Desde 2010, pelo menos, que se tenta levar para o mercado automóvel o modelo de subscrição, sem grande sucesso. Porém nos últimos anos, a vulgarização desta lógica comercial em diferentes indústrias revela que a propriedade de um bem deixou de ser um factor crítico de sucesso e que o mundo começou a afeiçoar-se à ideia de pagar à medida que usa.
A marca Lynk&Co, que nasceu em 2016 pela mão de uma joint venture entre os suecos da Volvo e os chineses da Geely (que é, aliás, dona da Volvo Cars), é das primeiras a introduzirem este conceito na Península Ibérica. Fê-lo primeiro em Espanha, depois de outras cidades europeias, e irá tentar cativar consumidores portugueses em 2023.
Em 2022, já ninguém discute se é melhor a TV por subscrição ou a parabólica, se mais vale comprar CD ou assinar um serviço de música digital, nem há contestação ao chamado software-as-a-service, que não é mais do que o jargão inglês para a subscrição de programas informáticos. Aliás, a lógica “as a service” estende-se hoje em dia a praticamente tudo, desde a compra de férias à computação em nuvem, passando pelo transporte e entrega de bens em casa. E também ao car-as-a-service.
Ao contrário do renting, leasing, ALD e crédito, que estão nas mãos de locadoras, aqui são os próprios fabricantes de carros, sem intermediários, a tomar as rédeas da subscrição. Em 2018, quando lançou o programa Care by Volvo na Alemanha, esta marca abandonou o apelo à compra, com uma mensagem que sintetizava em cinco palavras as mudanças que estavam a ocorrer: “Não compre este carro. Subscreva-o.”
Nissan, Audi, Porsche, Jaguar, Genesis Motor (marca de luxo da coreana Hyundai), são alguns desses construtores, assim como Ford ou Mercedes. Começam a ter experiência acumulada, mas os programas ainda continuam a ser lançados forma faseada, por cidades ou regiões.
Cada marca define preços e regras. A Volvo só disponibilizava o XC40 para subscrição, a Porsche oferece todo um leque de modelos. Há, porém, uma constante: os carros são na maioria eléctricos ou híbridos plug-in. É uma opção coerente: quem não quer carro próprio, mas por vezes sente necessidade de usar um (olá, férias!), tem provavelmente uma consciência ambiental aguçada.
Depois do “sucesso” em Espanha, a Lynk&Co quer entrar em Portugal. Não se sabe quando exactamente. “Será em 2023”, resume Telma Negreiros, que acredita que a experiência doutras cidades mostra que este é um caminho sem volta. “Temos três mercados já amadurecidos, Suécia, Países Baixos e Itália. No início, apontava-se para a geração milennial como potencial cliente e estimávamos uns 9000 clientes até ao final de 2021. A verdade é que chegámos a Maio de 2022 com 103 mil”, destaca.
A Lynk&Co não tem stands, tem “clubes”. Têm uma função social, o que não é algo que se veja noutras marcas. Mas também servem para agendar um teste de condução. O acesso ao clube é livre. Mas usufruir do carro implica tornar-se membro e custa 500 euros por mês (tudo incluído), com um limite mensal de 1250km (o que não for gasto passa para o mês seguinte e cada quilómetro a mais é taxado a 15 cêntimos). Não há um período mínimo de subscrição (pode-se entrar e sair todos os meses).
Outra coisa que distingue este programa de concorrentes é que a “subscrição à Netflix” pode ser conjugada com um “empréstimo à Airbnb” - se subscreveu uma viatura mas por alguma razão não a utiliza, empreste-a a outros membros e cobre-lhes o tempo de empréstimo, reduzindo assim à sua mensalidade. A gestão dessa partilha é feita através de uma aplicação, à vista de todos, sem papeladas adicionais ou fricção.
Por agora, só haverá um modelo disponível, o Lynk&Co 01, um híbrido plug-in original de 2017. Trata-se de um SUV desenhado pela Volvo em cima da plataforma do XC40 e construído na China pela Geely. Vem em duas cores (preto ou azul) e com um motor 1.5 TDI, dispondo de uma autonomia em modo eléctrico de até 69km, alimentado por uma bateria de iões de lítio de 17,6 kWh, que demorará umas cinco horas a carregar se usar uma corrente de 230V. Também pode ser comprado (44.500 euros, já com IVA), diz a marca. Mas a aposta é a subscrição.