver os problemas do país” e não “andar a entreter com casos e casinhos que alimentam a bolha político-mediática”.

“Deixemos a oposição andar numa luta para saber quem é que é mais à direita e mais contra o Costa e mais contra o PS. Óptimo. estejam entretidíssimos nesse campeonato, moções de censura, interpelações. É um campeonato interessantíssimo, seguramente. Estejam entretidíssimos com coisas fantasiosas”, disse.

1682 milhões de euros para conter a inflação

Na mesma intervenção, António Costa anunciou que, no primeiro semestre de 2022, o Governo gastou 1682 milhões de euros nas medidas para conter a inflação, devido à guerra na Ucrânia.

“Entre as medidas fiscais para controlar o aumento dos preços, as medidas de apoio e fiscais para conter os custos de produção, as medidas de apoio às famílias mais vulneráveis e às actividades económicas mais dependentes de energia (…), de Janeiro até agora, o Estado mobilizou já 1.682 milhões de euros”, declarou António Costa.

Começou por falar sobre as medidas que têm sido adoptadas pelo Governo ao nível dos produtos energéticos, assinalando que a carga fiscal sobre os combustíveis “já baixou 18 pontos percentuais”.

“Se estas medidas não tivessem sido adoptadas, num depósito de 50 litros de gasóleo cada português estava a pagar mais 14 euros do que aquilo que está a pagar e, num depósito de 50 litros de gasolina, cada português estaria a pagar mais 16 euros”, afirmou.

Na electricidade, o líder dos socialistas referiu que as medidas que Portugal e Espanha conseguiram negociar com a União Europeia têm permitido conter “a contaminação da formação do preço da electricidade pelo brutal aumento do preço do gás”.

Salientou ainda as medidas adoptadas no sector de transportes de passageiros e mercadorias, com a criação para os meses de Julho e Agosto de um “gasóleo profissional extraordinário que vai reduzir em 17 cêntimos por litro o custo do gasóleo profissional”.

Por fim, referiu o apoio ao cabaz alimentar das famílias mais vulneráveis que abrange mais de um milhão de famílias, com um total de 120 milhões de euros.

“Tal como aconteceu com a pandemia temos aqui um desafio à escala global que temos de ser capazes de enfrentar e de gerir”, concluiu.