Chefe da diplomacia angolana viaja para Barcelona após agravamento do estado de José Eduardo dos Santos
A filha do antigo presidente angolano, Tchizé dos Santos, afirma que não vai permitir que desliguem as máquinas e acusa João Lourenço de estar a fazer uma gestão política do caso.
O ministro das Relações Exteriores de Angola viaja esta quarta-feira de manhã para Barcelona para acompanhar o estado de saúde do ex-presidente José Eduardo dos Santos, cuja situação de saúde se deteriorou nas últimas horas, disse fonte oficial à Lusa.
“A situação clínica agravou-se e o senhor ministro foi enviado para Barcelona pelo Presidente” João Lourenço, que se encontra em Lisboa, para participar na Cimeira dos Oceanos, disse fonte oficial da diplomacia angolana.
José Eduardo dos Santos está internado numa clínica em Barcelona e encontra-se em coma depois de ter sofrido uma queda e já depois de ter recuperado de uma infecção de covid-19. “A situação está a ser acompanhada de perto por Angola ao mais alto nível”, acrescentou a mesma fonte.
O ministro Téte Antonio estava também em Lisboa integrando a delegação angolana à cimeira das Nações Unidas e deverá chegar a Barcelona na manhã de quarta-feira.
Filha diz que não vai permitir que desliguem as máquinas
A filha do antigo presidente angolano, Tchizé dos Santos, afirmou na terça-feira que “não vai permitir que desliguem as máquinas” a José Eduardo dos Santos e acusou o actual chefe do executivo João Lourenço de estar a fazer uma gestão política do caso.
Num áudio posto a circular nas redes sociais, sob a forma de recado “para quem anda a fazer os preparativos para o funeral do presidente emérito do MPLA”, Tchizé dos Santos afirma que José Eduardo dos Santos “está vivo”, com “todos os órgãos a funcionar” e o seu estado de saúde é estável.
Acusou ainda o médico João Afonso, que acompanha o ex-presidente há vários anos e com quem entrou em rota de colisão, de “andar a plantar” informações na comunicação social para preparar a opinião pública para a morte do antigo presidente, que governou Angola durante 38 anos, enquanto “tentam convencer a família” que deve autorizar os médicos a desligar as máquinas.
“Eu, como filha, nunca irei permitir que desliguem as máquinas de um pai vivo, que tem o coração a bater normalmente, um coração que está bom, não teve ataque cardíaco, não teve AVC”, afirma a empresária e antiga deputada do MPLA, partido no poder em Angola desde a independência, em 1975. Tchizé dos Santos reforça que visitou o pai e que este, apesar de internado há quatro dias, “está vivo”.
Dirigindo-se a João Lourenço, que orientou o ministro angolano das Relações Exteriores para viajar até Barcelona para acompanhar o estado de saúde do ex-chefe de Estado, aconselhou o Presidente angolano a preparar o seu próprio funeral e avisou que “ninguém vai permitir que se desliguem as máquinas”. Acusou ainda João Lourenço de querer retirar dividendos políticos, “para aparecer em grande e meterem bandeiras do MPLA em cima do caixão” de José Eduardo dos Santos
Alguém “que está extremamente decepcionado consigo e com o MPLA, está extremamente triste e não ia fazer campanha para vocês”, prosseguiu Tchizé dos Santos, aludindo às eleições gerais marcadas para 24 de Agosto “Provavelmente iria mesmo querer ver alternância política”, rematou.
O conflito entre João Lourenço e alguns dos filhos do seu antecessor teve início quase após a tomada de posse, em Setembro de 2017, agravando-se com os processos em tribunal que contra a empresária Isabel do Santos, ainda em curso, e Filomeno dos Santos, já julgado e condenado, mas aguardando recurso depois de ser condenado a uma pena de prisão no âmbito do caso que ficou conhecido como “500 milhões”
Por seu lado, Tchizé dos Santos saiu do país em 2019 por, alegadamente, correr risco de vida, foi suspensa do comité central e acabou por perder também o seu mandato de deputada na bancada do partido do poder, MPLA.
As duas filhas de José Eduardo dos Santos têm manifestado publicamente as suas divergências com o regime, afirmando ser vítimas de perseguição e acusando o governo angolano de usar a justiça de forma selectiva para atingir familiares e outras pessoas próximas do seu antecessor.