População de lince-ibérico continua a crescer: são mais de 1300 entre Portugal e Espanha
Na viragem do milénio, a espécie esteve perto da extinção. Agora, existem 1365 linces-ibéricos, 15% deles em Portugal. Só em 2021 nasceram 70 crias em solo nacional.
Depois de quase terem ficado extintos na década de 1990, os linces-ibéricos vão agora coleccionando boas notícias: a sua população continua a crescer e estabilizaram-se em mais de 1000 indivíduos, segundo os dados do censos da população desta espécie relativo a 2021, apresentado esta segunda-feira. Só em Portugal existem 209 linces-ibéricos, com 70 crias nascidas no ano passado. Na Península Ibérica, há agora um total de 1365 linces.
É um número que dá esperança na recuperação desta espécie, sobretudo tendo em conta que poucos linces restavam em 1990: eram menos de 100 entre Portugal e Espanha. Desde a década de 1950 até 2004 que a área de distribuição de linces-ibéricos foi diminuindo, em grande parte por causa da caça por humanos e do declínio da presa preferida desta espécie: o coelho-bravo.
Foi por isso que se começou a fazer a reintrodução da espécie na natureza e a sua reprodução em cativeiro – sempre longe de humanos para que depois possam voltar à natureza de forma segura. Agora, os dados divulgados pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) mostram que existem 1156 linces-ibéricos em Espanha e 209 em Portugal (15,3% do total). Ao todo, nasceram 500 crias de lince-ibérico em 2021.
Em 2021, estavam registados 13 núcleos populacionais destes linces e só um deles está em Portugal, no vale do Guadiana. Espanha tem cinco núcleos em Andaluzia, três em Castilla-La Mancha e quatro na Estremadura. Ainda assim, Portugal regista uma das maiores taxas de fertilidade destes linces: as 31 fêmeas reprodutoras cá existentes deram à luz 70 pequenos linces.
Em Portugal, estes linces já alargaram a sua área de distribuição nos últimos anos e foi por isso que os linces Sidra e Salao foram o segundo casal de linces a serem largados no Algarve, em Maio deste ano, quando antes só eram no Alentejo. Os linces libertados na natureza são acompanhados através de uma coleira com radiotransmissores e a decisão de soltar este casal no Algarve foi tomada precisamente depois de se perceber que era para aí que os linces se estavam a dirigir. Era onde encontravam alimento e condições para se reproduzirem e correrem.
Além da reintrodução na natureza e da reprodução em cativeiro, há outras características necessárias para que o lince-ibérico continue a vingar em modo selvagem: é preciso que os habitats estejam em boas condições, que haja água e alimento, que haja diversidade genética entre eles (daí que muitos linces criados em Espanha sejam libertados em Portugal e vice-versa) e também é preciso que não sejam caçados nem atropelados.
“Queremos acreditar que todo o trabalho que foi feito vai permitir dizer que o lince foi salvo da extinção”, comentava em Maio o presidente do ICNF, Nuno Banza, pouco depois da libertação em Alcoutim dos dois linces-ibéricos vindos de Espanha. E, mesmo reunidas todas as condições para que estes linces prosperem, continua a haver outro factor em jogo: “Precisamos de tempo.”