Rússia mais perto de entrar em incumprimento da dívida
Há credores que dizem não ter sido reembolsados. Moscovo alega que o incumprimento é uma “farsa”, por ser uma consequência das sanções.
A Federação Russa está mais próxima de entrar em incumprimento da dívida soberana. Até ao início desta segunda-feira ainda não pagou aos credores internacionais 100 milhões de dólares em juros, não sendo certo de que o consiga fazer nas próximas horas, por causa das sanções aplicadas ao sistema financeiro russo.
Inicialmente, a dívida deveria ter sido paga até 27 de Maio, o que não aconteceu. Depois dessa data seguiu-se um período de carência de 30 dias, que chegou ao fim ao início desta segunda-feira sem que a Federação russa tenha conseguido fazer chegar aos credores o montante dos juros em dívida.
Nada indica que o fará nas próximas horas. No entanto, a Reuters escreve que, como o prospecto da emissão dos títulos não especifica um prazo exacto (hora), há juristas que consideram que a Rússia ainda pode pagar até ao final do dia útil seguinte àquela data.
Para já, alguns credores (detentores dos títulos de dívida) afirmaram não ter recebido os juros que venceram nesta segunda-feira. Segundo a agência de notícias britânica, alguns dos investidores são taiwaneses.
Uma parte dos 100 milhões de dólares em causa (94,7 milhões de euros ao câmbio actual) está denominada em dólares norte-americanos e outra em euros.
O Ministério das Finanças russo afirma que efectuou os pagamentos nas duas divisas junto do serviço nacional de liquidação de títulos — também alvo das sanções internacionais dos Estados Unidos e da União Europeia — e alega que, com isso, cumpriu as suas obrigações.
O governo russo procura, ao mesmo tempo, responsabilizar os países ocidentais pelo facto de a Rússia estar a ser encarada como um Estado em incumprimento. “Qualquer pessoa pode dizer o que entender (…) Qualquer pessoa que conhece a situação sabe que [o que se passou] não se trata, de forma alguma, de um incumprimento”, disse o ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, classificando o caso como uma “farsa”. A declaração de Siluanov foi citada pela Bloomberg,
É a primeira vez desde 1998 que a Rússia falha um pagamento. Durante a crise financeira e económica vivida durante a era de Boris Ieltsin, a Rússia falhou o prazo de reembolso de 40 mil milhões de dólares. Em 1918, depois da Revolução de Outubro, sob a liderança de Lenine, a Rússia deixou de pagar uma dívida herdada da era czarista.
Agora, com a guerra na Ucrânia a deixar Moscovo mais isolada, o incumprimento poderá dificultar o regresso da Rússia aos mercados de obrigações internacionais, aumentando o custo das operações que se vai financiar, refere o Financial Times.
Dez bancos russos não conseguem efectuar ou receber pagamentos internacionais através do sistema SWIFT, ficando impedidos de obter moeda estrangeira e de transferir activos para o exterior através desta via (contorná-la implica custos acrescidos e burocracia para efectuar as transacções).
Da mesma forma, o banco central nacional da Rússia não consegue aceder aos activos que tem armazenados numa série de outros países (dos 27 da União Europeia ao Reino Unido, Estados Unidos ou Canadá), tanto em bancos comerciais como noutros bancos centrais, estando com as reservas congeladas.