Separatistas pró-russos de Lugansk começaram a enviar cereais ucranianos para a Rússia

A administração pró-russa da região de Lugansk admitiu o envio de cereais ucranianos para a Rússia, garantindo que, posteriormente, pagará aos agricultores. A Ucrânia, por sua vez, denuncia este “roubo” como “saque ilegal dos seus recursos”.

Foto
Separatistas de Lugansk garantem que restauraram a ferrovia que liga a Rússia ao maior armazém de cereais ucraniano Reuters/EDGAR SU

Os separatistas pró-russos da autoproclamada república de Lugansk começaram esta sexta-feira a enviar 650 toneladas de cereais ucranianos para a Rússia a partir da cidade de Staroblisk, no norte da região, noticiou a agência oficial russa TASS.

A TASS cita declarações do líder separatista de Lugansk, Leonid Pásechnik, à imprensa russa em Staroblisk, ocupada por milícias pró-russas e tropas russas na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de Fevereiro.

A cidade está localizada a cerca de 60 quilómetros a nordeste de Severodonetsk, actualmente palco de intensas batalhas entre o exército ucraniano e os invasores russos. A Ucrânia denunciou o roubo de cereais ucranianos pela Rússia como saque ilegal dos seus recursos.

O assessor do chefe da administração pró-Rússia de Staroblisk, Pavel Kharlamov, disse à TASS que os cereais são enviados para a Rússia por via ferroviária.

Aquele dirigente acrescentou que, em dois meses, Staroblisk enviará cerca de 200.000 toneladas de trigo e semente de girassol para a Rússia, que supostamente pagará aos agricultores pela “venda” dos seus produtos.

“Restauramos a ferrovia que nos liga ao maior armazém de cereais da região e que não já não funcionava há oito anos, e trouxemos os equipamentos necessários”, explicou o assessor.

"Houve um problema com o material, mas já foi resolvido: há, neste momento, cerca de 600 comboios de carga que foram montados com peças recolhidas em todo o norte do Cáucaso e no do Distrito Federal Sul” para o transporte dos cereais para a Rússia, concluiu.

Quanto à crise alimentar e à não-exportação de cereais por parte da Ucrânia para o resto do mundo, a Rússia continua a culpar a inacção do Governo ucraniano. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, diz que cabe à Ucrânia fazer a desminagem do Mar Negro para que seja permitida a saída dos navios de exportação em segurança.

As Nações Unidas, por sua vez, já elaboraram um plano, que inclui a Turquia, que visa libertar os portos ucranianos do Mar Negro e permitir que cerca de 22 milhões de toneladas de cereais armazenados sejam exportadas devidamente e sem complicações para enfrentar a crescente crise alimentar global. A Turquia vê no plano elaborado pelas Nações Unidas a solução para travar a crise alimentar global e tem-se mostrado disponível para negociações, caso a Rússia e a Ucrânia também o façam.

A maioria das exportações de cereais ucranianos foi interrompida desde que a Rússia lançou uma invasão militar no dia 24 de Fevereiro sobre a Ucrânia e bloqueou os portos do país no Mar Negro, através dos quais 90% do comércio do quinto maior exportador de cereais do mundo costumava fluir.

A súbita paralisação das exportações levantou preocupações de que a guerra na Ucrânia poderia desencadear uma crise global de alimentos e levar a fome a milhões de pessoas. A ONU, posteriormente, apelou à Rússia e à Ucrânia, bem como à Turquia, membro da NATO – que tem autoridade sobre o tráfego marítimo que entra e sai do Mar Negro através do estreito de Bósforo – para ajudar a elaborar um corredor.

Segundo a ONU, a Rússia e a Ucrânia fornecem cerca de 40% do trigo consumido em África, onde os preços já subiram cerca de 23%. Moscovo continua a culpar as sanções ocidentais pela crise alimentar global.