Ucrânia tira Guerra e Paz dos programas escolares e quer “descolonizar” toponímia

Em várias cidades ucraniana, há movimentos para retirar nomes de russos famosos das ruas, praças e até estações de metro.

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Leo Tolstoi sai das ruas e dos currículos ucranianos Daniel Rocha

A invasão da Ucrânia pela Rússia vai levar a alterações nos currículos escolares e também na toponímia de algumas cidades ucranianas. O Ministério da Educação anunciou, nesta terça-feira, mudanças em várias disciplinas: Defesa da Ucrânia (antes chamada Defesa da Pátria); Literatura Mundial; História da Ucrânia e História Mundial. A partir do dia 15 de Junho, as obras russas serão retiradas dos programas curriculares das escolas na Ucrânia. E vários centros urbanos estão a analisar os milhares de nomes das suas ruas para os “descolonizar”.

A invasão russa tornará os programas escolares mais práticos e exige que sejam actualizados. A informação foi avançada por Andriy Vitrenko, vice-ministro da Educação e Ciência, na televisão ucraniana. “Reforçaremos a educação nacional-patriótica e existirá um novo bloco sobre segurança anti-minas”, explicou Vitrenko, acrescentando que o objectivo do Governo é alertar as crianças para o perigo das minas deixadas pelas forças de Moscovo no terreno.

Além disso, “não será estudado na Ucrânia nada que glorifique as tropas russas, tudo desaparecerá do programa escolar” — Vitrenko refere-se, por exemplo, ao romance histórico Guerra e Paz, escrito por Leo Tolstoi, que integrava o programa de Literatura Mundial. “A História da Ucrânia e a História Mundial estarão fundamentadas por documentos de arquivo ucranianos”, acrescenta. “A relação entre a nação ucraniana e o ‘mundo russo’ será escrita com base na verdade histórica.”

Adeus Tchaikovsky, adeus Pavlov

No mesmo dia em que o Ministério da Educação revelou esta intenção, a repórter do jornal norte-americano The New York Times, Erika Solomon, assina uma reportagem feita a partir de Lviv sobre o crescente movimento de ucranianos que quer “descolonizar” os nomes das ruas.

“Longe da frente oriental da Ucrânia, fustigada pela guerra, uma nova luta está a ser travada – não a partir das trincheiras, mas das ruas laterais arborizadas e das avenidas largas. É aí que o inimigo responde pelo nome de Pavlov. Ou Tchaikovsky. Ou Catarina, a Grande. Em toda a Ucrânia, as autoridades estão a dar forma a projectos para, como dizem, ‘descolonizar’ suas cidades”, começa por contar a jornalista.

A seguir, explica que a população anseia por se livrar dos nomes que evocam a história do Império Russo ou da União Soviética e que estão espalhados pelas ruas, praças e até estações de metro. “Estamos a defender o nosso país, também na linha de frente cultural”, disse ao jornal o vice-presidente da Câmara de Lviv, Andriy Moskalenko. O autarca integra uma comissão que analisou os nomes de mais de mil ruas da cidade. “Não queremos ter nada em comum com os assassinos”, disse ao jornal.

O movimento estende-se à capital do país, Kiev, onde a câmara municipal está a estudar a proposta para mudar de nome a estação de metro Leo Tolstoi, aproveitando para fazer uma homenagem ao poeta e dissidente ucraniano Vasyl Stus. A Praça Minsk (nome da capital da Bielorrússia) pode ser renomeada como Praça Varsóvia.

Embora o movimento ganhe força por toda a Ucrânia, não é totalmente pacífico. No caso do compositor clássico russo Tchaikovsky, que tem raízes familiares no país invadido e cujas obras, de acordo com alguns musicólogos, foram inspiradas na música folclórica ucraniana, não há consenso para alterar a toponímia. com Sónia Sapage

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