Vem aí uma onda de calor: temperaturas podem ultrapassar 40 graus e haverá “noites tropicais”

Temperaturas estarão acima da média em Julho e a maior parte do país terá máximas superiores a 30 graus Celsius nos próximos dias. Fenómeno acontece devido a uma massa de ar quente e seco transportada do Leste da Europa.

calor,portugal,verao,meteorologia,clima,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
Onda de calor deverá durar, pelo menos, até 14 de Julho Paulo Pimenta
calor,portugal,verao,meteorologia,clima,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
Considera-se uma onda de calor quando a temperatura máxima diária é superior em cinco graus Celsius ao valor médio no período de referência Paulo Pimenta
calor,portugal,verao,meteorologia,clima,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
O IPMA emitiu um alerta meteorológico amarelo de tempo quente para todos os distritos do Continente (excepto Faro) daniel rocha
calor,portugal,verao,meteorologia,clima,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
O anticiclone dos Açores “vai-se posicionar de maneira a que a corrente venha mais quente do interior do continente” PAULO PIMENTA
calor,portugal,verao,meteorologia,clima,alteracoes-climaticas,
Fotogaleria
O calor que vai chegar a Portugal não está directamente relacionado com o que já se faz sentir no resto da Europa PAULO PIMENTA

Durante os próximos dias, o calor estará “sempre a subir”. O Verão começou com chuva e temperaturas amenas, mas o cenário começa a mudar de figura duas semanas depois: está prevista uma onda de calor para os próximos dias em Portugal continental. Começa a 7 de Julho e deverá durar, pelo menos, até 14 de Julho, diz ao PÚBLICO a meteorologista Alexandra Fonseca, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). “Mas pode prolongar-se.”

Os termómetros deverão ultrapassar os 40 graus Celsius em várias partes do território (sobretudo no Alentejo, Vale do Tejo e Santarém), e quase todo o país registará temperaturas superiores a 30 graus Celsius durante a semana. Em Évora, por exemplo, serão registados 42 graus Celsius de máxima durante vários dias seguidos. Em Santarém e Reguengos de Monsaraz, os termómetros chegarão aos 43 graus. A meteorologista Cristina Simões, também do IPMA, diz que será “um período alargado de calor”, que se prevê que se mantenha acima da média durante o resto do mês de Julho.

A temperatura mínima não dará grandes tréguas do calor: segundo o IPMA, estão também previstas “noites tropicais”, que são caracterizadas por temperaturas mínimas acima de 20 graus Celsius. Na zona da Grande Lisboa, por exemplo, é já a partir desta quinta-feira que os termómetros marcarão 21 graus de mínima. Já a máxima será de 37 graus, prevendo-se que chegue aos 40 no dia 12 de Julho. No Grande Porto, assim como em Faro, as noites tropicais também começarão na quinta-feira, com as temperaturas máximas a rondarem, durante o resto da semana, entre os 29 e os 33 graus.

O cocktail de calor, associado ao vento e a valores baixos da humidade relativa do ar, fará com que haja um “aumento significativo do perigo de incêndio rural”, alerta ainda o IPMA, numa nota publicada na terça-feira.

Estas temperaturas elevadas acontecem porque “o anticiclone se está a posicionar a norte da Península Ibérica e vai transportar uma massa de ar quente” através de uma corrente de Leste, que “traz” o calor do outro lado do continente europeu, refere a meteorologista Alexandra Fonseca. O anticiclone dos Açores “vai-se posicionar de maneira a que a corrente venha assim mais quente do interior do continente”.

O anticiclone dos Açores é uma região de grande pressão atmosférica, que exerce influência sobre o clima de várias regiões da Europa Ocidental, do Norte de África e das Américas. Este anticiclone tem ocupado uma área cada vez maior nos últimos 200 anos e tem sido o responsável pelo clima cada vez mais seco da Península Ibérica em mais de um milénio, segundo um estudo publicado esta semana na revista científica Nature Geoscience.

Alerta laranja

Ainda que inicialmente estivesse previsto um alerta meteorológico amarelo, o IPMA emitiu esta quinta-feira um alerta laranja para quase todos os distritos do Continente, à excepção de Faro e Viana do Castelo (que estão em alerta amarelo), devido à “persistência de valores elevados da temperatura máxima”. O alerta está em vigor desde a manhã de quinta-feira. Os alertas de temperatura elevada são emitidos com diferentes temperaturas para cada distrito. Em Aveiro, por exemplo, é preciso que os termómetros variem entre 36 e 38 graus de temperatura máxima durante um período superior a 48 horas para que haja alerta laranja, mas em Faro esses valores variam entre os 38 e 41 graus Celsius.

A vaga de temperaturas elevadas poderá durar mais do que uma semana e a particularidade desta onda de calor é que não estará apenas concentrada nas zonas habituais, como o Alentejo ou na Beira Alta e na Beira Baixa, explica a meteorologista Cristina Simões. Também na Madeira é esperada uma subida da temperatura a partir de 8 de Julho. Nos Açores, o tempo estará mais ameno, com temperaturas máximas a rondar os 23 graus Celsius.

Considera-se uma onda de calor quando a temperatura máxima diária é superior em cinco graus Celsius ao valor médio no período de referência (geralmente 30 anos) durante, pelo menos, seis dias consecutivos – é a definição oficial da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Mesmo em vagas de temperaturas elevadas com duração mais curta, que não são tecnicamente consideradas “ondas de calor”, os efeitos na saúde podem ser graves.

As ondas de calor podem acontecer em qualquer altura do ano, mas são mais notórias quando acontecem nos meses de Verão. Em Portugal continental, são mais frequentes no mês de Junho. A onda de calor de maior duração em Portugal foi aquela que aconteceu entre Julho e Agosto de 2003, que durou 17 dias. Segundo o IPMA, foi a onda de calor com maior duração registada desde 1941.

O calor pela Europa

Portugal só nestes dias começará a sentir os efeitos desta vaga de calor, mas na Europa a subida de temperaturas já começou há mais tempo. Ainda assim, o calor que vai chegar a Portugal não está directamente relacionado com o que já se faz sentir no resto da Europa. “Não é o mesmo sistema”, explica a meteorologista Alexandra Fonseca.

Itália é um dos países que mais têm sofrido com o calor em Julho e certas regiões do país registaram 44 graus Celsius nos últimos dias. As cidades de Verona e Pisa anunciaram restrições para o consumo de água, que só pode ser usada para fins domésticos, de higiene e limpeza pessoal. Outros municípios (sobretudo no Norte de Itália) estão a racionar água há várias semanas por causa da seca. A onda de calor fez ainda com que um glaciar dos Alpes italianos se desmoronasse no sábado, causando seis mortos e 20 desaparecidos.

No início de Junho, uma imagem recolhida pelos satélites do sistema europeu de vigilância Copernicus mostrava que “foram quebrados recordes meteorológicos em França e Espanha: para esta última, as temperaturas do início de Junho foram as mais altas registadas nos últimos 20 anos”. O calor em Espanha foi tanto que até as crias de aves começaram a cair dos ninhos enquanto tentavam fugir ao calor.

Além da Europa, certas partes da Índia e do Paquistão também enfrentaram vagas de calor excessivo desde Março, com temperaturas superiores a 50 graus Celsius. Esta onda de temperaturas extremas causou falhas de energia, incêndios, impactos no cultivo de frutas, legumes e cereais e alterações nos calendários escolares. Também em Tóquio, no Japão, a onda de calor de Junho foi a mais grave desde 1875.

Notícia actualizada às 12h32 de 7 de Julho: foi actualizada a informação sobre os alertas meteorológicos.