João Rui de Sousa (1928-2022): “poeta de uma elegância clássica”

O autor morreu na sexta-feira em Lisboa, aos 93 anos. Deixa uma extensa obra poética, iniciada em 1960 com Circulação, e estudos sobre Fernando Pessoa ou António Ramos Rosa.

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O poeta e ensaísta João Rui de Sousa morreu esta sexta-feira, aos 93 anos, em Lisboa, onde nascera no dia 12 de Outubro de 1928. Autor de uma extensa obra poética, representada nas principais antologias de poesia portuguesa contemporânea, deixou ainda vários volumes ensaísticos, incluindo o livro Fernando Pessoa – Empregado de Escritório (1985).

Revelado como poeta com dois volumes publicados em 1960 – a colectânea Circulação e o livro-poema A Hipérbole na Cidade –, a sua poesia caracteriza-se, resume Jorge de Sena no verbete que lhe dedica na terceira série da antologia Líricas Portuguesas, por uma “grande arte de metrificação fluente, severidade da expressão irónica, viril secura no manejo das metáforas, e um moralismo áspero que nunca se concede a facilidade do protesto retórico”.

Atravessada desde o início por preocupações éticas e sociais, mas mantendo as distâncias do neo-realismo, a sua poesia enraiza-se na tradição modernista e nela confluem o rigor construtivo e ocasionais ímpetos surrealizantes.

Tendo inicialmente concluído um curso técnico agrícola, licenciou-se depois em Ciências Históricas e Filosóficas pela Faculdade de Letras em Lisboa. Começou em 1982 a trabalhar na Biblioteca Nacional, como investigador no departamento de espólios literários, e ali se manteve até à sua aposentação em 1993.

Colaborador em inúmeras revistas e jornais, foi um dos fundadores da Cassiopeia, onde publicou, em meados dos anos 50 os seus primeiros poemas, e que dirigiu com um grupo de poetas de quem foi próximo e que incluía José Bento ou António Ramos Rosa, a quem dedicou o livro António Ramos Rosa ou O Diálogo Com o Universo (1998).

O primeiro período da sua poesia fecha em 1962 com A Habitação dos Dias, a que se seguiram mais dois livros publicados já no início da década seguinte: Meditação em Samos e Corpo Terrestre. E se nos anos 80 publica apenas uma compilação da sua obra, acrescida de um conjunto de inéditos – O Fogo Repartido –, terá na década seguinte a sua fase mais produtiva, com a publicação de seis novos títulos, depois reunidos, como todos os anteriores, em Obra Poética 1960-2000, que foi publicada na D. Quixote com um prefácio de J. B. Martinho e recebeu o prémio PEN.

Desde então, João Rui de Sousa publicou ainda Lavra e Pousio (2005), Quarteto para as Próximas Chuvas (2008) e, quando já era quase nonagenário, Ardorosa Súmula.

A sua morte foi lamentada por Marcelo Rebelo de Sousa na página oficial da presidência da República, numa nota onde descreve João Rui de Sousa como “poeta de uma elegância clássica, elíptico, metafórico, meditativo” e recorda o seu envolvimento na revista Cassiopeia.

Em 2012, o autor recebeu o Grande Prémio de Vida Literária, atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores e patrocinado pela Caixa Geral de Depósitos, que reconhece “uma carreira excepcional na literatura portuguesa”.

O corpo do poeta foi este sábado à tarde para a Igreja de Arroios, em Lisboa, e o funeral terá lugar no domingo, às 15h.

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