19 dias para a Conferência dos Oceanos: Portugal palco do combate às alterações climáticas
Da nossa língua vê-se o mar, como nos lembrou Vergílio Ferreira. O mar português imenso, com 2500 quilómetros de costa, uma imensa variedade de ecossistemas e recursos que importa proteger adequadamente, e uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas do mundo, que devemos usar, cada vez mais, de forma sustentável.
A nossa relação com o oceano tem permitido fazer do longe perto, aproximando pessoas, globalizando o comércio e contribuindo para o desenvolvimento da ciência e do conhecimento, desde há séculos, e também no presente e projetando para o futuro.
Celebramos hoje o Dia Mundial dos Oceanos, honrando esta nossa natureza intrinsecamente marítima, assumindo a gestão sustentável dos oceanos como uma prioridade estratégica fundamental, rumo a Lisboa, em contagem decrescente para a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas (UNOC).
Lançando um repto à mudança de comportamentos e à intensificação da ação oceânica, Portugal e o Quénia serão coanfitriões da UNOC, na capital portuguesa, de 27 de junho a 1 de julho, em cumprimento de um compromisso compartilhado de acelerar a implementação da Agenda 2030 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), designadamente o ODS 14 [Proteger a vida marinha], que nos vincula à responsabilidade de conservação e utilização, de forma sustentável, dos recursos do oceano.
O mar, com os cinco oceanos que unem todos os continentes e países, é valorizado pelos especialistas como o maior sistema de suporte da vida na Terra, o maior regulador da temperatura na atmosfera e o maior poço de carbono, bem como o meio mais propício à alimentação de uma população mundial crescente e à produção de energia renovável, cuja preservação é objetivo comum. Um planeta viável requer, além das intervenções locais, uma agenda colaborativa global assente na complementaridade da ação climática e da ação oceânica, alavancada em parcerias e ideias concretas, apostando na ciência e em soluções económicas inovadoras.
Neste contexto, é importante reconhecer e valorizar o capital natural marinho como ferramenta de ação ambiental e de crescimento económico sustentável. A valorização das soluções naturais e do restauro dos ecossistemas não é apenas uma medida ambiental e particularmente adequada à preservação das espécies e ao reforço da capacidade de absorção de gases com efeitos de estufa ou ao combate à acidificação e aquecimento dos oceanos; é, também, um novo domínio com um elevado potencial de crescimento, criação de postos de trabalho e reforço da autonomia estratégica em setores conhecidos e outros por desenvolver, baseado num novo paradigma de desenvolvimento económico mais limpo e sustentável.
Espera-se que os debates na Conferência e nas centenas de eventos associados, que decorrerão em toda a cidade de Lisboa, mas também nos municípios de Cascais e de Matosinhos, sobre questões como a poluição marinha, a pesca sustentável, a transferência de tecnologia marinha, as economias sustentáveis baseadas no oceano, possam proporcionar um compromisso mais ambicioso da comunidade internacional para encontrar soluções concretas conjuntas a favor da saúde dos mares.
A partir de Nova Iorque onde, na sede da ONU, participo hoje no evento que assinala este Dia dos Oceanos, a caminho da UNOC, partilho a minha convicção. A convicção de que a adoção da Declaração de Lisboa – orientada para a ação e focada em áreas de ação inovadoras e baseadas na ciência – criará o impulso político de que precisamos urgentemente para a aceleração da implementação do ODS 14, e que os trabalhos constituirão um reforço da integração da dimensão oceânica da ação climática nos debates da 27.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, COP 27, que decorrerá no outono, no Egito.
A Conferência de Lisboa será recordada pela forma como enlaça o combate às alterações climáticas ao cuidado pelo oceano, e pela forma como demonstra que não faltam possibilidades financeiras, científicas, técnicas e políticas para realizarmos o potencial sustentável e saudável do mar. É isso que o mundo sempre esperou de Portugal.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico