OMS pede alteração de nome da varíola-dos-macacos, mas decisão oficial é de outra entidade

Depois de 29 investigadores, incluindo portugueses, apelarem para a alteração de nome do vírus e das suas variantes, OMS vai avançar. A decisão não é da OMS, mas pode ser adoptado um novo nome na comunicação ao público.

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A OMS vai reunir na próxima semana para definir se este surto é uma emergência pública global Reuters/POOL

A Organização Mundial da Saúde vai avançar com o pedido de alteração do nome do vírus e das variantes da varíola-dos-macacos. A informação foi avançada pela BBC, depois do anúncio da reunião de emergência marcada para a próxima semana, onde se irá discutir se este surto é uma emergência internacional.

Apesar do avanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), as alterações oficiais não são feitas por esta entidade, mas sim pelo Comité Internacional de Taxonomia de Vírus. No entanto, tal como aconteceu na covid-19, a OMS pode comunicar através de um nome, mantendo-se a nomenclatura oficial inalterada.

A notícia surge ainda no seguimento de uma publicação de 29 investigadores, entre os quais quatro portugueses, em que se pede a alteração do nome do vírus e das suas variantes e são propostas novas nomenclaturas.

Estes pedidos de alterações surgem sobretudo devido à nomeação das variantes da varíola-dos-macacos (monkeypox ou VMPX) como “África Ocidental” ou “bacia do Congo”, remetendo para o continente africano – o que é inexacto, apesar de as variantes estarem presentes sobretudo nessas regiões.

Esta quarta-feira já se registam mais de 1900 casos confirmados em países onde o vírus não está presente habitualmente. Portugal soma 241 desses infectados.

O que propõem os investigadores?

No final da semana passada, 29 investigadores que têm estado envolvidos na sequenciação genómica do vírus da varíola-dos-macacos publicaram no fórum de discussão científica Virological um pedido de alteração das nomenclaturas do vírus e das variantes.

Os autores propõem que passem a existir três variantes de VMPX. Assim, em vez de existir a variante da África Ocidental e a variante da bacia do Congo, seriam estipuladas a variante 1 (correspondente à actual bacia do Congo), a variante 2 e 3 (ambas relativas à de África Ocidental). No caso destas duas últimas, a criação de uma nova variante reflecte a transmissão entre humanos. Ou seja, a variante 3 inclui os vírus dos surtos em humanos de 2017, 2018 e 2022.

Além desta alteração, também é sugerida a alteração de VMPX para hVMPX. Ou seja, no que se refere aos surtos desde 2017 (no Reino Unido, Israel, Nigéria, Estados Unidos, Singapura e o actual surto) é proposto que seja incluído o “h” de humano na nomenclatura.

“Como os vírus desta variante têm sido transmitidos de pessoa para pessoa em dezenas de países e potencialmente durante múltiplos anos, propomos que isto represente uma rota diferente de transmissão face a anteriores casos de VMPX em humanos e deve, portanto, ter um nome diferente”, apontam.

Os investigadores acrescentam que uma nomenclatura diferente facilitará a comunicação sem criar conotações negativas através da linguagem.

No texto publicado, é referenciado que o VMPX não se transmite regularmente de pessoa para pessoa no continente africano e que a nomenclatura do vírus além de inexacta é também discriminatória e estigmatizante.

“Acreditamos que uma nomenclatura que seja neutra, não discriminatória e não estigmatizante será mais apropriada para a comunidade global de saúde”, escrevem.

Entre os assinantes deste pedido estavam Joana Isidro, João Paulo Gomes, Miguel Pinto e Vítor Borges, investigadores do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa).

“Enquanto o nome formal das espécies de vírus está na alçada do Comité Internacional de Taxonomia de Vírus, acreditamos que esta é uma oportunidade para quebrar com o nome de monkeypox e as suas associações históricas”, concluem.

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