Wool, o festival que “nunca existiria sem a comunidade”, volta às paredes da Covilhã
Onze anos depois da primeira edição, as paredes da Covilhã estão prontas para pintar mais um capítulo na história do Wool. De 11 a 19 de Junho, a cidade beirã volta a receber o festival de arte urbana mais antigo de Portugal.
Um percurso circular de 300 metros de diâmetro com mais de 60 obras em exibição. É assim que se desenham os contornos da edição de 2022 do festival Wool. No festival de arte urbana mais antigo de Portugal, não existem cabeças-de-cartaz.
“É sempre difícil falar em destaques. O Wool é um todo”, explica Lara Seixo Rodrigues, organizadora do festival, ao P3. Numa edição completamente ibérica, o festival divide as atenções entre os artistas nacionais e nuestros hermanos. A pintar em casa, está o projecto Ruído, dos artistas Draw e Contra e o ilustrador penafidelense Francis.co. Do lado de lá da fronteira chega a arte que desafia a gravidade de Cinta Vidal e a obra do duo Reskate. Aos últimos, a organização do festival apresentou o desafio de fazer um trabalho sobre transição energética e sustentabilidade energética dos territórios.
“Pretende-se convocar uma reflexão, uma discussão do que é esta questão da exploração do lítio que está a acontecer na nossa zona. É uma discussão que tem de ser tida e a arte também serve para isto”, explica Lara Seixo Rodrigues.
Além da vertente interventiva, a edição deste ano do Wool abre dois espaços de retrospectiva sobre a vida do festival e sobre a “transformação do território, da comunidade e das gentes, através da arte”. A 11 de Junho, será apresentado o livro WOOL -Covilhã Arte Urbana 2011-2021 que conta a história dos dez primeiros anos de festival e “celebra a comunidade”. No dia 16, será inaugurada a exposição do rolo de desenho no qual Nuno Sarmento desenhou o percurso do Wool até 2021. Além da versão original de 26 metros, que será apresentada no New Hand Lab, uma versão aumentada será exposta numa tela de 56 metros na ponte pedonal sobre a ribeira da Carpinteira.
De olhos voltados para a década de trabalho que se completou, Lara sublinha ter-se feito um “caminho de luta, de muita resistência, muito amor à camisola, uma paixão muito grande”. Reforça ainda a importância de fazer o festival na Covilhã: “Temos uma grande variedade de bens culturais, arquitectónicos, linguísticos e etnográficos. O facto de ser um projecto que dura há tanto tempo e que tem tentado resistir ao que é o cenário de quem trabalha no interior, acaba por fortalecer o festival.”
Como tem vindo a ser natural no Wool, as actividades de maior proximidade à comunidade, como o workshop Dar Forma Às Palavras e a acção comunitária Imaginar à mão — ambos orientados por Mantraste —, voltam a impor-se na programação do festival. “É um dos objectivos concretos que temos na fundação do festival. O envolvimento da comunidade, despertar o interesse deles para a arte, para a cultura”, explica Lara Seixo Rodrigues. A 15 de Junho haverá também uma sessão de conversa com os artistas presentes no Wool.
E se o festival se faz perto das pessoas, também vive das sugestões e pedidos do público. A 16 de Junho, vai ser exibido o filme-concerto A Covilhã Industrial, Pitoresca e seus arredores de Artur Costa de Macedo, com banda-sonora original dos First Breath After Coma. A organização explica: “Foi uma exigência que as pessoas fizeram. No ano passado estávamos ainda com algumas restrições. Na altura captamos som e imagem do que foi o concerto e vamos apresentar novamente esse momento especial.”
Fora das paredes e dos murais, nas ruas da Covilhã, ecoará ainda a música de Fred, baterista de projectos como Banda do Mar e Orelha Negra, que sobe a palco a 18 de Junho, no Miradouro das Portas do Sol.
As visitas guiadas serão feitas a pé ou em tuk-tuk, com um custo de dois e dez euros, respectivamente. As restantes actividades são de acesso gratuito. Todos os eventos e visitas guiadas do Wool , à excepção da exposição do rolo 10 Anos de Wool carecem de marcação ou inscrição prévia (através do email info@woolfest.org).
E se, 11 anos depois do nascimento, ainda pode haver quem não tenha tropeçado no novelo de arte do Wool, Lara Seixo Rodrigues não tem dúvidas: “Quem não conhece, tem mesmo de conhecer.”