Redes sociais são a principal fonte de notícias para os mais jovens e há menos interesse: como está o jornalismo no mundo?

Instagram, TikTok e Snapchat são os novos jornais para a camada mais jovem, diz o novo relatório do Reuters Digital News. Em Portugal, a imprensa em papel continua em declínio e há menos interesse nas notícias, mas muita confiança nos media. O tema das alterações climáticas está a conquistar atenção.

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Em Portugal, a internet (redes sociais incluídas) é a principal fonte de notícias, ultrapassando a televisão e a imprensa em papel ANA BANHA/ARQUIVO

Os hábitos de consumo de notícias estão a mudar, sobretudo nos jovens. De acordo com o último Reuters Digital News Report (DNR), ​do Reuters Institute for the Study of Journalism, 39% dos jovens entre os 18 e 24 anos (chamados nativos sociais) utilizam como fonte principal de notícias as redes sociais.

O número de inquiridos nesta faixa etária que prefere aceder à informação directamente nos sites dos órgãos de comunicação ou através das suas aplicações é menor: fica-se pelos 34%. Desde que o relatório começou a analisar qual a principal fonte de notícias dos jovens, as redes sociais têm crescido progressivamente e, em 2019, ultrapassaram os sites noticiosos. A única excepção verificou-se na transição do ano de 2020 para 2021.

No panorama das redes sociais, o Twitter é a aquela a que a faixa etária dos 18 aos 24 anos mais recorre. No entanto, registou um decréscimo acentuado no último ano. Ao mesmo tempo que os mais jovens perdem o interesse no Facebook enquanto fonte de notícias (e a faixa etária dos 25 aos 34 anos se mantém fiel), redes sociais como o Instagram e o TikTok, Whatsapp e Snapchat ganham destaque.

Desde 2018 que o Instagram tem crescido como fonte de notícias. A partir de 2020 foi a vez do TikTok, Whatsapp e Snapchat. De acordo com o relatório, o uso do TikTok para aceder a notícias quintuplicou entre os jovens nativos sociais em apenas três anos. Mas apenas 15% dos utilizadores da rede social nesta faixa etária a utilizam com este objectivo.

As camadas mais jovens continuam a registar uma quebra no interesse pelas notícias e informação. Apenas um terço dos inquiridos entre 18 e os 34 anos diz confiar nas notícias na maioria das vezes e cada vez mais optam por evitar notícias.

De acordo com o DNR, isto acontece porque as notícias têm um efeito negativo no humor (afirmam 34% dos inquiridos) e, mais recentemente, porque há demasiada cobertura de temas políticos ou relacionados com a covid-19 (respondem 39% dos inquiridos). Alguns jovens (27%) dizem ainda evitar notícias por as considerarem tendenciosas ou não confiáveis.

Os temas que mais interesse despertam nos jovens relacionam-se com educação, celebridades e entretenimento. Para as pessoas com mais de 35 anos são temas como política, covid-19, notícias sobre temas internacionais e locais, desporto e ainda ambiente e alterações climáticas. Temas como justiça social, cultura, lifestyle e saúde mental são comuns a todas as idades.

Alterações climáticas: um tema a ganhar terreno

As notícias acerca do ambiente e alterações climáticas foram alvo de uma análise especial no relatório deste ano. Em Portugal, 53% dos inquiridos têm interesse em notícias que abordam este tema. O valor português equipara-se ao grego e ultrapassa países como Espanha, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos. Apenas na Roménia se regista um maior interesse (54% dos inquiridos).

A disparidade dos valores deve-se à “polarização”, expõe o DNR. Segundo a análise, em países onde há diferenças políticas mais vincadas entre partidos de esquerda e de direita, há menos interesse geral em notícias sobre alterações climáticas.

Outro aspecto que pode influenciar estes dados deve-se ao impacto sentido pelas alterações climáticas nos próprios países, como é o caso da Grécia e de Portugal (onde se têm registado incêndios devastadores nos últimos anos).

Segundo os dados do DNR, globalmente, a faixa etária mais nova (18 a 24 anos) defende que os órgãos de comunicação devem assumir uma posição clara a favor de acções contra as alterações climáticas (opondo-se aos maiores de 55 anos, que defendem que os órgãos devem apresentar vários pontos de vista).

Portugal: menos interesse nas notícias, muita confiança nos media e preocupação com as fake news

Em Portugal o interesse geral pelas notícias diminuiu significativamente – menos 18% face a 2021. Segundo o relatório, esta diminuição pode ser consequência de um foco noticioso excessivo sobre a covid-19 entre Dezembro de 2021 e Janeiro deste ano.

Num país onde a imprensa escrita (em papel) continua em declínio (como fonte de notícias, passou de 47% para 22% em apenas sete anos), a internet tornou-se a principal fonte de notícias, incluindo também as redes sociais. Esta é a fonte de 79% dos inquiridos e ultrapassou a televisão em cinco pontos percentuais. No entanto, apenas 12% dos portugueses paga pelas notícias online que consome. Esta percentagem é igual à registada no país vizinho.

Em Espanha, tal como em Portugal, a internet é a fonte de notícias mais usada e a televisão está em declínio (principalmente na faixa etária mais jovem). No entanto, os dados relativos à imprensa mantêm-se estáveis (26%), contrariando o declínio português.

Os portugueses continuam a ser dos povos que mais confiam nas notícias (61%). O país está em segundo lugar entre os 46 inquiridos, apenas atrás da Finlândia. Espanha, por sua vez, ocupa o 39.º lugar, já que apenas 32% dos espanhóis confiam nos meios de comunicação do país.

O meio de comunicação em que os portugueses mais confiam é a RTP (com 78%), seguindo-se a SIC Notícias e o Jornal de Notícias. O PÚBLICO assume o sétimo lugar (com 73%) no universo dos órgãos de comunicação e o terceiro na área da imprensa escrita.

Em Portugal apenas cerca de um terço dos inquiridos acredita que os media são independentes de influências externas (comerciais ou políticas). Os dados do relatório avançam ainda que 71% dos portugueses continuam “muito preocupados” com as fake news (notícias falsas) online, sendo a covid-19 o tema onde encontram mais desinformação.

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