As cicatrizes de Pedrógão são o desassossego de Maria, o corpo de Vítor e a resignação de Alzira

Mesmo numa região habituada a ver arder a floresta, o ano de 2017 deixou marcas na paisagem, nas pessoas e nas coisas. Talvez as mais profundas sejam aquelas que não se vêem. O incêndio de Pedrógão Grande foi há cinco anos. Fez 66 mortos e mais de 250 feridos.

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ADRIANO MIRANDA

Vítor Neves lembra-se de tudo. Os últimos anos têm sido de adaptação. “No princípio foi um pouco difícil. Estava habituado a fazer coisas que agora não consigo”, diz, sentado no sofá de casa, numa aldeia de Castanheira de Pêra, não muito longe do terreno que comprou e que agora lhe ocupa os dias. “A mulher ainda ralha comigo, que eu não paro quieto”, atira, num sorriso reservado. Mas Vítor mantém consigo o mesmo princípio que o fez atravessar os meses no Hospital Rovisco Pais, na Tocha, onde esteve a recuperar das graves lesões que sofreu no incêndio de Pedrógão Grande, há quase cinco anos: “Uma pessoa tem de ter vontade. Se não tiver vontade, o que é que anda a fazer?”

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