Portugal atinge os 231 casos de varíola-dos-macacos. Há mais de 1500 em todo o mundo
Polónia, Roménia e Venezuela confirmam primeiros infectados, quando Portugal soma mais 22 casos confirmados. Em Itália e na Alemanha, a presença de fragmentos de vírus no sémen podem indicar uma nova rota de transmissão.
São já 231 casos confirmados de varíola-dos-macacos em Portugal. A Direcção-Geral da Saúde anunciou hoje mais 22 pessoas infectadas em território nacional. Com estes casos, já são mais de 1500 confirmados em países onde o vírus não é endémico - uma marca atingida em pouco mais de um mês.
Todos os infectados em Portugal são homens, a maioria com menos de 40 anos. Quase todos estão referenciados na região de Lisboa e Vale do Tejo, com casos pontuais no Norte e no Algarve.
Em todo o mundo, a maioria das pessoas infectadas com o vírus da varíola-dos-macacos (monkeypox ou VMPX) são homens, mas também existem mulheres com casos confirmados, não sendo uma doença exclusivamente masculina.
Portugal continua a ser o país com mais casos confirmados por milhão de habitantes, numa altura em que Polónia, Roménia e Venezuela anunciam os primeiros infectados no seu território. São já mais de 30 países em todos os continentes, com excepção da Antárctida, que contam com casos de VMPX.
Esta terça-feira foi ainda confirmada a compra de vacinas por parte da União Europeia, com a aquisição de 110 mil doses para os países afectados. As vacinas chegarão no final deste mês de Junho, de acordo com a comissária europeia para a saúde, Stella Kyriakides. Não existem ainda informações sobre como serão distribuídas, nem qual a estratégia da Direcção-Geral da Saúde (DGS) para a administração das doses de vacina contra o VMPX que forem atribuídas a Portugal.
A transmissão da doença tem sido bastante superior ao que seria previsível, dado que a mesma só ocorre através de contacto próximo, gotículas (tosse ou espirros) ou contacto com material contaminado. Alguns dos focos de exposição já avançados pelas autoridades de saúde, incluindo pela DGS, apontam locais para encontros sexuais e homens que têm sexo com outros homens como pontos de transmissão do vírus, mas tal não é exclusivo.
De acordo com a DGS e o Centro Europeu de Controlo de Doenças, as pessoas que têm múltiplos parceiros são a fatia da população que pode enfrentar maiores riscos.
Vírus em sémen pode levantar hipótese de infecção sexual
Do que conhecemos da doença, esta não é sexualmente transmissível. Ainda assim, alguns casos de pacientes em Itália e na Alemanha poderão indicar o contrário: foram encontrados fragmentos do VMPX em sémen. Este é um dado inconclusivo e muito preliminar, mas que pode reforçar a hipótese de o vírus poder ter agora uma forma de transmissão sexual.
A investigação italiana, publicada na revista científica Eurosurveillance, foi conduzida em quatro pacientes por uma equipa do Instituto Spallanzani, um hospital e centro de investigação em Roma (Itália). Até ao momento, a transmissão conhecida do VMPX realiza-se através de contacto próximo, gotículas respiratórias ou contacto com material contaminado, mas é agora levantada a hipótese de haver transmissão através de sémen ou secreções vaginais.
De acordo com Franceso Vaia, director do centro de investigação em declarações à Reuters, isto não é prova de que haja alterações no modo de transmissão. “No entanto, a existência de um vírus infeccioso no sémen é um factor que desequilibra a balança para a hipótese de que a transmissão sexual é um dos meios através dos quais este vírus é transmitido”, acrescenta.
Houve mais dois casos de pacientes com detecção de ADN do vírus no sémen, na Alemanha, num artigo científico que ainda não foi revisto por outros investigadores da mesma área. No entanto, a existência de ADN de um vírus no sémen não implica a presença da infecção por si só, sendo necessária mais investigação para se perceber se existe ou não uma transmissão sexual do VMPX – abrindo uma nova rota de transmissão da doença.