PCP recorda contribuição para a independência e a paz de Angola. Bloco rejeita “limpar história” manchada pela “triste realidade”

O partido de Jerónimo de Sousa transmitiu condolências ao Movimento para a Libertação de Angola, partido comunista ao qual pertencia o ex-chefe de Estado. Já o Bloco de Esquerda defende que José Eduardo dos Santos “governou em função dos seus interesses”.

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José Eduardo dos Santos sucedeu Agostinho Neto em 1979 EPA/MANUEL DE ALMEIDA

Em reacção à morte do antigo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, o PCP expressou esta sexta-feira o seu “sentido de pesar e a sua solidariedade” ao Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), partido angolano da família dos comunistas, num comunicado enviado às redacções. E recordou o papel de Eduardo dos Santos na conquista da independência e da paz de Angola.

Na nota, o partido de Jerónimo de Sousa relembra Eduardo dos Santos como o presidente do MPLA que “conduziu o povo angolano à vitória sobre o domínio colonial português” e o chefe de Estado de Angola que, “em tempos de duríssimos combates”, se bateu pela “defesa e consolidação da independência nacional”.

“Num processo não alheio a problemas e dificuldades diversas, sublinha-se, no desempenho das suas responsabilidades, a contribuição para a conquista da paz pelo povo angolano e a reconstrução do seu país”, lê-se no documento.

Salientando como a “agressão imperialista e racista” causou “imensos sofrimentos” ao povo angolano, o PCP realça ainda “a decisiva contribuição” do país, na altura em que esteve sob a liderança do ex-Presidente, para o “fim do regime de apartheid”.

Não esquecendo as ligações entre o PCP e o MPLA, os comunistas destacam também a contribuição de Eduardo dos Santos para “o desenvolvimento das tradicionais relações de amizade e solidariedade” entre os dois partidos, bem como entre “o povo português e o povo angolano”. E transmitem ainda “sentidas condolências” tanto ao partido de Eduardo dos Santos como aos cidadãos angolanos.

Bem diferente foi a reacção do Bloco de Esquerda, que considera que José Eduardo dos Santos liderou Angola “em função dos seus interesses” e “contra o povo”, num “regime autocrático e cleptocrático”. Os bloquistas defendem que a sua morte não pode “limpar uma história” manchada pela “triste realidade”.

“O Bloco de Esquerda gostava de realçar que estamos a falar de uma pessoa que foi líder de um país que governou em função dos seus interesses, dos interesses da sua família e de uma pequena elite, contra todo um povo”, afirmou, numa curta declaração aos jornalistas na Assembleia da República, o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares.

Segundo o dirigente do BE, José Eduardo dos Santos “esteve à frente de um regime autocrático, cleptocrático, responsável pelo assassinato de centenas de pessoas”. “Neste momento que ficará também marcado para a história não podemos deixar que ele sirva para limpar uma história que é manchada por esta triste realidade”, enfatizou.

Na mesma linha, o PAN, também em nota enviada às redacções, lamenta a “perda de uma vida”, contudo sem “esquecer o legado que o ex-Presidente angolano deixou em termos sociais e económicos para o país e para o seu povo”.

“Não esquecemos que durante a sua governação se verificou uma asfixia democrática, marcada também por perseguição e prisão de opositores políticos e diversos condicionamentos à liberdade de expressão e de associação”, aponta o partido liderado por Inês Sousa Real, acrescentando que Eduardo dos Santos liderou “um sistema cleptocrático”

“Não podemos por isso deixar de repudiar o regime de terror, medo e perseguição que promoveu, senão veja-se o caso de activistas como Luaty Beirão, que procurou fazer despertar a comunidade internacional para o que se passava em Angola”, conclui o PAN.

Também críticas foram as declarações de André Ventura, na Assembleia da República. Citado pelo Expresso, o líder do Chega defendeu que “não podemos deixar de, reconhecendo a dor familiar, não esquecer o ditador, o homem que apesar das promessas de democratização, verdadeiramente nunca o conseguiu concretizar e usou o poder do Estado angolano para se prolongar e perpetuar no poder, às vezes com recurso à violência, à morte e à intimidação”.

Mais curta foi a reacção do PSD, que, através de comunicado enviado às redacções, “envia à família, ao povo e ao Estado angolano, as condolências pelo falecimento do ex-presidente José Eduardo dos Santos, evocando, nesta hora de luto, o seu papel na consolidação da independência e na construção dos alicerces da paz e da unidade nacional”.

O ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que esteve à frente do país durante 38 anos, faleceu esta sexta-feira aos 79 anos, vítima de um acidente vascular cerebral.

O PS expressou também o seu pesar pela morte de José Eduardo dos Santos, que considerou ter sido um “agente decisivo” na construção da paz em Angola. “Desempenhou um papel relevante na consolidação das relações entre Portugal e Angola e afirmou-se como um agente decisivo para a construção dos pilares da paz neste país, com o qual é partilhada uma forte proximidade histórica, linguística e cultural”, lê-se num comunicado da direcção nacional do PS.

Os socialistas endereçam ainda as suas “sinceras condolências” aos familiares, amigos e ao povo angolano neste “momento de luto e tristeza”.