Reserva Federal sobe taxa de juro em 0,75 pontos
Autoridade monetária dos EUA acelera aplicação da política de combate à inflação com maior subida de taxas desde 1994.
Cumprindo aquilo que eram, desde que se ficaram a conhecer os números da inflação de Maio, as expectativas dos mercados, a Reserva Federal dos EUA (Fed) endureceu esta quarta-feira o seu combate à actual escalada de preços, subindo em 0,75 pontos a sua principal taxa de juro de referência.
No final da reunião de dois dias do comité que decide a política monetária nos EUA, os responsáveis da Fed anunciaram que a taxa de juro a que a instituição injecta liquidez na economia passou a ficar situada no intervalo entre 1,5% e 1,75%. É uma subida de 0,75 pontos percentuais, a maior registada na Fed desde 1994.
Até há alguns dias, a expectativa era a de uma repetição da subida das taxas em 0,50 pontos realizada em Maio, naquele que seria o cenário mais provável para a reunião desta quarta-feira, mas a partir do momento em que, na passada sexta-feira, se ficou a saber que a taxa de inflação nos EUA subiu para 8,6% em Maio e que os indicadores relativos à expectativa futura da inflação continuam a subir, o cenário que passou a ser considerado mais credível foi mesmo uma acção mais agressiva da Fed, com uma subida de 0,75 pontos. Algo que agora se veio a confirmar.
No comunicado em que anunciou a decisão, a entidade liderada por Jerome Powell afirma que "a inflação continua elevada, reflectindo os desequilíbrios entre a oferta e a procura relacionados com a pandemia, os preços de energia mais altos e pressões mais gerais sobre os preços”.
A redobrada determinação da Fed em lutar contra a inflação fica ainda evidente no facto de os seus membros preverem agora que a taxa de juro se situe nos 3,8% no final deste ano, quando em Março a expectativa era de apenas 1,9%, um nível já praticamente atingido.
Ao contrário do que Jerome Powell tem vindo a defender, é agora também mais evidente que, na Fed, a confiança na capacidade de a economia norte-americana evitar, num cenário de subida das taxas de juro, uma recessão e um aumento forte do desemprego é cada vez menor.
Embora ainda nenhum dos seus responsáveis antecipe uma recessão, a previsão de crescimento em 2023 e 2024 foi revista em baixa, antecipando-se também o início de uma subida do desemprego, que até agora se tem mantido muito baixo.
Nas últimas semanas, e principalmente durante os primeiros dias desta semana, a expectativa de uma subida mais acelerada das taxas de juro nos EUA (e também na Europa), como a que se veio agora a confirmar, tem vindo a conduzir os mercados accionistas mundiais para quedas significativas, que chegaram a ser superiores a 20% desde o início deste ano em Wall Street. O receio dos mercados é, precisamente, que uma política monetária muito restritiva venha a empurrar a economia para uma recessão.