Infarmed concede autorização excepcional para a vacina contra varíola-dos-macacos aprovada nos EUA
Autoridade Nacional do Medicamento segue as recomendações da Agência Europeia de Medicamentos, segundo a actualização na orientação da DGS. Organização Mundial de Saúde volta a reunir Comité de Emergência em meados de Julho para avaliar o surto.
A Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) concedeu uma autorização de utilização excepcional em Portugal para a vacina da varíola aprovada nos Estados Unidos também para a varíola-dos-macacos.
A informação consta na actualização da orientação da Direcção-Geral da Saúde (DGS) publicada esta quarta-feira sobre a abordagem clínica e epidemiológica aos casos de infecção pelo vírus varíola-dos-macacos (monkeypox ou VMPX).
“Dado que a vacina MVA utilizada nos EUA é a única disponível, à data, a nível internacional, sendo a mesma formulação da vacina autorizada na União Europeia, após solicitação da DGS, foi concedida pelo Infarmed uma Autorização de Utilização Excepcional (AUE), para utilização como medida adicional no controlo do surto de infecção humana por VMPX”, refere a orientação.
A mais recente vacina contra a varíola é composta por uma estirpe atenuada e não replicativa do vírus Vaccinia (MVA), aprovada na União Europeia desde Julho de 2013 para protecção contra a varíola em adultos.
Em Setembro de 2019, a entidade reguladora norte-americana (FDA) aprovou o seu uso contra a infecção por monkeypox, com base em estudos que demonstraram que a vacina tem capacidade protectora contra outros vírus da mesma família.
No final de Junho, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) reconheceu que a disponibilidade da vacina Imvanex, comercializada com a designação de Jynneos nos Estados Unidos, é limitada da União Europeia.
“Tendo em conta a disponibilidade limitada da Imvanex, a task force de emergência da EMA recomendou que a Jynneos possa ser utilizada para proteger contra a doença monkeypox na União Europeia”, explicou a EMA.
Essa recomendação destinou-se a apoiar as autoridades nacionais que decidam, como medida temporária, importar vacinas Jynneos dos EUA, tendo em conta o aumento das taxas de infecção em vários países da União Europeia.
A orientação da DGS refere também que os contactos assintomáticos podem manter as rotinas diárias, como trabalhar e frequentar a escola, mas, durante o período de vigilância de 21 dias após última exposição, é recomendável que reforcem a lavagem e higienização frequente das mãos e a etiqueta respiratória, e que evitem o contacto próximo com grávidas, crianças pequenas e pessoas imunodeprimidas.
Já um contacto que desenvolva sinais e sintomas sistémicos inespecíficos, deve obedecer a cuidados de isolamento e ser observado para verificação de sinais de erupção cutânea nos sete dias subsequentes, refere ainda o documento. Se nenhuma lesão cutâneo-mucosa se desenvolver nesse período, o contacto deve manter a avaliação da temperatura nos restantes dias até completar o período de vigilância de 21 dias.
No entanto, se o contacto desenvolver lesões cutâneas ou mucosas, deve ser considerado como caso provável de infecção por VMPX e deve procurar, de imediato, os serviços de saúde ou contactar o SNS24, sublinha a DGS.
Em Portugal, em 17 de Maio, foram confirmados resultados positivos para VMPX em três amostras biológicas, tornando-se conhecidos os primeiros casos de infecção pelo vírus no país.
Desde então, os casos de varíola-dos-macacos em Portugal totalizam os 415, de acordo com os últimos dados da DGS, todos em homens entre os 19 e os 61 anos, tendo a maioria menos de 40 anos, que se mantêm em acompanhamento clínico, encontrando-se estáveis.
A DGS recorda que uma pessoa que esteja doente deixa de estar infecciosa apenas após a cura completa e a queda de crostas das lesões dermatológicas, período que poderá, eventualmente, ultrapassar quatro semanas.
Os sintomas mais comuns da doença são febre, dor de cabeça intensa, dores musculares, dor nas costas, cansaço, aumento dos gânglios linfáticos com o aparecimento progressivo de erupções que atingem a pele e as mucosas.
OMS volta a reunir Comité de Emergência na semana de 18 de Julho
O director-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou esta quarta-feira a reconvocação do Comité de Emergência para a semana de 18 de Julho para avaliar o surto de varíola-dos-macacos, manifestando-se “muito preocupado” com a propagação do vírus.
“Continuo muito preocupado com a escala e propagação do vírus. Em todo o mundo há agora mais de seis mil casos registados em 58 países”, adiantou Tedros Adhanom Ghebreyesus, em conferência de imprensa. A testagem do vírus que provoca a doença “permanece um desafio” e é “altamente provável” que exista um significativo número de casos não detectados em vários países.
“A Europa é o actual epicentro do surto, registando mais de 80% dos casos a nível global”, avançou Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao alertar ainda que, em África, estão a surgir casos em países que não tinham sido previamente afectados, assim como “números recorde” em outros que já tinham registos de contágios.
Perante isso, o director-geral da OMS adiantou que vai convocar o Comité de Emergência da OMS para a semana de 18 de Julho, “ou antes disso se necessário”, com o objectivo de actualizar os especialistas sobre a situação epidemiológica e a evolução do surto, com vista à “implementação de contramedidas”.
Esta será a segunda reunião em poucas semanas para avaliar a evolução da varíola-dos-macacos, depois de os especialistas que integram o Comité terem considerado, a 23 de Junho, que o surto do vírus monkeypox não representava uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional, o nível mais alto de alerta decretado pela OMS.
Ao Comité de Emergência, que reúne por convocação do director-geral, cabe recomendar à OMS se um surto constitui uma Emergência de Saúde Pública de Preocupação Internacional (PHEIC), propondo medidas temporárias sobre como prevenir e reduzir a propagação de uma doença e gerir a resposta global de saúde pública.
A PHEIC é definida como “um evento extraordinário, grave, repentino, incomum ou inesperado”, com implicações para a saúde pública para além da fronteira nacional do Estado afectado e que pode exigir uma acção internacional imediata.
Tedros Adhanom Ghebreyesus assegurou ainda que a OMS está a trabalhar de perto com a sociedade civil e a comunidade LGBTQ+, “especialmente para quebrar o estigma do vírus e espalhar informação, para que as pessoas se possam proteger”. “Este vírus pode afectar qualquer pessoa”, alertou.